BRANCA DE SÊMEN E OS SETE DEPRAVADOS


I - O Nome

Branca de Neve, assim costumavam chamá-la os homens barbudos das docas quando queriam mesclar às suas conversas simples sobre as intempéries marinhas alguma ironia fina subentendida pelos nativos, mas arcana aos forasteiros. Branca de Sêmen, assim a ela se referiam quando as brincadeiras na casa de prazeres lascivos, Once upon a Time, surgiam fundidas aos vapores alcoólicos entremeados ao bafo pesado de peixes recém-pescados – ou às vezes nem tão recentemente mortos assim.

– Ouvi falar que nunca tomou um banho em toda a vida.

– Então deve ser parente sua!

E todos riam: dentes amarelos e arregaçados cuspiam para o ar inerte suas imundícies ébrias, pedaços de carne de veado mau passado e pão preto mofado comido com queijo vieux boulogne de baixa qualidade, servido com um vinho ainda pior, feito no outro extremo oposto do país, varavam também os ares; não sem que os marinheiros exibissem com gestos maquináticos aquela ou esta posição que melhor lhes apetecia quando em companhia de Branca de Sêmen.

Não se poderia imaginar, e creio não estar sozinha nessa conjectura, que o pai de Branca fosse capaz de dar a ela tamanha graça, pensou ele em algo um tanto quanto oposto, ou no mínimo mais romântico: Rosa Vermelha. Desejava, tal sua esposa, uma “criança que tivesse os lábios rubros como o sangue, encarnados e majestosos, desejosos e puros”. Como imaginar que os deuses iriam entender que o vermelho encarnado e bem conhecido pelos marinheiros – diga-se de passagem, e sem maiores pretensões – iria manifestar-se naqueles outros lábios mais abaixo, aqueles tépidos e suaves, desejosos, gulosos e até – não demorou a perceber que podia – treinados pelas artes do oriente. E como conceber que a pureza manifestar-se-ia por meio dos ensinamentos de Vatsyayana, mas deixando de lado o Dharma para se concentrar no Kama (a especialidade em extrair o gozo da relação dos sentidos com os objetos)?

O primeiro objeto não poderia ser mais simplório e comum, algo que, a muitas mulheres, servem-nas de primeiro amante: um sofá. Quando ainda criança, Rosa sentava-se com suas perninhas abertas sobre o braço do sofá no escritório do pai, onde ele costumava atender outros homens de negócio, tal qual ele, sempre ávidos em maximizar seus ganhos naquela cidade portuária e outros entrepostos assemelhados, quer ficassem na terra ou no ar. Sentava-se ela, ou melhor, cavalgava o sofá com as perninhas abertas, brincando de amazona, fingindo perseguir homens indefesos que apareciam na sua ilha selvagem e esquecida, tomada por lindas fêmeas primitivas, porém requintadas nas artes guerreiras e completamente independentes de qualquer influência estrangeira. Enquanto perseguia um incauto que ali havia aportado, foi saltando, saltando, e algo foi saindo e saindo, sentiu uma umidade gostosa e estranha, tépida, morninha mesmo, bem boa de gozar, e de tanto cavalgar, acabou por gozar mesmo, um gozo inocente, de anjo, um gostar ingênuo de criança levada; repetiu e repetiu, então percebeu que repetir é o que era bom, precisava variar não, o simples resolvia: era só cavalgar e cavalgar.

E cavalgando, Rosa Vermelha cresceu molhada, encharcada:

- Nossa! Essa menina anda com a roupa sempre ensopada! - reclamava a serva.

- É que eu gosto de brincar de correr! - dizia Rosa.


O pai concordava:

- É que é levada mesmo! Gosta de correr e cavalgar! Não é meu bem?

E ria doce pro pai, os dentes alvos feitos a pele que a cobria. A serva um tanto desconfiada e já sabendo d'onde vinha aquela água toda, respondia um "é" ou "se é", e assim seguia sendo: ela, a serva que nada via; a outra, a levada que de tudo fazia. Era um conto de fadas. E como tal, havemos de ter nele uma vilã:

- Espe'ho, há em todo o reino alguém mais bela do que eu?

- És tu, bela rainha, a mais bela de todas!

- Ah! Espe'ho! Se o meu marido descobre.

- É um tolo! Desvio metade das receitas dos negócios, e nem isso ele percebe, mesmo sendo avaro do jeito que é. É um pulha!

- Quem?

- Seu marido, ora!

- Não fale assim dele, Ho.

- Ora!

- Todo amante precisa de um marido.

- Todo marido precisa de um amante.

- E toda mulher precisa dos dois senão estará condenada ao sofrimento.

- Um pênis não basta?

- Não.

- E se um valer por dois?

- O seu é grande, mas nem tanto, meu bem. Fala outra vez!

- Um pulha!

- Não isso!

- Tu és a mais bela.

- Outra vez!

- És...

Era um ritual. Um ritual que Rosa conhecia bem e queria experimentar...

- Cu não!

- Cu sim, meu bem!

- Espe'ho! Não!

- Um cuzinho doce é ainda melhor... - e ia achegando-se, deslizando as mãos pela cintura dela, andando em gatinhos pela cama, ela afastando-se, irritada.

