A SURPRESA DO MOHEL


O vilarejo amanhecia como sempre amanhecia. O sol despontava. Sentado na frente de sua pequena casa, o Mohel do vilarejo fumava um charuto, olhando para o nada. Sabia que nesse dia, ou no máximo, nos dois próximos dias, mais um filho de Deus nasceria ali. E mais uma vez, iria ele fazer valer o pacto sagrado. O prepúcio cortado. A aliança divina entre Deus e os homens.

O velho Lavi, já tinha vivido seus 67 verões. Vivia no vilarejo, desde que esse havia sido fundado na nova terra. Os membros do vilarejo viviam ocupados com seus negócios e trabalhos. Lavi havia feito a circuncisão de seu irmão mais novo, logo após a morte do pai. E desde então passou a ser um artista da prova carnal da aliança divina.

Mas seu talento procedia para além da sua fé, da crença na tradição e na perícia cirúrgica de suas hábeis mãos. Lavi tinha um fetiche. Obviamente o povoado não sabia disso. Nunca deveria saber.  Ele prosseguiria deixando famílias felizes e sendo feliz na concepção de seus desejos estranhos.

Paralelamente a essa história, outra interessante acontecia no pequeno vilarejo. Isack, um jovem menino de 11 anos ainda não era circuncidado. A comunidade ignorava esse fato ou fingia não saber. Sua família era tradicional e respeitada. Mas com passar do tempo, o trabalho tomou conta do tempo de todos, e apesar dos pesares, a tradição ficou em segundo plano.
        
Quando nasceu o menino, os pais logo fizeram uma viagem com o recém nascido. Antes dos seus oito dias, o tempo ideal para a circuncisão. O Mohel, por sua, vez não queria ser inconveniente. Mas vivia atormentando-se por saber que ali, no seu domínio, um menino vivia com prepúcio intacto, cobrindo a pequena glande de seu pênis. Mas maior do que a inquietude religiosa, a curiosidade por saber como era aquele jovem pênis, era o que mais atormentava Lavi.
      
Aí entramos no mundo regrado pelos fetiches do velho Mohel. Amava os paus de seus pequenos circuncidados. Amava o cheiro. Os diversos formatos. E aquele intocável o atormentava em seus sonhos. Incomodava-o. Deixava sua imaginação enlouquecida. Nesses momentos de desespero, Lavi descia até o porão de sua casa. Lá sua segunda habilidade era cultuada como sagrada.
     
Muitos prepúcios. Mas não eram só prepúcios. Logo após a cirurgia religiosa, Lavi desenhava os pequenos paus. Depois nos segredos de seu porão, punha-se a modelar, criar. Fazia sua arte em madeira, gesso ou argila. O acumulo dos prepúcios era justificado. Pois estes davam o toque final. O cheiro, a carne. Revestindo os esboços de materiais mortos.
      
Mas os momentos de calmaria proporcionados pela admiração pelos seus artesanais pênis, emoldurados por jovens inocentes prepúcios, estavam cada vez mais diminuindo. O jovem não circuncidado o deixava cada vez mais atordoado.
       
Resolveu então caminhar pelo vilarejo. Queria pela primeira vez ter uma troca de olhares, talvez palavras, com a criança que ainda não passara pelas suas mãos. E foi indo. E indo, encontrou o menino, em frente à sua casa. Brincando, jogando pedrinhas longe. Aproximou-se, bonachão e simpático. Ofereceu um doce. Conversou, jogou pedrinhas. E conquistou a confiança da estranha criança não circundada. Voltou a visitá-lo. Os pais trabalhavam até tarde. A velha avó caducava, mal enxergava, e vivia fazendo tarefas repetidas, como bordar panos de pratos com a mesma frase todos os dias, por horas.
      
Num dos encontros com o menino, o velho Mohel convenceu-o a ir até sua casa. Ajudado pela ausência dos pais e pela maluquice da avó, conseguiu a façanha realizar. Em sua casa, mostrava-se cada vez mais simpático. Resolveu então adrentar o assunto, e explicou toda a situação ao garoto. Que compreendia tudo. Sabia da sua condição, conhecia suas tradições. Mas sabia de algo mais que evitava contar. O velho insistiu. O jovem disse: A história é longa e complicada.

A criança parecia muito mais adulta e racional que o velho, que já se mostrava desesperado. O inocente prosseguiu: Tenho Agenesia Gonadal. Meu corpo é de homem, produz as mesmas coisas produzidas no seu corpo. No entanto não tenho pênis, tenho só testículos . Quando nasci, meus pais logo fizeram uma viagem. O motivo: minha cirurgia. Urino pelo cu. E nunca vou ter uma ereção.
      
O velho Isack, confuso e alucinado, fez a reza de sempre. E junto dela esbravejou: "hoje, verei e sentirei esse 'pauzinho'. E arrancarei seu  prepúcio. A aliança divina será realizada. E eu terei paz". E foi. Ao baixar as cuecas do menino. Viu as falas do mesmo se concretizarem. Ali não havia pênis algum. Apenas o jovem saco escrotal. Para mais drásticas as coisas se mostrarem, o medo que o jovem sentiu, o fez mijar-se. A urina amarelada saía pelo cu.

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