UM ESTUPRO CONSENTIDO



A primeira vez que a vi foi em sala de aula, algo sobre cálculo diferencial ou outro assunto qualquer tão simples e enfadonho que me parecia mais atrativo ficar jogando xadrez no celular. Ela usava um daqueles vestidos longos com um decote recatado, era branco e delineava bem a cintura, que tinha algo um tanto peculiar, um volume desagradável que destoava da simetria do rosto, um pouco envelhecido, mas com uma jovialidade incomum. Os cabelos eram completamente negros, da mesma cor dos detalhes que manchavam aqui e lá a roupa para mim provocante. Esses vestidos sempre deixam exalar da mulher alguma sensualidade reprimida, mesmo que não haja muita para exprimir, caem sobre as formas e as tornam harmônicas mesmo que a beleza não seja o atributo mais cultivada na mulher. Dos olhos, pude notar um leve estrabismo convergente, que em nada a tornava feia, pelo contrário: despertava certo ar paternal e lascivo, alguma vontade de Lolita bem lá no fundo trancafiada.

Por alguma razão, eu sabia que iria tê-la. E sempre era assim, sempre foi, toda boa mulher que se ia no meu caminho, logo eu olhava e pensava: eu vou tê-la. Eram para mim uns objetos, colecioná-las era minha alegria, de cada uma, uma foto, um vídeo. Usava-as para me masturbar e para lembrar-me daqueles corpos. Das personalidades, pouco me recordava, realmente, até dos piores momentos não tinha lá lembranças muito fortes, e quando as reencontrava não sabia muito o que falar. No início, sim, tudo era bem diferente, a vontade de domá-las atiçava com ferocidade meus atributos humanos, e palavra alguma deixava de sair sem antes ser precedida por um sorriso senão sincero, ao menos bem direcionado.
Não busquei muita proximidade de início. Nem foi preciso: quando mais eu me afastava, mais atração gerava. Fi-la indiretamente, deixando transparecer sem querer uma amostra do meu estilo de vida aqui e ali. Logo descobri que ela tinha uns filhos, uns quatro... E isso me causou certo asco, explicava também aquela cintura que não combinava com o resto.

No fim, superei as párias e só deixei que as coisas corressem sem transtorno, só fui seguindo a minha vida. Convidei uns amigos para uma trilha, dessas que a maioria das pessoas têm nojo de ir, mas que acaba topando para ter alguma coisa interessante para mostrar nas redes sociais. Não que seja isso algo muito ruim, a busca por aceitação é natural em seres humanos, e eles farão o que for precisa para tê-la, é como uma droga gratuita e com uso estimulado. No entanto, não era a que eu costumava usar, nem a minha motivação – prefiro ainda o álcool –, só queria mesmo um pouco de mato, talvez um mato esquentado pela junção de corpos lascivos, quem sabe, um mato seria bom de qualquer forma, nem que fosse só para dar uma urinada.

O caminho iniciava-se numa igrejinha histórica, diminuta e com uns traços barrocos meio tímidos, era também mal cuidada, e sempre que eu ia ali, encontrava-a fechada, turistas ensopados com água salgada e os pés cobertos de areia deveriam ser a causa daquela recusa nem um pouco santa em abraçar os fiéis, mesmo os que somente apreciam a arquitetura. A igrejinha era o ponto final duma linha entulhada de gente suada e comedora da farofa, iam carregando no ônibus umas cadeiras dobráveis de praia, uns isopores que serviam de caixa para cervejas aguadas e refrigerantes super-calóricos, umas crianças paridas duma noite mal transada, tudo isso feio um apêndice que se ia arrastando até as areias e ali ficava sob o sol até o consumo completo da derme superficial. Fomos nós também no mesmo transporte, falávamos de assuntos proibidos, ora uma safadeza impraticável ora uma defesa sobre algum ponto alarmente para a sociedade, variamos das focas estupradoras de pinguins à santidade maculado do Papa, não sem antes imaginá-lo fazendo sexo oral no Führer, defendeu-se também o ateísmo e depois o ceticismo, não esquecemos também dos católicos, nem dos agnósticos, e na ânsia de saber que ali havia certamente muitos protestantes, pusemo-nos a falar mal de Lutero – se bem que a maioria deles decerto nem ao menos o conhecia. A dita aquela, encolheu-se em algum canto, envergonhada com nossa sem-vergonhice.

Mas logo ao chegar na igrejinha, veio ter conosco. Ficou o tempo todo me seguindo, eu ia dum lado ao outro conversando com as pessoas ou simplesmente querendo ouvir o som imponente do mar que avançava com preguiça sobre as areias brancas e finas da praia. Às vezes eu me afastava de propósito só para vê-la seguir o meu rastro e ficava em júbilo num prazer breve inflamado pelo ego.
No entanto, logo esquecia desses brinquedos humanos e tornava a olhar o mar azulado arrastando-se para o horizonte disposto em corte reto, perfeitamente, em posição de nos enganar sobre a sua re
al grandeza e temperamento. Pensei na quebra da calmaria por uma tormenta repentina e imaginei-me agarrado em cordames lutando pela vida enquanto proferia alguma reza esquecida para os antigos deuses marinhos da Fenícia. Deveria ser o único que naquele momento contemplava um monte de água salgada e tranquila brincado com a areia e ao mesmo tempo imaginava aventuras vindouros em mares tempestuosos, guardei para mim o que se ia acumulando de imaginações em minha mente.