- Você é diabético, esqueceu?

- Que nada, ajuda até a curar. Só a cabecinha...

- Não! - e pulou da cama.

- Quer saber - colocando-se de pé, irritado - Vai tomar no cu!

Rosa Vermelha, espreitando pela janela, tudo via. Nunca tinha tentado no cu, nem a cabecinha. Curiosa, saiu de mansinho, embrenhou-se no mato, sentou-se sob uma árvore, abriu bem as pernas, projetou a pélvis para frente e devagarinho foi colocando o dedinho alvo no ânus. Circulou com o indicador ao redor, bem suave, sentiu aquele molhadinho na calcinha branca e rendada, inocente. Colocou a primeira falange pra dentro, uma ardência estranha, mas macia; foi seguindo, foi seguindo, já parecia com aquelas cavalgadinhas conhecidas. Foi e voltou, foi e voltou - como era bom repetir, pensou. E repetiu. Tirou o dedinho.

- Ah! Que nojo - Estava todo marronzinho. Parecia a pele da serva enxerida, pensou.

- Ah! Que nojo! - Repetiu.

- Nojo nada, meu bem. - Uma voz de dentro da mata.

- Ah! Tio Espe'ho!

- Não, não, não, não, não - aproximou-se daquele corpinho com as pernas abertas, os lábios vermelhos fugindo da calcinha branca rendada, o líquido vaginal ainda vazando, molhando o chão, sentiu uma excitação repentina, levou a mão rapidamente ao pênis, por cima da calça, para ajeitá-lo em um ângulo em que poderia ascender e ainda assim ficar camuflado pelas dobras da calça larga de corte.

- Não, não. Não é nojo não - pegou a mãozinha de Rosa, o dedinho em riste, todo borrado, "parecendo a pele da serva" - pensou Ho, mais excitado com aquela comparação: "parecia a pele da serva".

- Não é nojo - devagar, foi levando o dedinho em riste até a boca, chupou-o com delicadeza. Rosa tinha as bochechas rosas, soltou um gritinho contido.

- Eu mostro - disse ele.

E mostrou. Coloco-a de costas na grama. Tirou o pênis latejante para fora. Os pássaros pareciam cantar em harmonia com a pulsação do órgão. Cada qual com sua nota naquelas melodias múltiplas.

- Só a cabecinha.

- Só a cabecinha - repetiu Rosa.

A pele alva tornou-se rubra, as bochechas tomaram as cores da buceta, e a cabecinha foi entrando cada vez mais fundo. O gritinho foi aumentando. E Ho, mais excitado que refreado por aquelas demonstrações de dor, tapou-lhe a boca enquanto falava:

- Só a cabecinha, só a cabecinha...

O grito sumiu sob a palma que praticamente cobria o rosto de Rosa Vermelha. O corpo do tio deixou-se cair sobre o dela, envolveu-a por completo, era Espe'ho uma capa que, se vista de cima, parecia conceber com a própria Gaia, ensartando na relva, e não naquele reto purinho, seu falo vascularizado falava também:

- Só a cabecinha, só a cabecinha...

A vagina de Rosa, antes sempre tão molhada, agora se fazia seca, só dos olhos vertiam líquidos, pensou ela:

- Estou gozando pelos olhos?

O grito abafava-se. E ela só conseguia pensar:

- Só a cabecinha.

- Só a cabecinha. Viu?

Falou Ho, enquanto tirava, com cuidado, o pênis marrom de dentro do reto agora rosado de Rosa.

- Viu? Só a cabecinha.

- Só a cabecinha. - Repetiu Rosa, as lágrimas escorrendo em copiosas cachoeiras pelas têmporas.

- Oh, meu bem - ia dizendo o tio, sua mão tocando-a no rosto carinhosamente, quase com afeto paternal – Tu és a mais bela de todas as mulheres que há no reino.

- Sou? - inqueriu, fungando o nariz docilmente uma ou duas vezes.

- És. Não chora.

- Não é choro. Só acho que gozei pelos olhos.

Riu com um misto macabro de alegria e confusão. Os olhos do tio desconsertaram-se. Não era aquela a primeira menininha que deflorava na relva. Não era a primeira, e "por Deus" - sempre invocava - não seria a última vez que iria tingir seu pênis com aquele quase colostro: a matéria fina de sensibilidade feminina. No entanto, aquela reação o instigou a ponderar sobre o equilíbrio mental de Rosa. Gostou da constatação. Em hospícios, quando passava por um, sempre aproveitava para ter em seus braços uma ou outra paciente. Alguns florins, e lá as tinha em um quarto privativo. Quem iria se importar? Rosa lembrou-o daquelas mulheres selvagens. Tê-la-ia outras vezes.

- Quer gozar pelos olhos outra vez?

- Acho que sim.

- Amanhã - tirou um papel com algo escrito da algibeira - aqui, apareça no fim da tarde.

Rosa tomou-o nas mãos, uma lágrima caiu sobre o papel amassado; delicadamente, ela removeu, com um deslizar suave de mão sobre o rosto, a última lágrima que teimava em aderir ao rostinho inocente, então pensou: “como é bom repetir”.


II - Como é Bom Repetir...

