Todos os
dias, ele tinha um ritual tão sagrado quanto os mais sacros dos
ritos: espioná-la. Ela morava no prédio do outro lado rua, eram
vizinhos de janela. Apesar de ela fechar as cortinas sempre que ia se
trocar antes de descer para a parada em frente do apartamento para
trabalhar era possível vislumbrar-lhe a silhueta. John sabia o
horário exato que deveria posicionar o seu olho certeiro entre as
cortinas da sua janela estrategicamente posicionada, sabia que
sempre, de segunda a sexta, com exceção nas quartas – quando ela
ia trabalhar em torno das 6h32min –, sabia ele que às 7h, com um
atraso ocasional de cinco minutos, ela estaria lá removendo a
camisola sedosa das formas macias, o sangue já corria violento pelo
corpo de John, sem perceber sua respiração ficava ofegante, os
sentidos primais projetavam-se além da rua, adentravam de assalto o
quarto dela e de seu corpo tomavam conta: o olfato deixava-se cair
chafurdado sobre o sexo da mulher, enterrava-se fundo nela e sugava
com o ar seus líquidos internos; o tato confuso tentava absorver
ensandecido todas as sensações do contato com a pele do corpo
inteiro, subindo e descendo dos seios às nádegas, sentido as curvas
e deixando-se fixar-se por uns poucos segundos no estreitamente da
cintura; os olhos singrando loucos todas as partes agora dominadas,
ia maximizando os demais sentidos, fechando-se rapidamente ante os
avanços do paladar, que absorvia o sabor de cada célula quase
fundindo-se com elas tamanha a força de seu percurso úmido do ânus
à boca passando pela vagina encharcada; a audição deixava-se
inundar pelos gemidos que não sabia ele ser de pavor ou prazer, e
quando dava-se em si os gemidos eram dele e só dele, suando e
ofegando olhava para si mesmo e via uma mão tomada de sêmen com
algum líquido jorrado na cortina, limpava-se rapidamente para vê-la
mais uma última vez na parada em frente de casa, naquela começo de
dia, lá estava ela, sempre com um vestido leve, hoje, ela estava com
o florido, John odiava aquele, porém não se importava, ele
caia-lhe bem de qualquer modo, assim como os cabelos lisos e talhados
com uma inclinação ascendente a partir da altura do pescoço, eles
iam-se subindo com esse corte até a nuca, os fios negros perdidos
quase sufocados pelas cabelos doirados em maior volume eram tal o
rosto branco com falhas perdoáveis um prêmio a ser conquistado e
cultivado – desse modo os pensamentos de John deixavam-se divagar,
mas não com a rudeza das palavras, antes formavam-se impressões
confusas que se manifestavam em sensações físicas contidas, tudo
mesclava-se numa nuvem de bem-estar que logo dissipava-se para ser
substituída por outra, aí ele pensava em como seria O homem para
ela e como ela deveria aceitá-lo por ele ser o único que até então
a amara verdadeiramente, seguia nesse auto-encanto por alguns minutos
todos os dias até que o toque do celular o impingia ao trabalho.
No
trabalho, entretanto, a produtividade do nosso amigo apaixonado ia-se
ao mundo das fantasias junto com John e sua amante de janela e lá
ficava com a cobiçada fazendo trabalhos que só no mundo dos
sonhadores tem forma, achegava-se até ele e sua amante, agora ambos
sentados sobre um toalha de piquenique perfeitamente desdobrada sobre
a relva reluzente, um sujeito carrancudo que só sabia falar “quer
um chocolate também? Quem sabe um cafezinho especial para um homem
especial?” Ao que respondia John: “claro, algo especial para um
homem especial e sua mulher especial; obrigado.” E sorria bobamente
enquanto olhava para ela ao mesmo tempo dando-lhe a mão em palma,
deixando os dedos cruzarem-se numa união afetuosa e recebendo em
troca um sorriso morno de alegria eterna que transmutava-se num rosto
barbudo com dentes amarelados pelo pior café que as repartições de
escritório podem oferecer:
“John! Parece que a sua mulher especial anda fazendo você bem feliz! Hahaha!”
“John! Parece que a sua mulher especial anda fazendo você bem feliz! Hahaha!”
O barbudo
apontava para uma mancha de sêmen não percebida por John antes de
sair e continuava:
“E
então? Qual foi o número? Aquela do última BBB? Ou será que você
prefere algo mais década de 90? Quem sabe uma Tiazinha ou
Feiticeira? Hahahha!”
Irrompeu o escritório quase que inteiro, ou melhor, no máximo, naquele momento, apenas aquela repartição em particular em riso tremendo que fez o nosso caro John procurar quase que convulsionado por um papel qualquer que lhe pudesse remover aquela mancha de seu estupro mental matutino e quem sabe recuperar-lhe alguma dignidade.
“Isso... I-i-i-i-isso não é o que você disse!”
“Ah, não?”
“Não!”
