VAI-E-VEM BESTIAL


Jogo-me do precipício. Mas não caio. Fico voando. Em plena e VULGAR contemplação.

Vejo uma moça. Sapatos de salto alto. Não entendo como consegue suportá-los. Mas lhe cai bem. Vestido vermelho. Gosto de vermelho. É forte. É sublime. Único.

Ela dança. O salão é branco. Muito branco. Chega a doer os olhos a luz que do teto por ele emana. Ela dança. Eu observo.

Mas então. Aquilo que poderia se tornar uma descrição romântica e poética. Está prestes a acabar.

Eis que surge um Javali. Ele caminha. Sim. Sobre as duas patas. As dianteiras com feições humanas.

Ele corre em minha direção. Acho que não era pra eu estar ali. Mas há uma barreira entre nós.  Ele não consegue ultrapassá-la. Sorte a minha.

Acendo um cigarro e fico olhando. Ele se volta para a dama. Que dança. Agarra-a. Agonizadamente. Ela tenta livrar-se da fera. Até me olha. Como se me pedisse socorro. Não posso entrar lá. Na verdade talvez nem queira entrar lá.

O javali ergue-lhe o vestido. Ela vai cedendo aos poucos. Ele vai penetrando. Enquanto encosta sua língua de javali na bela moça.

O vestido erguido. O Javali penetrando-a. De pé. Sustento-a pelos braços de fera e solta gemidos estranhos.

Ela olha pro nada. Mas vez ou outra sorri. Ele continua o VAI-E-VEM-BESTIAL. Eu olho e fumo. Não sinto Nada. Ele para. Está feito. Terminado.

O JAVALI some.

A MOÇA dança.

Eu flutuo em direção às outras cenas.

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