Rosa cresceu, em uma menor proporção que a sua vagina e ânus, mas cresceu, forte e... gozada. Em uma noite, após os marinheiros terem pescado "todos os marlins dos mares" - como passaram a designar aquelas pescaria -, Rosa, excitada pela excitação daqueles homens, deixou-se deflorar-se por toda a doca. Sua alegria era tanta que ela não sabia o que fazer para conseguir prazer. Mal terminava de masturbar um pênis, já ia para outro, ao mesmo tempo em que chupava um terceiro e buscava encaixar-se simultaneamente com outros dois pênis ávidos a penetrá-la.

- Parecia um polvo! - disse um dos marinheiros.

- Chupava enlouquecida! - gritou um segundo.

- Vi colocar quatro paus na boca ao mesmo tempo! - disse outro.

- Ao redor, um monte de gente batendo punheta - era o mais velho, o mestre do porto -, então ela parou de repente e disse:

- Não dou mais pra ninguém até que todo mundo goze em mim de uma vez!

Os homens estacaram. Nunca antes haviam ouvida tanta depravação. Nem nas ilhas mais sórdidas, os antros de piratas no Caribe, ou nas praias exóticas do oriente. Não podia conceber que mais de cinquenta homens pudessem ao mesmo tempo gozar em uma mesma mulher.

- E então - continuou o marujo velho [imagine essa cena como ela deve ser imaginada, seja esperto e perceba que há uma quebra temporal escalonada aqui, um vai e vem, simples assim, igual às cavalgadas de Rosa]: tudo parou, os pênis esvaziaram-se, as porras espelidas sublimaram-se, os cardumes do mar cessaram de nadar, fez-se o silêncio...

- Quero que vós - disse Rosa - fazeis um aparato, uma máquina de prazer.

- E como seria isso? - gritou alguém do meio da plateia atônita.

- Uma caixa?

- Uma caixa?

- Sim, idiota! - riram todos - Uma caixa cheia de furos. Vós todos irão construir uma caixa, ela terá cinquenta furos, cinquenta furos ela terá, e nesses cinquenta furos... calados! - os risos e cochichos cessaram -, nos cinquenta furos serão introduzidos cinquenta pênis, e dos cinquenta pênis sairão cinquenta gozos, e então serão cinco vezes dez gozos sobre mim! Vossa disposição será tal para tal façanha, que dela não poderá outra coisa concluir senão que se é necessário uma escultura humana nunca dantes vista! Um sobre os outros, tocando ou não, não me interessa! Quero todos vós  gozando meu corpo!

- E assim foi feito - disse o marinheiro velho - montamos uma caixa e nela fizemos cinco vezes dez furos, e assim foi feito. Colocamo-nos da maneira que a natureza nos permitia sobre aquela caixa, em cujo anterior ela estava completamente nua; "gozem", ela disse, ou melhor, berrou, e aqueles cinquenta homens começaram a masturbarem-se – eu, entre eles -, não sei como foi possível, mas de alguma forma todos nós gozamos em uníssono! E então enquanto nossas porras caiam sobre ela, ouvimo-la:

- De agora em diante! Eu sou Branca de Sêmen! Branca de Sêmen!

- Alguns homens desmaiaram, outras gozaram com mais vigor...

Essas histórias, e muitas outras eram narradas dia e noite nos bórdeis de todo o litoral do reino. Ficando a história da “caixa dos cinquenta prazeres” a mais famosa para explica a alvura de rosa. Falava-se em baleias, cavalos, sátiros, sahuajins, mesmo anjos e diabos teriam copulado com Branca de Sêmen - nome que fora negado por seu pai mesmo no leito de morte. Fala-se agora, e era a fofoca principal do reino, sobre o paradeiro da famosa Branca. Havia há meses desaparecido, não se sabia o motivo, apenas que depois da morte do rei, o equilíbrio de poder dentro da corte havia mudado completamente, e contra a jovem filha. Não se conhecia Maquiavel naquele universo, menos ainda poderíamos atribuir à nossa moça qualquer virtú, ainda que os bons homens do mar de nós discordem, no entanto, sua fortuna seguia melhor do que se poderia supor. Branca de Sêmen, depois de ser ameaçada de morte pela própria mãe, fugiu para a floresta com um caçador em seu encalço: um assassino.

- Oh! Por favor; não me mate!

- Por que não?

- Porque eu sei do que você gosta e posso dar a você!

- Duvido! - ergueu a mão, uma lâmina branca refletiu o sol.

- Eu sei!

- Então dá!

Branca tirou de sua sacola um enorme coração de gado: os ventrículos ainda pulsavam em sua dança ritmada, o caçador não pôde deixa de notar a veia aorta chamando-o feito uma amante lasciva, o cano natural perfeito para ensartar o seu desejo.

- Dá!

- Então me deixa!

- Deixo!

Largou o coração nas mãos do caçador, que o tomou com carinho, com cuidado, como se tivesse nas mãos o próprio filho. Sem que nem mesmo Branca tivesse sumido entre os arbustos da floresta, pôs-se ele a amar à sua maneira aquele coração que ainda batia.