“Hehehe! Tanta faz – os risos diminuem e todos voltam pouco a pouco à simulação de trabalho habitual – tanto faz, John, o chefe precisa falar com você hoje de qualquer modo, e eu, como seu supervisor, precisava dar o aviso, considere-se avisado e, da próxima vez, limpe melhor as calças depois bater uma pra sua revista.”
Os risos que se tinham retirado voltaram furiosos outra vez enquanto John terminava a limpeza definitiva da sua vergonha matinal. Ainda meio atordoado e sem poder encontrar a lixeira, deixou por ali mesmo, em cima da mesa como pôde, a folha manchada de sêmen e foi ter com o chefe, coisa que até então havia feito somente umas duas vezes em quatro anos de escritório: uma, no processo de seleção; outra, para justificar uma falta quando a mãe morreu de câncer no hospital público da cidade. Bateu timidamente na porta e não foi sequer ouvido, o chefe, poderia chamá-lo de Silveira ou de outro nome estereotipado qualquer, mas seja qual for o chefe, a ascensão deles não será muito diferente do que nos ensina a Lei de Parkinson, de sorte que vou chamá-lo mesmo de Silveira, apesar de ele não mais ser personagem importante após esta cena que muito nos ensinará sobre a personalidade do nosso amigo John; estava ali o Silveira, afinal, com a careca dos seus cinquenta anos já bem evoluída e flanqueada pelos últimos tufos de cabelo apontada para a porta, o brilho coroando décadas de trabalho na mesma empresa serviam como um estímulo aos mais dedicados e como repúdio aos menos. John bateu novamente, agora com mais força. Um olhar rápido que fez franzir o cenho do Silveira seguido de um chamado com a mão enquanto ele voltava à tarefa mecânica de revisar a contabilidade da semana. Jonh entrou e ficou parado ao lado da cadeira de espaldar alto, porém inferior ao do Silveira, este, apontando com certa impaciência a cadeira, pedia para o subalterno sentar-se, Jonh assentiu com certa moleza de corpo que o fez ter um cuidado sobrenatural ao manobrar a cadeira, ao sentar-se nem o peso todo permitiu que ela recebesse, atendendo aos comandos de “fique à vontade” do Silveira, ele foi deixando o peso tomar lugar, ao que a cadeira só respondeu com um quase cômico rangido que gerou todo o desconforto que John esperava evitar, mesmo que o som tenha durado não mais que alguns segundos, pareceu a ambos que nada poderia ser tratado até que ele cessasse por completo, por fim, o Silveira, pigarreando, começou:
Irrompeu o escritório quase que inteiro, ou melhor, no máximo, naquele momento, apenas aquela repartição em particular em riso tremendo que fez o nosso caro John procurar quase que convulsionado por um papel qualquer que lhe pudesse remover aquela mancha de seu estupro mental matutino e quem sabe recuperar-lhe alguma dignidade.
“Isso... I-i-i-i-isso não é o que você disse!”
“Ah, não?”
“Não!”
“Hehehe! Tanta faz – os risos diminuem e todos voltam pouco a pouco à simulação de trabalho habitual – tanto faz, John, o chefe precisa falar com você hoje de qualquer modo, e eu, como seu supervisor, precisava dar o aviso, considere-se avisado e, da próxima vez, limpe melhor as calças depois bater uma pra sua revista.”
Os risos que se tinham retirado voltaram furiosos outra vez enquanto John terminava a limpeza definitiva da sua vergonha matinal. Ainda meio atordoado e sem poder encontrar a lixeira, deixou por ali mesmo, em cima da mesa como pôde, a folha manchada de sêmen e foi ter com o chefe, coisa que até então havia feito somente umas duas vezes em quatro anos de escritório: uma, no processo de seleção; outra, para justificar uma falta quando a mãe morreu de câncer no hospital público da cidade. Bateu timidamente na porta e não foi sequer ouvido, o chefe, poderia chamá-lo de Silveira ou de outro nome estereotipado qualquer, mas seja qual for o chefe, a ascensão deles não será muito diferente do que nos ensina a Lei de Parkinson, de sorte que vou chamá-lo mesmo de Silveira, apesar de ele não mais ser personagem importante após esta cena que muito nos ensinará sobre a personalidade do nosso amigo John; estava ali o Silveira, afinal, com a careca dos seus cinquenta anos já bem evoluída e flanqueada pelos últimos tufos de cabelo apontada para a porta, o brilho coroando décadas de trabalho na mesma empresa serviam como um estímulo aos mais dedicados e como repúdio aos menos. John bateu novamente, agora com mais força. Um olhar rápido que fez franzir o cenho do Silveira seguido de um chamado com a mão enquanto ele voltava à tarefa mecânica de revisar a contabilidade da semana. Jonh entrou e ficou parado ao lado da cadeira de espaldar alto, porém inferior ao do Silveira, este, apontando com certa impaciência a cadeira, pedia para o subalterno sentar-se, Jonh assentiu com certa moleza de corpo que o fez ter um cuidado sobrenatural ao manobrar a cadeira, ao sentar-se nem o peso todo permitiu que ela recebesse, atendendo aos comandos de “fique à vontade” do Silveira, ele foi deixando o peso tomar lugar, ao que a cadeira só respondeu com um quase cômico rangido que gerou todo o desconforto que John esperava evitar, mesmo que o som tenha durado não mais que alguns segundos, pareceu a ambos que nada poderia ser tratado até que ele cessasse por completo, por fim, o Silveira, pigarreando, começou:
“Então,
Jon...”
