A BUNDA APOCALÍPTICA


Eu nunca morri. Eis uma verdade. Algumas vezes , quase. Mas de fato, concreto, nunca. Naquele dia havia uma bunda muito linda por ali. E só depois daquele dia eu poderia morrer. Era tão bela bunda que meu desejo de tocá-la, mordê-la e afins me foi, por mim mesmo, proibido de em prática ser posto. Só o desejo bastava. Uma espécie de desejo metafísico. Como os poemas de Camões, mas sem ser poesia. Minto. Era poesia sim. Desejo é poesia. E poesia é vida. Mas voltemos à bunda. Fiquei olhando. Ela mexia-se levemente ao som da música. Que música era? Perguntar-me-iam. Não importa, responde-los-ia. Pois o que importava era a….(deduzam vocês mesmos). Não via o rosto, o rosto que carregava a bunda. Só o cabelo e as costas. Cabelo negro. Ondulado e que sem encostar, quase encostava na bunda. O cabelo era, quase, uma representação materializada do meu desejo.

Um homem passou correndo, correndo vagarosamente e gritando: - O mundo vai acabar. Um imenso asteroide na terra irá chegar!

Ouvindo isso, eu quase parei de olhar a bunda. Coisa essa impossível de se fazer. Julguei a fala do homem, um desvario, desses comuns de acontecer. Ele foi, voltou e foi de novo. Na verdade, eles. O homem e o desvario. E eu permaneci. Aliás, nós permanecemos. Eu e meus olhos e minha alma. Hipnotizados. Vidrados na bunda. E se escrevo: nós, escrevo com muita razão. Meus olhos tinham vida próprio olhando para a bunda. Meus olhos esqueciam de minha própria existência. Quanto a minha alma, essa bailava sozinha, fora de mim, próxima da bunda. O mais próximo que eu poderia imaginar chegar, mas nem aí chegava, visto que minha alma já não era mais minha. Era da bunda.

Eis que um estrondo rompeu o mundo ao meu redor. O imenso meteoro realmente existia e adentrava a terra, estuprando-a. O impacto; é muito difícil descrever. Um calor tomou-me o corpo. Senti as pernas tremerem. Uma dor assolou-me. Meu braço saía de mim. Eu despencava. A bunda sumia correndo. A bela bunda ia-se indo. E eu despedaçando-me.

Talvez queiram saber como pude escrever? Eu despenquei, despedacei-me e perdi um braço. Mas não morri. Vários sobreviveram ao impacto. E agora sem braço, digito, com minha única mão, este relato. A terra continua existindo. Pedaços do meteoro também. E pasmem, devo agradecer à bela bunda por estar aqui. Não fosse meu fascínio por ela, eu teria ido ao velho bar que sempre ia. E chegou aos meus ouvidos que todos que estavam no bar faleceram. Um pedaço do meteoro atingiu em cheio o recanto dos ébrios.

Vago agora a procura da bela bunda. Quero vê-la. Queria senti-la, mas não posso. Concretizar meus desejos mundanos seria uma blasfêmia diante de tamanha beleza. Bunda. Bunda. Onde estás? Salve-me mais um vez.

Entupindo-me de remédios para recuperar-me dos traumas do baque do meteoro. Misturando todos com uísque, aqui estou, chorando o desespero de não saber como e onde encontrar a bela, bela bunda. E mais desesperado encontro-me quando suspeito que ela talvez já não exista mais.

Destino cruel, destroçada por pedaços de alguma coisa caída do espaço. Por quê? Inveja divina? Se for, então praguejo minhas maldições terrenas contra figura divina tão desconhecedora da arte do fascínio. O fascínio por uma bunda.

Nota : Este relato foi-me concedido durante um enigmático sonho. Uma espécie de possessão. Uma alma do futuro, que já se sabe morta vagou até minha mente. Interferindo no meu sonho, contou-me sua história. E obrigado fui a escrever. E nunca mais olhei uma bunda da mesma forma. Mas o fascínio é impossível de se controlar. Meu reino por uma bunda bela.

Psycho Jack

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