Branca correu e correu. Sem perceber, suas roupas foram sendo tomadas pela floresta, em um ato de erotismo, como se as plantas a desejassem: um amieiro, na sua conhecida boba, deixou-se ficar no meio do caminho com as mãos abertas, com ele ficou a parte superior daquela vestimenta nobre, o sutiã negro com detalhes em vermelho tomaram as vistas; uma faia, mais lasciva, meteu os galhos na calda longa que perseguia Branca, deixando amostra seu belo traseiro encimado por uma calcinha também negra, com cinta liga conectada a uma meia sete oitavos - a única do reino, encomendada pessoalmente por Branca. Correndo pela mata tarada, em pânico, pisou em falso e caiu em um buraco traiçoeiro, rolou, seu traseiro alvo harmonizando-se com a lua cada vez que apontava para os céus na descida frenética e  descontrolada, os lábios vermelhos apartados na roupa íntima, quando a ribanceira terminou, Branca caiu de pernas abertas sobre a cabeça de um senhor muito baixo e gordo. Ela ainda estava atordoada quando aquele senhor deu-se conta que tinha montada sobre sua cabeça uma bela dona, um lábio da vagina fugia pelo lado da calcinha, o cheiro forte de buceta assaltava o nariz graúdo do homem, os gritinhos de susto dela excitaram-no, "atordoada", pensou o homem, "atordoada". A língua saltou de fora da boca e com algum esforço conseguiu mover a calcinha para o lado e deixar aquelas lábios amostra, com a pontinha da língua, foi lambendo aqueles lábios, beijando-os como podia. Branca, ainda tonta por tanto rolar, sentiu aquele molhadinho tão familiar, pensou-se no braço do sofá e começou o vai vem: encaixou-se sem perceber na língua do homem afortunado abaixo dela.

Outros seis homens, também baixos e robustos, que vinham cantando, estacaram: o Mestre, assim o chamavam, estava com o pênis praticamente rompendo a calça grossa de mineiro, acima da sua cabeça, uma mulher alva refletia a luz lunar, vestia uma lingerie atraente que alternava com beleza o contraste de sua cor com a da mulher que lhe dava forma, ela estava balançando com habilidade a cintura sobre o rosto do Mestre, não movia a parte superior do corpo, somente a parte que interessava avançava transcrevendo um arco sinuoso que terminava quando ela empinava a bunda redonda - cujos detalhes você conhece - só para reiniciar o movimento. Atchim não teve dúvidas, do crucifixo invertido que pendia do pescoço, sugou com pujança todo o pó branco de cocatrônio - o mineral mágico que somente ele sabia mineirar -, as pupilas explodiram, e ele, já em riste, avançou pra cima do traseiro de Branca. Zangado, com um mau-humor ainda mais bravio que o de costume, batia desesperadamente uma bronha, querendo a todo custo que aquele pênis traidor começasse a funcionar, amaldiçoou-se por não ter o mesmo pendor sexual dos seus irmãos, nada funcionava com o pobre, de catuaba à sopa de piranha: nada. Dunga esqueceu-se da sua síndrome de down simulada para conseguir uma aposentadoria por invalidez e pôs-se a bombear-se, lembrou-se a seguir que os seus irmãos também deveriam continuar ignorantes acerca da sua ignorância, e então com a bunda na cara do Mestre, deu jeito de enfiar o falo entre os seios de Branca - só um louco mesmo poderia fazer algo assim, pensou o Mestre. Soneca, que vinha roncando profundamente em cima do carrinho de minerais, como sempre, acordou-se na hora correta, e, com bastante cuidado e experiência, procurou um espaço para entrar naquela vagina gulosa, a língua do Mestre atrapalhava um pouco, mas ele não se importou. Dengoso, que não era muito afeito a mulheres, libertou o pênis do Mestre - já quase explodindo de vontade de entrar em alguma coisa - e nele sentou-se, evitando o contato com Branca, que ia sonhando com o sofá, que agora eram vários sofás roçando-a por todos os lados. Os anões foram gozando na ordem que sempre faziam: Atchim, Mestre, Dunga, Soneca, Dengozo e Feliz, que se contentava em ficar de fora, apenas assistindo os seus colegas em ação. Só o pobre do Zangada que nada conseguiu, ficou ali, o tempo todo, observando aquela escultura erótica e “descabelando o palhaço feito louco”, como dizia o Feliz sempre que relatavas a “nova tentativa do Zan” em dar uma gozada. Nada, zangou-se e foi-se embora, chutando pelo caminho toda pedra, madeira e bicho que via pelo caminho.

- Que bela gozada, irmãos! – disse o mestre sem fingida satisfação.

- Que bela gozada!!! – responderam em uníssono os que ali ainda estavam.

- Vamos indo então, pessoal... – colocou o Dengoso, querendo livrar-se de uma vez daquela mulher, um empecilho certo para as suas seis e meia gozadas diárias (lembrar-se do pobre do Zangado).

- Não! Vamos leva-la conosco! – disse Dunga.

- Achei que você não falava! – retrucou Dengoso.

- Blá, blá, lero, lero, Hã?

- É louco mesmo. – interveio o mestre, que continuou:

- Vamos leva-la, irmãos! Logo se vê que ela sabe bem como tratar um homem. Mas por via das dúvidas, vamos amarrá-la bem e depois coloca-la naquela cama que vocês bem conhecem.