Erguendo timidamente o dedo e avançando com temor: “John.”
Após aquiescer com a cabeça, continuou: “John. Pois bem, John, andamos observando seus dados de produtividade e....”
Avançando um pouco mais que antes e desta vez com a mão espalmada num sinal de pare: “eu posso explicar, senhor Silvei...”
Com a mão aberta e firme, fazendo com que o outro recue momentaneamente, antes com ambos os cotovelos fincados sobre a mesa, agora, o Silveira recua, abre um pouco as pernas, deixa um cotovela solto num braço da cadeira, o outro apoiado com a mão suspensa e gesticulando espaçosamente:
Erguendo timidamente o dedo e avançando com temor: “John.”
Após aquiescer com a cabeça, continuou: “John. Pois bem, John, andamos observando seus dados de produtividade e....”
Avançando um pouco mais que antes e desta vez com a mão espalmada num sinal de pare: “eu posso explicar, senhor Silvei...”
Com a mão aberta e firme, fazendo com que o outro recue momentaneamente, antes com ambos os cotovelos fincados sobre a mesa, agora, o Silveira recua, abre um pouco as pernas, deixa um cotovela solto num braço da cadeira, o outro apoiado com a mão suspensa e gesticulando espaçosamente:
“John,
sua produtividade está abaixo da nossa política interna, além
disso, devo ser franco: você tem problemas de relacionamento com os
demais colaboradores...”
Os mesmo gestos repetem-se, o Silveira retoma o discurso: “O fato é, John: agradecemos sua colaboração pra nossa empresa, mas, infelizmente, teremos que encerrar nosso contrato.”
Os mesmo gestos repetem-se, o Silveira retoma o discurso: “O fato é, John: agradecemos sua colaboração pra nossa empresa, mas, infelizmente, teremos que encerrar nosso contrato.”
John
deixou o pescoço levar a cabeça para todas as direções da sala,
com uma das mãos coçava-se freneticamente por breve tempo e então
deixava a mão cair sobre o colo, os olhos arregalados, pouco a pouco
foi retomando a razão, levantou-se, olhou para o Silveira e abriu a
porta, o chefe interrompeu-o:
“E, só mais uma coisa, Jon, o seu último relatório, poderia deixar ele aqui antes de ir?”
Sem se virar: “claro.”
Cruzou ainda com o barbudo pelo corredor “boas notícias, John?” que seguiu rindo com outros que estavam ali matando trabalho enviando um pouco de café pra dentro do estômago.
John procurou pelo papel com uma tranquildiade maior do que estava habituado, mas tão logo começou a pensar nas dívidas do mês, na dificuldade em encontrar outro emprego, nos quatro anos que tinha investido naquele, nos quase trinta anos que lhe atingiam as carnes, começou a suar, a tremer, abriu um botão da camisa, se não encontrasse aquele documento, a notícia poderia espalhar-se, ele poderia ser taxado como uma incompetente completo, isso poderia arruiná-lo, talvez, tivesse que mudar de bairro e pior, afastar-se dela, como poderia aproximar-se dela sem qualquer condição financeira? Tinha que encontrar aquele papel, tinha certeza que o trabalho havia sido bem feito, quem sabe eles poderiam reconsiderar a demissão? Nunca se sabe. Por cima do computador, entre outras folhas encontrou a que procurava, um tanto abarrotada, mas legível, todo o relatório do mês, com um média maior do que as dos últimos e por uma boa razão: pretendia abordá-la finalmente, pretendia convidá-la para sair e queria levá-la a um lugar caro, de classe, o que necessitava mais dinheiro, John estava disposto a trabalhar duro para dar o que ela merecia, por isso o esforço, depois dos primeiros meses de queda, estava em alta cada vez maior. Seria sua salvação, ser demitido era tudo o que ele não precisava agora. Um tanto estabanado, foi-se, mais confiante, à sala do Silveira, bateu na porta com mais força e com um sorriso metade satisfação metade forçado entregou em mãos o documento e com uma segurança incomum proferiu, apesar dos tropeços:
“Espero que o senhor analise o meu trabalho do mês e perceba que... que os meus últimos resultados... foram apenas pontuais, este mês, a minha produtividade, o senhor verá, foi, foi muito maior que toda a minha média e até até mesmo a dos meus colegas.”
“Vou ver sim, Jon.”
“E, só mais uma coisa, Jon, o seu último relatório, poderia deixar ele aqui antes de ir?”
