EDITORIAL - VIGÉSIMA QUARTA EDIÇÃO!

Nesta edição, quatro contos satisfarão seus desejos depravados. Míseros quatro contos oriundos da massa cinzenta, envolta em brumas de depravação, que habita nossas cacholas. Bundas que salvam vidas. Cabeças que destroem. Vontades que não se realizam. Sonhos que já se foram. Seres que sabem fazer uma boa sacanagem. Uma poética mista de fatos sangrentos, viscosos, apocalípticos, oníricos. Recheada de cores insinuantes. Deixe sua mente perder-se. Excite-se com os sentimentos mais sórdidos. O fim do mundo está sempre próximo, depravar-se é a saída. Melem-se de luxúria. A HOT surge e deseja-lhes uma boa fornicação, mesmo que solitariamente.

COMUNICADO EXTRAORDINÁRIO


Vimos esclarecer a ausência dos contos do Sr. Insônia nesta edição. Esperando seus contos e não entendendo a demora, achamos que o mesmo havia sucumbido a profundos problemas intestinais que, pasmem, interferem em nossas escritas escatológicas, pois nossas entranhas, assim como nossos órgãos genitais, são de muita importância para nosso processo criativo. Depois achamos que ele podia ter entrado em uma demorada e possivelmente eterna conversa sobre a vida com seu pau. Isso destrói qualquer poeta depravado. Mas por fim, eis a real história: ficamos sabemos que depois de muito tempo, ironicamente, o Sr. Insônia adormeceu. Está entregue aos encantos oníricos em meio a belas pernas e bucetinhas. Aconchegado. Sua volta desse mundo, nos trará bons frutos.

A BUNDA APOCALÍPTICA


Eu nunca morri. Eis uma verdade. Algumas vezes , quase. Mas de fato, concreto, nunca. Naquele dia havia uma bunda muito linda por ali. E só depois daquele dia eu poderia morrer. Era tão bela bunda que meu desejo de tocá-la, mordê-la e afins me foi, por mim mesmo, proibido de em prática ser posto. Só o desejo bastava. Uma espécie de desejo metafísico. Como os poemas de Camões, mas sem ser poesia. Minto. Era poesia sim. Desejo é poesia. E poesia é vida. Mas voltemos à bunda. Fiquei olhando. Ela mexia-se levemente ao som da música. Que música era? Perguntar-me-iam. Não importa, responde-los-ia. Pois o que importava era a….(deduzam vocês mesmos). Não via o rosto, o rosto que carregava a bunda. Só o cabelo e as costas. Cabelo negro. Ondulado e que sem encostar, quase encostava na bunda. O cabelo era, quase, uma representação materializada do meu desejo.

Um homem passou correndo, correndo vagarosamente e gritando: - O mundo vai acabar. Um imenso asteroide na terra irá chegar!

CEFALOFILIA


Depois de um fim de semana dedicado à leitura de textos que não lhe interessavam, ele pensou em como seria a noite, se ele deveria estuprá-la ou deixar-se estuprar por ela, se ele deveria abandonar o seu leito quente e cercado de baratas, a solidão adolescente manifesta em carnes de três décadas ou simplesmente padecer pensando em como as coisas poderiam ter sido, algo que muito lhe agradava, talvez até mais que viver a vida plena, às vezes, os pensamentos dele mergulham tão fundos, que somete eles satisfazem-no. Desse fenômeno, ele foi vítima esses dias.

Obrigado a enfrentar a burocracia estatal, muniu-se com três pedaços de papel manchados de tinta e dirigiu-se a um templo institucional, a clériga que atendeu ao seu chamado deslocava o ar em sua volta com delicadeza, as passadas amparadas pelos saltos pretos eram seguidas por coma lisa que ondulava em comunhão com os giros do corpo que ia e vinha em busca do protocolo sacro número 154822897-AHV. O todo nem comenta-se: pela branca, lisa, porém ferida pelo tempo, não de modo vulgar, mas sensual, envelhecida em dogmas de austeridade sexual e depravada.

Em segundos, imaginou-a aceitando o seu convite para beber alguma coisa no Escritório Bar depois de uma quebra-gelo básico e divertido, após algumas cervejas estariam ambos felizes com uma situação mal construída e iriam para sei lá onde roçar suas carnes mutuamente e banharem-se nas excrecências genitais um do outro, e enquanto imaginava essas coisas, ela ia e vinha, seguida pelos cabelos negros que ele tomaria com pujança enquanto atacava aquelas nádegas magras e branquelas com sua mãe direita aberta e pronta para marcar a nova vaca da lista.


SEXO VERDELARANJA


Eles nasciam dentro de cápsulas gelatinosas. Saindo melosos. Melados. E cheiravam um cheiro adocicado. Não possuíam membros inferiores. E algo parecido com um pênis brotava de algo que parecia ser a barriga. Nas costas ( o ou no lugar contrário da onde surgia o pênis) surgia um buraco profundo.

Suas cores variavam entre verde e laranja. E todo seu habitat se enunciava pintado na variação dessas cores. A presença dessas duas cores refletia significados essenciais para mais coisas descobrir sobre aqueles seres. Era  isso que eu pensava.

Verde é uma cor primária. Laranja, uma secundária. A mistura das duas revela-se em tons amarronzados e/ou amarelados. No entanto, nem sempre predomina o uso dessas cores de forma original. Há presença de verde e laranja mais brilhantes, e o verde apresenta-se, as vezes, na sua impactante natureza: Verde-limão.

Mas esse texto não irá falar do habitat desses estranhos seres. Há algo mais importante a ser explorado em pseudo-pesquisas-antrobiológicas: O sexo.

DO POR QUÊ DE EU NÃO TER COMIDO AQUELA LOIRA E TER APRECIADO UM SONHO COM A MINHA PRIMEIRA NAMORADA



Duas semanas isolado, só conversando aqui e ali com o meu colega de casa, um tipo direitista defensor da lei e da ordem estabelecidas. Numa discussão qualquer, após uma noite de lua cheia, até ofensas explodiram enquanto eu entornava endoidecido um vinho que roubara da minha carteira certa quantia indevida. No fim, percebi que não eram as ideias cuspidas e sim o ato de discutir que me causava prazer, contudo, não precisei de muito pensar para concluir que tal vontade era tão somente uma explosão de frustração, um eco dos relacionamentos estraçalhados que ainda espalhavam fragmentos pelo espaço temporal da minha “nova vida”.

Concordei com tudo o mais que me fora dito, dei-lhe umas palmadinhas nas costas e segui inicialmente ressentido com a noite. Não lhe dei as mãos assim, logo no primeiro encontro; fiz-me complicado, sisudo, uma perfeita dama de boate esperando um copo, que não veio sozinho, mas trazido por uma mãozinha branca e trêmula, então me reconciliei com ela.

Cumprimentei a dona dos digitozinhos e retornei, agora acompanhado e por caminho diverso, até uma festa que tocava uma música levada por um grave rechonchudo e interrompido harmoniosamente por um agudo bem encaixado, ambos andando juntos com certa batida cadenciada e quebrada por curtas sequências frenéticas de primitivismo inspirado.