Branca ainda remexia-se, atordoada, como se estivesse em pleno ato sexual. Com maestria de um bondagista profissional, o próprio Mestre pôs-se a amarrá-la eroticamente, lembrando-se de passar parte da corda pela vagina dela, como uma calcinha de cânhamo, Rosa foi-se roçando nessa artimanha do velho até chegarem na casa dos sete homenzinhos quando finalmente voltou a si:

- Sofás!

- O quê?

- So... Hã? Onde estou?

- Está na casa dos Sete Depravados, sua parva.

- Quem?

- Os Sete Depravados. E já vou dizendo que não gosto de você.

- Mas... Quem é você?

- Dengozo. Assim me chamam. E alerto que por aqui nem por todas as outras matas deste reino há cu mais quente e guloso que o meu, piranha.

- Entendi. Então vocês são os Sete Depravados?

- Já disse.

- Ouvi falar de vocês nas docas.

- Nas docas... Essa pela alva – tocou-a com o dedo, com se estivesse verificando a existência de pó num móvel. Uma fina camada branca formou-se no dígito, lambeu-a. O sabor era inconfundível.

- Você? Então você é a mulher que todos falam. Sua brancura e esse... e esse sabor. A porra de cinquenta homens cobre o seu corpo!

- Mil cento e dois, querido.

- Você é nojenta, você transa frutas.

- Todos gostam de frutas.

- Não pra enfiar no rabo. Nem tudo deve ser enfiado no rabo, sua puta.

- Se experimentar, vicia.

- Nem morto. Mesmo agora quanto estou louco pra sentir o reto preenchido

- Tem trauma?


III - A Bruxa e o Príncipe

Uma batida forte na porta diminuta fez o espanto no rosto de Dengoso evadir-se. A batida repetiu-se.

- Não vai atender? – Disse Branca.

- Hã? Ah! Sim. Claro – foi em direção à porta enquanto pensava: “mil cento e dois.” Desconfiado – as visitas eram raras naquela profundidade da mata –, Dengoso espiou por uma fresta na porta. Parecia uma mulher com um vestido negro, usava sapados pretos e velhos de bico fino e um leve salto, parecia trazer uma cesta. Abriu uma fresta e disse:

- O que a senhora deseja?

Do rosto enrugado com um nariz em gancho abriu-se uma boca com poucos dentes, fios de saliva conectavam as arcadas e tornavam-se maiores à medida em que ela ia escancarando a bocarra exageradamente, dela saiu um som agudo acompanhando dum odor pútrido:

- Branca está? Tenho um presente para ela.

- Como? Hã... Não tem Branca alguma aqui.

- Ora, garoto; ora, então como eu poderei presenteá-la?

- Vo...

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, a velha tirou da cesta que trazia a tira colo uma berinjela gigante. Dengoso excitou-se instantaneamente, porém pensamentos antigos atiram-no em cheio, fazendo-o lembrar-se dos árduos momentos do tempo de escola: numa noite, quando todos dormiam no colégio interno, Dengosa esgueirou-se até a cozinha e lá apanhou uma berinjela. Vinha flertando com aquela fruta há dias, contemplava-a como a real libertação da rotina maçante do lugar, as horas marcadas para tudo, as fórmulas de tratamento que deveriam ser decoradas para cada tipo de pessoa, só quando ficava sozinho, nos raros momentos de solidão verdadeira, podia relaxar-se introduzindo primeiro um dedo, depois dois, até chegar à mão inteira e posteriormente às frutas e demais objetos. Imaginando estar sozinho, baixou as calças padrão de listras que todos eram obrigados a usar, pegou a berinjela com cuidado e enfiou-a no reto, mal tinha feito o primeiro movimento de lascívia, as luzes da cozinha foram acessas e todos o viram ali, no meio da cozinha, com a berinjela no rabo. Um pouco de fezes escorriam pelas pernas do jovem Dengoso. O rosto tornou-se rubro. As risadas impediam-no de dar qualquer explicação, e mesmo que as tivesse dado ninguém o teria ouvido, pois todos berravam ao mesmo tempo: “cuzinho guloso!”, “cuzinho guloso!”. Apesar de não ter jamais abandonado o prazer anal, Dengoso deixou-se consumir-se por uma quase irracional desconfiança da frutofilia, até que...

- Como poderei dar essa berinjela para ela, meu querido Dengoso? – Continuou a velha.

- A senhora me conhece.

- Todos o conhecem. Você é o famoso Cuzinho Guloso.

- Bem; era assim que me chamavam antes do acontecido.

- Não se preocupe, meu querido, eu não facho julgamentos, aceito as pessoas em seus mais insanos desejos, afinal, quem medida podemos usar para julgá-las? Não se pode dizer  sobre a falsidade ou verdade de um gosto, não é?

- Acho que sim – o pênis pulsava. Os olhos brilhavam. Dengoso nem ao menos ouvia-a direito, concordava maquinalmente.