Sem se virar: “claro.”
Cruzou ainda com o barbudo pelo corredor “boas notícias, John?” que seguiu rindo com outros que estavam ali matando trabalho enviando um pouco de café pra dentro do estômago.
John procurou pelo papel com uma tranquildiade maior do que estava habituado, mas tão logo começou a pensar nas dívidas do mês, na dificuldade em encontrar outro emprego, nos quatro anos que tinha investido naquele, nos quase trinta anos que lhe atingiam as carnes, começou a suar, a tremer, abriu um botão da camisa, se não encontrasse aquele documento, a notícia poderia espalhar-se, ele poderia ser taxado como uma incompetente completo, isso poderia arruiná-lo, talvez, tivesse que mudar de bairro e pior, afastar-se dela, como poderia aproximar-se dela sem qualquer condição financeira? Tinha que encontrar aquele papel, tinha certeza que o trabalho havia sido bem feito, quem sabe eles poderiam reconsiderar a demissão? Nunca se sabe. Por cima do computador, entre outras folhas encontrou a que procurava, um tanto abarrotada, mas legível, todo o relatório do mês, com um média maior do que as dos últimos e por uma boa razão: pretendia abordá-la finalmente, pretendia convidá-la para sair e queria levá-la a um lugar caro, de classe, o que necessitava mais dinheiro, John estava disposto a trabalhar duro para dar o que ela merecia, por isso o esforço, depois dos primeiros meses de queda, estava em alta cada vez maior. Seria sua salvação, ser demitido era tudo o que ele não precisava agora. Um tanto estabanado, foi-se, mais confiante, à sala do Silveira, bateu na porta com mais força e com um sorriso metade satisfação metade forçado entregou em mãos o documento e com uma segurança incomum proferiu, apesar dos tropeços:
“Espero que o senhor analise o meu trabalho do mês e perceba que... que os meus últimos resultados... foram apenas pontuais, este mês, a minha produtividade, o senhor verá, foi, foi muito maior que toda a minha média e até até mesmo a dos meus colegas.”
“Vou ver sim, Jon.”
“É
John, senhor.”
“Sim, sim, Jon, pode ir agora, entraremos em contato.”
“Sim, sim, Jon, pode ir agora, entraremos em contato.”
Dias
depois, John recebia a notícia: seria demitido por justa causa. O
motivo: baixa produtividade com o agravante de ter entregado um
relatório com sêmen ao chefe, a empresa esclarecia que dadas as
circunstâncias e a afronta, John deveria sentir-se feliz por não
ser processado e ter que pagar uma indenização para o Silveira.
Deixou o pedaço de papel cair das mãos e com o corpo fez o mesmo
mas em relação a si mesmo: já não desabou de vez porque a cadeira
o segurou. Os olhos fizeram-se lentamente em líquido, o rosto tentou
retê-los, torná-los duros novamente, no entanto, parecia que quanto
mais se esforçava para mantê-los secos, mais eles cismavam em
molhar-se, o rosto contorceu-se em horrível careta, as sobrancelhas
aproximaram-se e inclinaram-se, mas em vez de raiva só serviram para
expulsar as lágrimas inutilmente represadas. As costas
arredondaram-se sobre o corpo, as mãos avançaram para refrear o
fluxo de sofrimento, e John deixou-se lentamente escorregar-se da
cadeira para fazer do tampo dela o receptáculo do seu choro agora
convulsionado. Já encharcado pelo fracasso, permitiu-se, enfim,
fazer do chão o local do seu pranto, dobrado em si mesmo e
deixando-se ser banhado pelos olhos e pelo nariz, no piso permaneceu
até que o sol inicia-se seu trajeto insensível aos sofrimentos
humanos rumo a outras paragens terrestres, onde, certamente, outros
iguais a John estariam também derramando suas lamúrias solitárias
sobre insensíveis objetos. Mas como que removido de um encanto, John
sentiu-se pouco a pouco leve, apoiando-se na cadeira e assaltado por
um ou outro espasmo que em lugar de sofrimento traziam ânimo,
levantou-se. A mente em um átimo lembrou-se: ela estaria lá, agora,
do outro lado da janela, toda dele em um deleite solitário que
haveria um dia de fazer-se completo e verdadeiro.
Por entre
as cortinas, como era-lhe de praxe, enfiou os dedos, agora um tanto
trêmulo, e viu na outra janela não a mulher cobiçada, era um
brutamontes moreno que parecia estar puxando algo, os músculos dos
braços retesadas denunciavam o peso da carga, a diferença de porte
entre John e aquele homem asqueroso, pensava ele, na certa era o
motivo do porque ela estar com ele e não com John, olhou os próprios
braços com vergonha, amaciou e puxou os bíceps, possesso pela
constatação da própria fraqueza, rosnou com os dentes cerrados:
“vagabunda”. Com o rosto rasgado por rugas de cólera, voltou a
observar o apartamento da vizinha. Um alívio primaveril de ex-virgem
de cinco minutos fê-lo deixar o ar escapar comprido e aliviado: não
era aquele sujeito um rival vil, era somente o ajudante de mudança
do velho barrigudo que agora estava parlando com ela e recebendo de
suas mãos delicadas um cheque.