O primeiro obstáculos que tínhamos que ultrapassar era um praia tranquila e delimitada por dois braços do continente que adentravam o oceano. O da direita era em seu interior coberto por uma relva áspera mas já bem domada pelos turistas, somente nas extremidades habitavam algumas aloés que brotavam dos oásis de terra que se formavam por entre as rochas rombudas e corpulentas, de fauna o que se via era só um cavalo que pastava tranquilo mesmo com os frequentes flashs dos turistas, parecia já bem habituado a eles e vez ou outra me passava a sensação de que até gostava de ser a sensação da vez. O da esquerda, nosso objetivo, enfrentava o mar mais adentro, ao redor da porção de terra espalhavam-se rochas graúdas que eram subitamente engolidas pelos avanços incessantes do oceano tão somente para ser repelido em igual força até que a rocha pudesse, parecia, por si mesma tomar do sol a energia para mais um contra-ataque. Olhava aquelas rochas secarem-se às vezes, tamanho o golpe que davam em seu ofensor, ficava ele lá um tanto acuado mechando-se em si mesmo, buscando altear-se para mais um golpe, que era indelevelmente repelido. Observando com estranha curiosidade essa dinâmica fomos avançando pelas areias. O interior do braço era coberto por mata atlântica espessa que ainda conservava as memórias dos antigos colonizadores e primitivos habitantes do local, podíamos mesmo ver algumas pinturas rupestres que simulavam danças rituais e caçadas com seus traços de arte primordial nas pequenas grutas que habitavam o caminho da caminhada. Pássaros com cantos múltiplos voavam por entre os galhos em busca de algum inseto ou fruto. Insetos insistiam em seus trinados alheios a tudo em derredor. E nós pessoas, tomados de alguma sensação primitiva, espertávamos uns aos outros como que retornados aos primeiros dias dos homens sobre a terra. O caminho pedregoso ia sendo vencido ser maiores dificuldades, e nos rostos dos mais selvagens eu podia sentir um contentamento primal, enquanto que nos dos civilizados, uma vontade comedida de dar meia-volta e retornar para o computador – destes, busquei afastar-me; daqueles procurei proximidade.

E ela, coitada, já
me ia esquecendo, e se aqui no relato eu fiz desse modo, imagine, pois, o leitor, como foi lá... Se observando o mar só pensava em enfrentá-lo de posse da sua melhor arma, ali na mata então, pensava eu em caçadas e guerras contra outros mateiros. Sem perceber fui deixando o grupo seguir na dianteira só para absorver a energia ancestral em abundância que emanava de toda árvore, grama, arbusto e animal daquela mata, queria ser atacado por algo selvagem somente para poder praticar o máximo da minha animalidade lutando com as próprias mãos com uma besta quiçá nem conhecida – ou morrer tentando. Imaginei-me na vanguarda dum grupo nômade de eras esquecidas migrando para novas paragens em busca de alimento, vi-me ainda acalmando os aflitos e encorajando os guerreiros antes das inevitáveis batalhas contra os bandos rivais. Quando me dei conta estava sorrindo comigo mesmo.

Todo meu devaneio e prazer egoísta foi interrompido por um pedido de ajuda dela. Não conseguia equilibrar-se na trilha, a todo momento agarrava-se em mim para superar o mais simples obstáculo, logo percebi que boa parte daquela falta de coordenação mínima era mais forçada que natural; o meu passo, que já estava bem curto, foi ainda mais retardado para não a deixar para trás. Não pude me furtar de pensar em como nos causa repúdio a insistência do outro em não ser repudiado e como sempre nos é um objeto de desejo o repúdio alheio. Pelo menos era assim que eu pensava alguns anos antes, anos de escuridão comportamental tão negra que nada podia ver além dos meus defeituosos sentimentos.