- Sabe, Guloso, acho que você deveria chamar-se assim, Dengoso – riu-se com um esforço doente, como que sentisse dor ao fazê-lo – Vou chama-lo assim: Guloso. Guloso, sabe que certa vez peguei meu próprio filho masturbando-se com o nariz enfiado em uma das minhas calcinhas! Imagine! Eu já era uma velha naquela época. Mas poderia julgá-lo? Como dizer que aquilo era incorreto? Não seria da minha parte somente uma suposição arbitrária de correção puni-lo por satisfazer um desejo primal? Ora! Acaso surramos um filho, faminto, decide comer sem autorização algumas bolachas da dispensa? Até poderíamos fazê-lo, mas não seria isso tão arbitrário quanto qualquer outro julgamento? Não concorda?

- Sim. Sim.

- E eu poderia dizer que fazer um uso incomum desta bela berinjela – segurou-a na mão com uma firmeza que destoava de sua aparência velha –, sabe do que estou falando, não é guloso?

- Sim. Sei.

- Então me diga. Branca não está aí por acaso?

- Hã...

- Não minta! – sua voz elevou-se repentinamente, sombras surgiram sobre sua face flácida, o tom enrijeceu-se – Diga-me! Quer ou não esta berinjela enfiado no seu reto, Guloso?

- Sim.

- Sim o quê? Ela está aí ou quer a berinjela?

- Os dois – saltou sobre a berinjela, tomou-a nas mãos e fugiu para a mata, deixando a velha de frente para a porta escancarada.

“Ora, o plano era Branca enfiar a berinjela na xana e morrer com o veneno que coloquei nela, agora, aquele viado depravado vai morrer no lugar dela, sorte que eu trouxe outro brinquedinho comigo... Muito mais efetivo que aquele caçador asqueroso e tarado por órgãos de bicho morto” – ia pensando a velha enquanto entrava na casa sorrateiramente.

Pé ante pé, aproximou-se de Rosa Vermelha. A moça estava amarrada em uma cama com quase o dobro do tamanho das outras camas que se distribuíam perfeitamente alinhadas em duas colunas com três camas cada, uma cama maior posicionada à frente delas chamava a atenção pela ausência de simplicidade comum aos outros leitos – era a cama do Mestre.  Contudo, toda a casa encontrava-se em desordem quando comparada com a maestria do alinhamento do local de descanso dos anões: na pia de mármore branco, panelas de latão, copos de argila e garfos toscos feitos de madeira misturavam-se a restos de comida cobertos por larvas e moscas, uma água esverdeada e estática, parecendo quase sólida tantos os restos que de alimento que a preenchiam, emanava um fedor pesado que parecia esperar um simples toque tomar toda a casa. Na mesa, alguns pratos de porcelana, precisamente sete, pareciam abandonados há anos, no entanto, um exame atento da comida nelas abandonada revelava que deveriam ter sido usados há menos de cinco horas. O caos era o mesmo em todas as partes do pequeno casebre.

Com uma expressão de asco, a velha foi-se aproximando de Branca, fazendo um possível para não pisar nos entulhos e restos largados ao acaso no chão de madeira. Rosa Vermelha, como que extasiada pelos pensamentos da suruba da noite anterior, só percebeu a presença da nariguda quando ela tropeçou num pedaço de carne de porco meio comido de larvas.

- Quem? Quem é você?

- Não se preocupe, querida; trago um presente.

- Ai. Sabe.

- O quê?

- Eu adoro ficar amarrada assim. A sensação de não poder me mexer me deixa toda molhada. A senhora não gosta também?

- Não tentei isso, minha filha.

- Deveria. Deveria. Eu acho que todos deveriam tentar todas as coisas. Aprendi desde muito cedo que eu podia fazer qualquer coisa eu quisesse. Que não era necessário me preocupar com as convenções ou com  o que me ensinavam na corte, sabe? Eu sempre achei todos aqueles ritos uma grande perda de tempo. Se se queria transar com alguém, só se poderia mediante um casamento. Por que não irem ambos, ou mais, simplesmente para o mato mais próximo? Mato. Por que no mato? Só pra começar. Por que não ali mesmo, na frente de todos, dos filhos, dos pais, das crianças, dos velhos. Nós somos tão entrojados com preceitos moralistas que quando penso em sexo livre, logo penso que ele tem que ser no “mato”, como se fosse necessário um lugar adequado, como se uma vergonha que todos devem esconder camuflando-se em meio à mata. E sabe que tenho boas lembranças da mata, ah! Como tenho! Foi nela que o meu tio me ensinou a usar o reto adequadamente – a bruxa estacou, os olhos abriram-se até tornarem lisa a pele que os circundava e gerar uma verdadeira escada de derme flácida na testa –, foi com ele, lembro-me: eu estava lá, toda confusa brincando com o meu dedinho, aí ele apareceu, nossa! Como eu gostava de massagear minha xaninha enquanto espiava ele e mamãe transando. Eu não entendi bem porque ela, sendo casado com papai, dava pra titio, depois eu aprendi essas coisas, e aprendi também que repetir era bom: papai, mamãe, titio. A senhora não acha que repetir também é bom?

- Sim, minha filha, muito bom. Conte detalhes.

- Do quê?

- Do seu titio, minha tontinha.
- Ah! Homem muito bonito, com um mandrubas incomparável. Não sei se porque eu era pequena, tinha oito ano, ou se era grande mesmo, ficou em  mim uma lembrança  boa daquela trolha entrando mim. Chego até a rimar, a repetir, como eu adoro repetir!