“Não!” – fugiu-lhe da garganta – “Ela não pode fazer isso comigo! Ela não pode se mudar!”
“Não!” – fugiu-lhe da garganta – “Ela não pode fazer isso comigo! Ela não pode se mudar!”
Mas como
John poderia impedi-la. Tudo já estava pronto, a mudança já estava
no fim, ela talvez já tivesse pago o aluguel do apartamento ou casa
para onde iria. Quem sabe, ela poderia estar mesmo indo embora da
cidade! Seria o fim para John, o esfacelamento de todo um sonho, não
só sonhos, objetivos concretos que se formavam a cada dia investido
a observá-la. Algo deveria ser feito, e agora, ele deveria tomar uma
atitude, não ser mais um homem passivo fadado a ser enterrado ao
lado de outros homens fracos e patéticos que se recusaram a tomar
controle de suas vidas, que aceitaram viver vidas medíocres com
mulheres problemáticas, que se submeteram às ordens de outro homem,
sendo passivos a eles durante décadas enquanto viam as oportunidades
escorrerem para o ralo. Uma íntima força de vontade expandiu-se
dentro de John, ele agora sentia que poderia falar com ela e
convencê-la a ficar, mas: poderia mesmo tê-la agora. Poderia ter
qualquer coisa do mundo, tudo estava ao seu alcance.
Sem pensar, desceu as escadarias do prédio sem elevador, atravessou a rua sem se importar com os carros e seus motoristas estressados, aproveitou-se da passagem aberta que uma senhora com sacolas de compra lhe dera na entrada do prédio e quando se viu frente à porta dele, tocou a campainha ser exitar. Nunca antes tinha sentido aquela sensação, não era como das desastradas vezes em que havia tentado aproximar-se das mulheres só para ser humilhado, não se sentiu ansioso e nem qualquer pensando de sabotagem o afligia. Sabia exatamente o que deveria fazer, era como se um bloqueio de décadas houvesse sido removido para deixar fluir todo o conhecimento ancestral da corte para suas ações.
Quando ela surge com seu curto cabelo doirado, a leveza característica, a pele cobiçada, os lábios bem formados, John não tem dúvidas do que fazer: olha-a diretamente . Os lábios dela afastam-se levemente e seus olhos alternam-se em visar os olhos e os lábios de John. Sem esforço, enleiam-se num amplexo fogoso enquanto suas bocas friccionam-se num ósculo salivoso e apaixonado. Por minutos ficam ambos entregues às delícias de Eros até que ela diz:
Sem pensar, desceu as escadarias do prédio sem elevador, atravessou a rua sem se importar com os carros e seus motoristas estressados, aproveitou-se da passagem aberta que uma senhora com sacolas de compra lhe dera na entrada do prédio e quando se viu frente à porta dele, tocou a campainha ser exitar. Nunca antes tinha sentido aquela sensação, não era como das desastradas vezes em que havia tentado aproximar-se das mulheres só para ser humilhado, não se sentiu ansioso e nem qualquer pensando de sabotagem o afligia. Sabia exatamente o que deveria fazer, era como se um bloqueio de décadas houvesse sido removido para deixar fluir todo o conhecimento ancestral da corte para suas ações.
Quando ela surge com seu curto cabelo doirado, a leveza característica, a pele cobiçada, os lábios bem formados, John não tem dúvidas do que fazer: olha-a diretamente . Os lábios dela afastam-se levemente e seus olhos alternam-se em visar os olhos e os lábios de John. Sem esforço, enleiam-se num amplexo fogoso enquanto suas bocas friccionam-se num ósculo salivoso e apaixonado. Por minutos ficam ambos entregues às delícias de Eros até que ela diz:
- Eu
sempre soube de você, esperava ansiosamente que viesse até mim.
- Eu te
amo!
- Eu
também te amo, John!
Então o
som de um caminhão sendo ligado e a voz dela remove-o do torpor, que
em vez de abraços e beijos só gerara uma linha de saliva pendendo
da boca entreaberta do sonhador.
- Eu vou
na frente, vocês me seguem.
- Sim,
senhora!
O
motorista e o ajudante ainda se deram o prazer de ficar um tempo
parados atrás do caminhão para espiar o balançar das ancas dela
enquanto se dirigia ao carro.
- Porcos
imundos!
A batida
da porta do carro dela fê-lo despertar da raiva fugida da arcada
semi-fechada de ciúmes e raiva. Não poderia deixá-la partir dessa
forma, precisava saber para onde estava indo. Teria que segui-la, não
tinha outro jeito. Mas como? Todo o dinheiro do mês estava contato e
também nem carro tinha. John pensou em pegar um ônibus, o primeiro
que aparecesse. Com alguma sorte, ele poderia ir na mesma direção
que ela, porém, logo abandonou a ideia: sorte não era o tipo de
coisa que costumava ser de alguma serventia para ele. A única opção
seria um táxi, mesmo que a renda do mês fosse toda comprometida.