Em algum momento, ela passou na minha frente e tropeçou. A nádegas foram jogadas para o alto enquanto ela esticava os braços para impedir que o rosto se rebentasse contra os pedregulhos, aqueles ditos sentimentos com defeito logo fizeram eu cair um pouco sobre ela, só o suficiente para projetar minhas pélvis contra aquela bunda desguarnecida. Ela conseguiu apoiar-se, porém não se levantou com presteza como em geral as pessoas fazem quando caem, em parte pela vergonha, em outra parte por pensarem que um movimento rápido de reconstituição irá de algum modo mitigar a vergonha da queda, já sabia eu que boa parte daquela falta de destreza não era coisa oriunda dos genes dela, talvez não no todo, pois a artinha da queda foi bem uma maneira esperta de me retirar do meu mundo de batalhas e andanças para me trazer com uma velocidade incomum ao mundo da sobrevivência em seu modo mais genuíno: o sexo. Sapiente disso, tratou ela de ir estreitando devagar a distância entre os pés e as mãos enquanto aquelas nádegas ficavam ali bem próximas do pênis que as penetraria em breve, e cada vez que as mãos se moviam, o balanço do corpo movia a mim também, assim, pouco a pouco, ela foi retomando a postura e quando estava prestes a ficar em pé, tomei-a com ambas as mãos pela cintura e mantive-a parada do jeito que estava, obediente, ela ficou ali, totalmente passiva. Levantei a saia dela, coloquei sua calcinha para o lado e penetrei-a – já estava completamente excitada. Minha primeira investida foi forte e indelicada, não estava me importando se ela sentiria dor ou não, somente fui o mais que pude e à medida em que avançava, fui deixando meus dedos escorregarem para a virilha dela com exceção dos polegares, que ficaram para trás para permitir aos outros mantê-la estável para que eu pudesse controlá-la enquanto imitava os movimentos do oceano. Em momento algum deixei de investir o máximo possível: segurava-a com firmeza, quando recuava, afastava também um pouco a bunda dela, e quando avança, puxava-a contra mim para que nos chocássemos sem qualquer tipo de delicadeza romântica. O que estávamos fazendo ali era o bom e velho sexo puro. Porém, quando mais eu a comia, mais vontade tinha de agarrar os seus cabelos e empurrar seu rosto contra a relva para deixar o meu corpo cair sobre ela para tê-la ainda mais sob meu controle. Ato contínuo ao pensamento, movia-a com rudeza para um trecho de relva e usei-a literalmente como um colchão, caído sobre ela, pude com as mãos em sua cintura, e com os dedos na mesma posição de antes, fazê-la erguer mais a bunda para permitir um ângulo de penetração quase total. Sem querer, ela deixou escapar uns gemidos que eram tanto de prazer quando de dor. Eu sabia que quanto mais força eu aplicasse nas minhas investidas, menos prazer ela sentiria e mais a dor seria preponderante. Sabia também que compelida a me dar prazer – dois ela já tinha tido até aqui (as contrações do orgasmos são singulares e não podem ser simuladas, nem com pompoarismo pode-se enganar um homem experiente) -, eu sabia que ela cada vez mais tenderia a ignorar a dor. Era chegado o momento do meu prazer, e com aquela posição simples e com um ajuste de ângulo conhecido por poucos, eu poderia literalmente estuprá-la. À minha posição maior eu chamava “Estupro Consentido”, pois a mulher depois de alguns minutos começa a perceber que algo estava errado, que não deveria haver dor, daí estupro; o consentido vinha da vergonha e sentimento de imaturidade sexual que um pedido de interrupção do sexo poderia gerar, ficavam ainda muito sentidas em não terem me dado orgasmo algum até ali – e eu sempre garantia que elas teriam pelo menos dois para fazer com que esse pesar fosse ainda maior, aumentando desse modo as chances do Estupro Consentido ser aceito. Ela estava com os pré-requisitos em perfeito estado. Iniciei a penetrações mais profundas e quanto mais eu a segurava, mais ela contraria a vagina numa tentativa de aliviar a dor, os gemidos mudaram de natureza lentamente, foram dos sons agudos que se deixam engolir com expirações prolongadas para explosões agudas e logo reprimidas – exatamente do jeito que me dava mais prazer. Segui por alguns minutos naquela ritual insano em que ela não passava dum mero receptáculo do meu sêmen ansioso para encontrá-la. Deixei meus olhos contemplarem a paisagem e mentalmente disse para o meu alvo: “quis vir comigo para um lugar primitivo igual a este?! Um lugar que só serve para atiçar o meus impulsos primais?! Então agora será tratada como uma fêmea primitiva e como tal será estuprada como as suas ancestrais!”

Quanto terminei o pensamento, todo o jorro de vida esvaiu-se de mim em dois bem marcados jatos que a fizerem esquecer a curta dor prévia: ela apreciou – e tod
as sempre apreciavam – aquele ritual que somente eu tinha consentimento pleno. E como não haveria de apreciar o retorno aos confins mais animalescos que habitam os recantos esquecidos do cérebro réptil? A agressividade tem em si um quê de prazer primitivo reprimido, uma vontade crua de passividade plena, uma essência una de exercer o papel primo da fêmea na natureza, e contra ele, as leis em si dispostas de tudo o que vive e morre. Não se luta, cabe somente a obediência plena, e não importa quais sejam as ideologias, elas todas se prostram ante as forças supremas dos papéis outrora definidos pelas relações primeiras, são canais para o mundo de prazeres profanos, criaturas perfeitas para os gozos perfeitos.


Recompomo-nos e seguimos no rastro dos outros. Um deles estava já retornando para nos localizar quando ela baixou a saia e ajeitou a calcinha. Posso ainda continuar com a histórica, mas o que me interessava expor aqui é somente o método pelo qual podemos esbanjar nossos desejos e saciar os delas de modo saudável... Ou quase.

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