Agora a velha, que todos sabem ser a mãe de Branca, entendia porque Espe’ho não mais a chamava de “a mais bela de todas”. Porque ele sempre se esquivava da pergunta antes sempre tão naturalmente feita e tão naturalmente sanada. Tinha agora mais um motivo para dar fim na “cadelinha do reino”, como costumava chama-la em suas conversas com o amante sobre o futuro do reino, não só a mataria para não ter uma inconveniente herdeira em seu caminho, agora, era estritamente pessoal, ela tinha gozado com o seu homem, dando-lhe tudo o que ela sempre o negara: o cuzinho. E ao que parecia não tinha sido só a cabecinha, ou tinha?

- E foi só a cabecinha? – perguntou com uma curiosidade incontida.

- É – a velha sentiu aliviada por breve momento, só a cabecinha era um pecado menor naquela traição, possessa pelo ciúme, ela via os centímetros de penetração retal como uma medida precisa do tamanho da traição, que ela sabia bem até qual comprimento poderia chegar. Branco continuou...

- É... No começo. Depois veio tudo. Ele deixou meu rabo limpinho, sabe? Parecia até que eu tinha feito uma lavagem estomacal. – Riu-se confusamente da piada infame. A bruxa, para manter o seu disfarce, fez o mesmo ainda que com menos vigor.

- Eu tenho um presente para você, minha filha.

- E o que seria, minha boa senhora? Só não me diga que é me desamarrar daqui, porque eu estou adorando ficar aqui! Aqueles anões são mesmo uns depravados que sabem o que fazem!

- Não, claro que não; eu jamais a privaria dum prazer, minha filha. Tenho pra você um presente que a deixará ainda mais feliz se o seu prazer é fazer-se prisioneira.

- Um.

- O quê?

- Um dos prazeres, não “o”. Limitar-se a um prazer seria o fim da vida! Por isso tenho vários. [lista de parafilias]

- Como este – retirou um objeto de dentro da bolsa – espartilho você terá ainda mais prazer, minha filha.

Colocou-o em Branca e sem que mais o tocasse, o cordão apertou-o magicamente, a peça comprimiu o tórax de Rosa Vermelha, a prisioneira soltou um gemido de prazer e pediu irracionalmente por mais, estava querendo repetir e, como nos tempos de criança, ficava cada vez mais molhadinha.

- E tenho ainda outra coisita... – Retirou da bolsa uma maçã sobrenaturalmente vermelha, uma encarnação da própria Branca como o seu pai a queria, com “os lábios rubros como o sangue, encarnados e majestosos, desejosos e puros” – Coma um pedaço, é uma maçã do prazer.

Branca comeu-a a partir da mão decrépita da velha. O sabor excitou-a, sentia que estava desidratando: todo o estoque de líquido do corpo parecia desviar-se para manter a vagina encharcada, uma poça de luxúria materializada podia ser vista sobre a cama, o lençol estava escurecido, encharcado. Gotas precipitavam-se da cama para o chão. Do chão desnivelado, o caldo vaginal ia-se guiando pelo bel prazer do solo. Branca estava esmaecendo-se em rubro sangue de prazer, explodindo-se em gozo, lembra-se daqueles cinquenta falos e a ela não pareciam nem cinco. Incomparável prazer dominava-a, e a maçã afogava-a, gozando em si mesma, engasgava-se. O ar faltava-lhe, o gozo, no entanto, não. Num misto de morte e vida, afogou-se Branca. Quando das primeiras tosses convulsivas, a velha retirou-se: sabia o trabalho concluso.

- Repetir é bom – dizia ela – faço com você o que fiz com o seu pai, repetir é bom, isso você aprendeu, parva.

E foi-se para a sua segunda vingança.

Os anões chegaram ávidos por uma segunda trepada. Todos vinham excitados, exceto Sangado. Esperavam obter uma noite de prazer com a donzela amarrada, fazer dela a base de mais uma escultura sexual. Não paravam de falar nas safadezas que pretendiam fazer com aquela jovem. Não podiam mesmo nem ao menos esquecer a suavidade da pela, o Mestre fora obrigado a diminuir o turno de trabalho tamanha  vontade de prazer dos anões, se não o fizesse, era bem capas vê-se frente a uma revolta ou a uma explosão de pederastia incomum até mesmo para os padrões dos anões.

Chegaram todos na casa já suficientemente excitados. O Mestre nem ao menos perguntou para Branca como fora o seu dia, vinha já com o pênis para fora, pronto para ejacular na sua boca quando percebeu, segurando o pénis que já se ia caindo flácido e tristemente gozado em sua mão, que ela não estava consciente. Houve entre os anões aqueles que pareciam não se importar com o estado de consciência dela, outros, porém, não queriam deflorar um corpo indisposto. Restos de maçã escapavam da boca dela, assim como rastros de saliva seca que formavam um caminho branco e fétido. Na cintura, o Mestre e os outros perceberam um espartilho extremamente apertado, que a afinava assustadoramente.  Sem saber se estava morta ou não, decidiram por votar. Por cinco a um, decidiram pelo sim, somente o Zangado recusava-se acreditar naquela morte repentina, via nela, talvez, uma forma de salvamento para a sua condição patética de anão brocha, ao que parecia estava condenado. Decidiram por dar o corpo a um sujeito com um nome no mínimo estranho: chamava-se Príncipe.