Com a resolução tomada, pôs-se a vasculhar as redondezas da rua em
busca de algum. Lá estava: parado entre os carros congestionados.
Teria que ser ele. Desceu as escadas com ainda mais ânsia que a
fantasia passada, precipitou-se entre os carros ao mesmo tempo em que
a observava com o canto dos olhos. Ziguezaguiou por entre os
automóveis ignorando completamente os xingamentos e buzinaços dos
motoristas até finalmente chegar ao seu objetivo. Entrou no carro ao
mesmo tempo que uma velhinha.
- Dá o fora, mano, a senhora chegou antes.
- Dá o fora, mano, a senhora chegou antes.
- Você
não entende, eu preciso...
- Não me
interessa o que você precisa, ela chegou primeiro.
- É!
Esses jovens de hoje!
- Mas...
- Mas
nada, maluco, dá o fora ou quebro suas fuças!
- É! Seu
mal educado! Vai roubar o lugar de uma senhora? Quer que eu chame a
polícia, é?
- Não,
eu...
- Dá o
fora!
- Eu pago
o dobro pela corrida!
- Minha
senhora, minha cota pras velhos acabou por hoje, tenha a bondade de
se retirar.
- O quê?
Seu mal criado!
- Dá o
fora, minha senhora!
- Eu
vou...
- É! É!
Chama ar a policia, eu sei. Então vá! Só dá o fora do meu táxi!
- Seu!
E saiu
resmungando.
- Que vai
ser, maluco?
- Siga
aquela carro!
- Você é
algum tipo de tarado?
- Quer
ganhar o dobro pela corrida ou não?
- Tanto
faz. Se você quer pagar, problema seu, melhor nem saber do que se
trata. Bora! Porra de trânsito...
E
resmungou também. Do outro lado da rua, a velha ia reclamando com as
pessoas que esperavam bovinamente o ônibus. O trânsito seguiu, e
pelo retrovisor, o taxista ainda pôde ver o dedo médio da boa
senhora apontado para ele com todo o vigor daquelas noventa e sete
anos mais ou menos bem vividos – não pôde deixar de retribuir o
gesto. No banco de atrás, John coçava o queixo com impaciência por
um breve segundo para em seguida tamborilar os dedos rapidamente no
apoio para cotovelo da porta enquanto a cabeça se virava para os
lados como que procurando alguma coisa que estava perdida, vez ou
outra mordia os lábios e apertava os dentes uns contra os outros,
também não deixou de alertar o taxista sobre a importância
daquele momento.
- Eu sei!
Eu sei! Fica frio, não vou perder o carro de vista. Relaxa aí,
maluco!
John
colou-se por todo trajeto depois disso. No entanto, mais pela forma
ríspida como a mensagem foi dita que pela suposta segurança que ela
deveria transmitir.
- Tamo
lá. Quarenta.
- Mas o
taxímetro diz dez, então eu pago vinte.
- Sem
chance, quarenta ou você vai sair desse táxi com o olho roxo,
maluco. Fez eu perder a corrida com a velhota pra me fazer dá a
volta na quadra, tão paga porque aquela velha ia querer ir bem mais
longe que isso.
Contrariado,
largou nota de cinquenta por cima do câmbio e saiu apressado do
carro, mas ainda em tempo de ouvir os resmungos do taxista.
- Filho
da puta maníaco! Não joga a grana assim não!
Ao
aproximar-se dela, deixou os passos ficarem mais lentos e tentou
simular alguma tranquilidade. Com um sorriso cerrado, desses que a
gente vê sendo esboçados por colegas de trabalho e vizinhos. Ela
deixou escapar um “oi” para o transeunte que a observava
exitosamente. John, um tanto suado pela situação de nervosismo
anterior, sentiu o corpo esquentar-se como se estivesse com febre,
gaguejando, deixou um “oi” tímida e fraco fugir da garganta
enquanto baixava a cabeça, encolhia-se e acelerava o passo. Quando
teve a chance, dobrou uma esquina e encostou-se numa árvore.
- Burro!
Burro! O que foi aquilo.
Aquilo
havia sido o máximo que ele jamais tinha se aproximado dela. Nunca,
em situação alguma, ela tinha falado para ele qualquer palavra que
fosse. Em duas situações, uma no shopping e outra numa sorveteria,
tinha-se dado o direito de aproximar-se dela, sentar perto, numa mesa
próxima da praça de alimentação, mas só. Ficara tão paralisado
só em pensar que estava respirando aquele mesmo ar que ela respirava
que não podia nem ao mesmo respirar normalmente. Ali, agora, o mesmo
efeito, a mesma paralisia, o nervosismo debilitante que sempre o
atormentava toda vez que tentava conversar com uma mulher. Mesmo com
prostitutas de internet acontecia aquilo com John. Contudo, não
importava mais, agora ele sabia onde ela estava morando. Só o que
teria que fazer era mudar-se para o prédio da frente, para um
apartamento com uma janela adequadamente posicionada.
