Nesta edição, quatro contos satisfarão seus desejos depravados. Míseros quatro contos oriundos da massa cinzenta, envolta em brumas de depravação, que habita nossas cacholas. Bundas
que salvam vidas. Cabeças que destroem. Vontades que não se
realizam. Sonhos que já se foram. Seres que sabem fazer uma boa
sacanagem. Uma poética mista de fatos sangrentos, viscosos,
apocalípticos, oníricos. Recheada de cores insinuantes. Deixe sua mente perder-se. Excite-se com os sentimentos mais sórdidos. O fim do mundo está sempre próximo, depravar-se é a saída. Melem-se de luxúria. A HOT surge
e deseja-lhes uma boa fornicação, mesmo que solitariamente.
COMUNICADO EXTRAORDINÁRIO
Vimos esclarecer a ausência dos contos do Sr. Insônia nesta
edição. Esperando seus contos e não entendendo a demora, achamos que
o mesmo havia sucumbido a profundos problemas intestinais que,
pasmem, interferem em nossas escritas escatológicas, pois nossas
entranhas, assim como nossos órgãos genitais, são de muita
importância para nosso processo criativo. Depois achamos que ele
podia ter entrado em uma demorada e possivelmente eterna conversa
sobre a vida com seu pau. Isso destrói qualquer poeta depravado. Mas
por fim, eis a real história: ficamos sabemos que depois de muito
tempo, ironicamente, o Sr. Insônia adormeceu. Está entregue aos
encantos oníricos em meio a belas pernas e bucetinhas. Aconchegado.
Sua volta desse mundo, nos trará bons frutos.
A BUNDA APOCALÍPTICA
Eu nunca morri. Eis uma verdade. Algumas vezes , quase. Mas de fato,
concreto, nunca. Naquele dia havia uma bunda muito linda por ali. E
só depois daquele dia eu poderia morrer. Era tão bela bunda que meu
desejo de tocá-la, mordê-la e afins me foi, por mim mesmo, proibido de
em prática ser posto. Só o desejo bastava. Uma espécie de desejo
metafísico. Como os poemas de Camões, mas sem ser poesia. Minto.
Era poesia sim. Desejo é poesia. E poesia é vida. Mas voltemos à bunda. Fiquei olhando. Ela mexia-se levemente ao som da música. Que
música era? Perguntar-me-iam. Não importa, responde-los-ia. Pois o que
importava era a….(deduzam vocês mesmos). Não via o rosto, o rosto
que carregava a bunda. Só o cabelo e as costas. Cabelo negro.
Ondulado e que sem encostar, quase encostava na bunda. O cabelo era,
quase, uma representação materializada do meu desejo.
Um homem passou correndo, correndo vagarosamente e gritando: - O mundo
vai acabar. Um imenso asteroide na terra irá chegar!
CEFALOFILIA
Depois
de um fim de semana dedicado à leitura de textos que não lhe
interessavam, ele pensou em como seria a noite, se ele deveria
estuprá-la ou deixar-se estuprar por ela, se ele deveria abandonar o
seu leito quente e cercado de baratas, a solidão adolescente
manifesta em carnes de três décadas ou simplesmente padecer
pensando em como as coisas poderiam ter sido, algo que muito lhe
agradava, talvez até mais que viver a vida plena, às vezes, os
pensamentos dele mergulham tão fundos, que somete eles
satisfazem-no. Desse fenômeno, ele foi vítima esses dias.
Obrigado
a enfrentar a burocracia estatal, muniu-se com três pedaços de
papel manchados de tinta e dirigiu-se a um templo institucional, a
clériga que atendeu ao seu chamado deslocava o ar em sua volta com
delicadeza, as passadas amparadas pelos saltos pretos eram seguidas
por coma lisa que ondulava em comunhão com os giros do corpo que ia
e vinha em busca do protocolo sacro número 154822897-AHV. O todo nem
comenta-se: pela branca, lisa, porém ferida pelo tempo, não de modo
vulgar, mas sensual, envelhecida em dogmas de austeridade sexual e
depravada.
Em
segundos, imaginou-a aceitando o seu convite para beber alguma coisa
no Escritório Bar depois de uma quebra-gelo básico e divertido,
após algumas cervejas estariam ambos felizes com uma situação mal
construída e iriam para sei lá onde roçar suas carnes mutuamente e
banharem-se nas excrecências genitais um do outro, e enquanto
imaginava essas coisas, ela ia e vinha, seguida pelos cabelos negros
que ele tomaria com pujança enquanto atacava aquelas nádegas magras
e branquelas com sua mãe direita aberta e pronta para marcar a nova
vaca da lista.
SEXO VERDELARANJA
Eles nasciam dentro de cápsulas gelatinosas. Saindo melosos.
Melados. E cheiravam um cheiro adocicado. Não possuíam membros
inferiores. E algo parecido com um pênis brotava de algo que parecia
ser a barriga. Nas costas ( o ou no lugar contrário da onde surgia o
pênis) surgia um buraco profundo.
Suas cores variavam
entre verde e laranja. E todo seu habitat se enunciava pintado na variação
dessas cores. A presença dessas duas cores refletia significados
essenciais para mais coisas descobrir sobre aqueles seres. Era isso que eu pensava.
Verde é uma cor
primária. Laranja, uma secundária. A mistura das duas revela-se em
tons amarronzados e/ou amarelados. No entanto, nem sempre predomina o
uso dessas cores de forma original. Há presença de verde e laranja
mais brilhantes, e o verde apresenta-se, as vezes, na sua impactante
natureza: Verde-limão.
Mas esse texto não irá falar do habitat desses estranhos seres. Há
algo mais importante a ser explorado em
pseudo-pesquisas-antrobiológicas: O sexo.
DO POR QUÊ DE EU NÃO TER COMIDO AQUELA LOIRA E TER APRECIADO UM SONHO COM A MINHA PRIMEIRA NAMORADA
Duas semanas isolado, só conversando aqui e ali com o meu colega de casa, um tipo direitista defensor da lei e da ordem estabelecidas. Numa discussão qualquer, após uma noite de lua cheia, até ofensas explodiram enquanto eu entornava endoidecido um vinho que roubara da minha carteira certa quantia indevida. No fim, percebi que não eram as ideias cuspidas e sim o ato de discutir que me causava prazer, contudo, não precisei de muito pensar para concluir que tal vontade era tão somente uma explosão de frustração, um eco dos relacionamentos estraçalhados que ainda espalhavam fragmentos pelo espaço temporal da minha “nova vida”.
Concordei com tudo o mais que me fora dito, dei-lhe umas palmadinhas nas costas e segui inicialmente ressentido com a noite. Não lhe dei as mãos assim, logo no primeiro encontro; fiz-me complicado, sisudo, uma perfeita dama de boate esperando um copo, que não veio sozinho, mas trazido por uma mãozinha branca e trêmula, então me reconciliei com ela.
Cumprimentei a dona dos digitozinhos e retornei, agora acompanhado e por caminho diverso, até uma festa que tocava uma música levada por um grave rechonchudo e interrompido harmoniosamente por um agudo bem encaixado, ambos andando juntos com certa batida cadenciada e quebrada por curtas sequências frenéticas de primitivismo inspirado.
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