Em menos de uma hora após ter recebido o recado, ele estava ali. Era um sujeito com uma pança flácida, vivia fazendo todo tipo de dieta para voltar à forma que tinha os dezoito anos, idade em que todas as mulheres do reino o disputam como um prêmio realmente merecido. Em sua arrogância juvenil típica e comum, recusou-se a manter-se altivo e belo, situação que o levou à sua atual profissão: coveiro. Adorava dar aos novos corpos o prazer primeiro da morte. Ditava-lhes a virgindade pós-morte, era como um recomeço, um nascimento de fato puro, livre dos pecados da vida, um sexo genuíno, posto ser feito sem objetivos mais senão o prazer dela cadáver e dele vivo. Com Branca, pensaram, não poderia ser diferente, em mãos melhores aquele corpo não poderia estar.

De frente dela, num esquiva pelos anões feito, postou-se o homem, em meio à mata, sozinha com sua amante morte, excitou-se, com alguma sorte, vermos já poderiam estar habitando aquela vagina, ele adora quando eles roçavam seu pênis, sentia um prazer tão grande aquele sentido por Espe’ho ao penetrar a jovem Branca: um misto de pecado com sublimação divina superior, um desafio aos paradigmas, o desafio supremo às regras, sem importar-se com nada além de sim mesmo, nem com ela, nem com nada. O alvo nada poderia fazer, apenas gozar com ele o gozo por ele imaginado. Tudo imaginado. Penetrou-a.

Tão logo o fez, ela cuspiu em sua cara um pedaço de maçã e junto com ele uma quantidade de saliva e líquido estomacal que em vez de causar-lhe repúdio, deu-lhe prazer. Nunca antes tinha sentido tal sensação por um ser vivo, nunca algo que deles, os seres vivos, provinha fizera-o feliz, todavia, agora, com Branca e sua branca gosma, sentia prazer; ela ainda tossia:

- Outra vez.

Nada.

Outra vez, sua puta!

Enfiou o pau na boca dela, o mais fundo que podia. Socou-a sem piedade, foi até onde pode, sentiu que não mais poderia avançar, então tomou a nuca dela com uma mão e forçou o mais que pôde. Ela ameaçou vomitar, ele não se importou, forçou-a ainda mais, com mais força, com mais prazer, estava quase gozando naquela garganta quando ela tossiu uma gosma amarelada, recuou brevemente e tornou a investir, ouvi gemidos de dor e prazer, e sem qualquer ordem, ela, espontaneamente, começou a chupá-lo. Ele sentia seu pênis ir até o esófago da depravada, por vezes, ela ameaça vomitar, mas não o fazia, os espasmos serviam somente para fazê-lo mais excitado pelo estreitamento do canal.

Com a boca preenchida, Branca pensava em quão bom era chupar aquele pênis, era igual ao do seu titio, grande e grosso, vascularizado, pulsante, violento, prazeroso, adequado, perfeito. O chupado pensava algo parecido, porém, comparava a habilidade da viva com a das mortas. Delas, os cadáveres que costumava “estuprar”, se é que poderia usar tal palavra, não podia remover aqueles gemidos, tão pouco tepidez daquela boca e sua saliva morna... E na saliva focava-se, quanto mais enfiava seu pênis naquela boca macia, mais via a saliva dominando-a, ela formava em linhas sinuosas que Branca esforçava-se por fazerem-se presentes, vistas. Quando menos esperava, gozou, todavia, ela não parou de chupá-lo, mesmo com o pênis tornando-se mais flácido.

Era uma sensação diferente, estava habituado a terminar o seu prazer na boca das mortas, nunca antes havia sido chupado após uma gozada. Refreou as investidas, recuou por instinto, e ela avançou pelo mesmo motivo. Quando percebeu estava excitado novamente e pronto para comê-la de fato, como a fêmea eu era. E ela, pensando algo oposto, mas igual, pôs a fazer do seu macho o que ele era, e copulou e repetiu e repetiu até que não mais pudesse mover-se. Quando não tinham mais energia, descansaram sem nada falar, quando se sentiram no momento adequado, voltaram a trepar experimentando todas as posições que podiam, ao gozar, sentiam-se exaustos e um tanto dominados por um sentimento estranho de culpa, porém, logo o esqueciam e voltaram a trepar.


E assim o fizeram enquanto os anões seguiam com sua melancólica escultura sexual gay, todos achando que haviam se livrado de um cadáver quando haviam se livrado duma vida plena em gozo, em água, em vida. A outra, a nossa bruxa, debruçava-se sobre o corpo semivivo do seu amante enquanto ele falava: “era só a cabecinha”. Vivia ela em sua ignorância os dias, pensando ter-se livrado da filha, tê-la legado ao Inferno, mal sabia que a tinha dado ao home que ela mesma sempre querera. Rosa Vermelha agora era mais branca que nunca, vivendo, feliz, os gozos eternos dum pênis infinito que redescobrira os caminhos lascivos da vida.

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