As
soluções simples assaltavam a mente de John, ignorava ele todos os
problemas, a demissão, o orçamento limitante, a formação
deficiente que o deixaria fora do mercado do trabalho ou fadado a
receber bem menos que o necessário para os seus planos grandiosos,
nada disso o atormentava de pronto até chegar em casa e constatar a
situação miserável em que vivia: as roupas, em vez de lavá-las,
preferia deixar ao sol, o que fazia parte do cheiro de suor ir
embora, mas nunca em definitivo; a cozinha estava sempre abarrotada
de pratos sujos, alguns copos aqui e ali, latas vazias de
refrigerante e outros alimentos insalubres: bolachas
industrializadas; pizzas congeladas; frituras; etc. As baratas ali
reinavam incontestes. Todo o resto do apartamento era igualmente
abandonado. O banheiro, nem mesmo ele o suportava mais, o ralo do
chuveiro ia-se entupido fazia meses, mas em vez de resolver o
problema, limitava-se a fechar o registro para se ensaboar quando a
água superava a limitada capacidade de escoamento do cano entupido
de fios de cabelo, sujeira, fezes, sêmen e toda sorte de dejetos que
desprenderam das mais de dez dúzias de seres humanos que já haviam
morado naquele apartamento suburbano a esquecido mesmo pelo próprio
dono, menos, claro, nos dias de cobrança, que agora batia a porta.
- O
aluguel.
- O
senhor não poderia me dar alguns dias?
- Alguns
dias? Claro, claro, jovem.
- Oh!
Obrigado!
- Com
juros de mora de dez por cento ao dia, posso, sim, dar alguns dias,
jovem. Volto na semana que vem e quero o dinheiro com juros. Tenha um
bom-dia, Jon.
- É
John!
Já
estava de costas descendo as escadas com um vigor incomum para um
homem que aparentava tanta velhice. John fechou a porta e ficou com
as mãos apoiadas nela por alguns minutos, olhou para baixo e viu
duas gotas tímidas pingaram sobre o chão; olhos, em pouco,
encheram-se mais uma vez de água e o corpo deixou escorrer
novamente. Socou o chão quando a ele já estava fundido e ali
permaneceu uma vez mais remoendo seu fracasso.
- Qual o
problema comigo!
Repetiu e
repetiu como que esperando uma resposta divina que o tornaria
aceitável para todas as pessoas que só sabiam demonstrar depresso
por ele. Às vezes, socava a chão num ato de violência reprimida
que foi sendo apaziguada pela dor crescente no punho, até que
finalmente cessou toda a lamúria para tomar o seu lugar a vergonha
por não ser o senhor de si mesmo, nem dos sentimentos, nem da vida
social, nem da profissional, nem mesmo da financeira, conseguiu não
só ser um fardo para os ouros, como para si mesmo, e um farto bruto
e fedorento, descartável e que seria esquecido assim que morresse.
Ao passo que ia sua vida, pensava John, não haveria de ser diferente
dos milhares de indigentes que abundavam as gavetas dos necrotérios,
seria mais dos milhões de esquecidos pela humanidade, o lixo social
sem voz nem presença, o tipo de pessoa de quem nada se espera além
de decepções, se é que poderia ao menos ser considerado uma
pessoal, não era, de longe, perto de uma, e como poderia sê-lo? A
esses pensamentos de auto-mutilação, John sempre acrescentava algum
fio de esperança, repetia como deixaria de ser um tolo, de querer
agradar quem não o respeitava, de como iria fazer fortuna com uma
ideia genial, fazia então listas de objetivos que dali alguns dias
não passavam de sonhos esquecidos em pedaços de papel e também não
conseguia livrar-se dos fardos que o atrasavam, dos amigos pouco ou
nada produtivos, em sua maioria adolescentes, que consumiam seu tempo
com tolices e futilidades, nem melhorava no trabalho ou conseguia
qualquer capital extra. O padrão parecia perene. Mas agora, agora
algo diferente o impulsionava, manifestava-se uma energia nova dentro
de John, uma vontade ímpar que o impelia a novos movimentos, ela
seria o foco da melhora, mas não seria ela somente o tipo de pessoa
que ele tanto ansiava agradar e que só lhe causaria mais tristezas?
John não via a situação assim e nem poderia porque estava
envolvido emocionalmente de modo irreversível, só a destruição de
si mesmo e o total esfacelamento da sua mente poderiam despertar o
resto da tragédia que John estava disposto a fazer a si mesmo, e ele
seguiria guiado por esse impulso sem que ninguém pudesse
impedi-lo.
Determinou a si mesmo que iria superar o medo que tinha dela, que iria conquistá-la, do que adiantaria ir atrás de um novo emprego agora ou fazer novos amigos ou seja o que for sem tê-la antes? Deveria demonstrar agora toda a atitude reprimida por anos de ideias erradas, só assim poderia conquistar não só ela, mas todos os objetivos da sua vida. Assim, no dia seguinte, juntou o pouco dinheiro que tinha, reservou duas mesas num dos melhores restaurantes da cidade, foi ao alfaiate, comprou novas roupas, um par de sapatos, flores. Alugou um carro com motorista particular. Ela não teria como recusar um encontro quando ele batesse na sua porta e declarasse todo o amor que sentia por ela – pensou John. Seria como nos filmes: desde criança sempre via suas primas abismadas por aquelas cenas românticas espontâneas, ansiosas por um dia serem agraciadas com uma demonstração de amor sincero. Não pensava John, por outro lado, que aquela reação de adolescentes era nada mais que uma catarse suscitada pelo acumulação de sentimentos outros que se escalonavam num miríade de desejos ocultos e paixões forjadas que eram trabalhados pelos autores daquelas historietas até o ápice duma emoção virtual que jamais poderia ser sensibilizada por roupas e sapatos novos, um motorista particular, flores e uma declaração sincera de amor. Não era o que John sentia por ela o que importava, e sim, o que ela sentia por John. Mas como todo apaixonado, pensava ele seu amor bastar, achava que oferecendo-lhe o mundo, o seu amor e promessas de felicidade tudo estaria acabado, fantasiava com veemência que ele era o bastante para ambos e que ela, ao ver toda o respeito e paixão e amor dele iria ser iluminada por uma luz de entendimento que não poderia dizer senão: ame-o também, pois nunca houve alguém que a amou tanto. No entanto, a realidade costuma ser diferente do que pensamos, e fico cá bem aborrecido em ter que descrever o que acontecerá a John e seu sonho infantil, todavia, tenho de fazê-lo, então que seja rápido, como de fato foi, para que a dor seja mitigada.
Determinou a si mesmo que iria superar o medo que tinha dela, que iria conquistá-la, do que adiantaria ir atrás de um novo emprego agora ou fazer novos amigos ou seja o que for sem tê-la antes? Deveria demonstrar agora toda a atitude reprimida por anos de ideias erradas, só assim poderia conquistar não só ela, mas todos os objetivos da sua vida. Assim, no dia seguinte, juntou o pouco dinheiro que tinha, reservou duas mesas num dos melhores restaurantes da cidade, foi ao alfaiate, comprou novas roupas, um par de sapatos, flores. Alugou um carro com motorista particular. Ela não teria como recusar um encontro quando ele batesse na sua porta e declarasse todo o amor que sentia por ela – pensou John. Seria como nos filmes: desde criança sempre via suas primas abismadas por aquelas cenas românticas espontâneas, ansiosas por um dia serem agraciadas com uma demonstração de amor sincero. Não pensava John, por outro lado, que aquela reação de adolescentes era nada mais que uma catarse suscitada pelo acumulação de sentimentos outros que se escalonavam num miríade de desejos ocultos e paixões forjadas que eram trabalhados pelos autores daquelas historietas até o ápice duma emoção virtual que jamais poderia ser sensibilizada por roupas e sapatos novos, um motorista particular, flores e uma declaração sincera de amor. Não era o que John sentia por ela o que importava, e sim, o que ela sentia por John. Mas como todo apaixonado, pensava ele seu amor bastar, achava que oferecendo-lhe o mundo, o seu amor e promessas de felicidade tudo estaria acabado, fantasiava com veemência que ele era o bastante para ambos e que ela, ao ver toda o respeito e paixão e amor dele iria ser iluminada por uma luz de entendimento que não poderia dizer senão: ame-o também, pois nunca houve alguém que a amou tanto. No entanto, a realidade costuma ser diferente do que pensamos, e fico cá bem aborrecido em ter que descrever o que acontecerá a John e seu sonho infantil, todavia, tenho de fazê-lo, então que seja rápido, como de fato foi, para que a dor seja mitigada.
Vestido
a rigor. Com as flores na mão em frente à porta dela. O carro negro
com o motorista particular aguardando. A mesa reservada. Os sapatos
brilhando. O nervosismo sob controle, mesmo que à base de calmantes.
Toca a campainha. Toca novamente. Passos. Deveria ter tomado mais
calmantes. Ela abre a porta.
- Sim?
- Ãh...
- Sim? Eu conheço você?
- Bem...
- …
- Eu preciso falar algo. Eu... Que se dane... Eu te amo! Sempre te
amei! Sempre quis falar com você, mas nunca tive coragem. Agora,
agora eu tenho! Eu vim aqui hoje pra...
Bateu a porta na cara. Ouviu-se vozes femininas rindo no interior da
casa. Os olhos arregalados, paralisados. As flores no chão. O
motorista impaciente.
- Ei! Onde você vai? Ei! Como fica o serviço? Ei! Vou dar o fora!
Ei!
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