MEU FRENESI LESMÁTICO


Parecia que estava escuro. Devia estar escurecendo. Uma morbidez de mim tomava conta. A tela do computador também se escurecia. Findava seu brilho. Ainda conseguia enxergar a imagem. Mas era um brilho fosco. Único foco de luz. Alguma música tocavaFazia-se empolgadamente mórbida. Eu não sentia medo. Sentia-me terrivelmente bem. Na tela, a imagem de uma obra, Van Gogh era o dono dos traços admirados. Os três quadros da série "Quarto em Arles". Sem explicação, passava-as repetidamente. A penumbra caía. Dentro de mim uma insatisfação brotava. Ao mesmo tempo, uma euforia tomava conta de meu ser. Não ria, nem nada. Mas sabia que algo estava acontecendo.
Possuído pela melodia estranha, envolvido pelo fumaça do palheiro que findava, pus-me a rir. Uma risada que saiu sufocada, relutante. Mas explodiu em uma longa gargalhada que me sufocava. As imagens já eram disformes. 

A melodia retumbava em ouvidos. Não sei da onde vinha, mas um tic-tac rápido ecoava na minha mente. Sentia uma força nefasta dominando-me. Os arrepios em meu corpo ora me transportavam para uma felicidade, um descampado calmo , sereno. Ora jogavam-me numa confusa guerra, pedaços de corpos voando. Vermelho singrando meus olhos. Gritos de desespero. Em ambos lugares, sentia-me completo. Pleno de vida e pronto para a morte.

Mas a mistura de sentidos e de emoções jogava-me de um lado ao outro. Eu era chacoalhado. Esse chacoalhar repercutia-se exteriormente na minha gargalhada. Sentia-me uma mistura. Misturava-me a todas alegrias, bondades,  mazelas e atrocidades do mundo. Era como se fosse uma lesma, sobre a qual um punhado de sal fora jogado. Minhas partes decompunham em si mesmas e se misturavam ao chão.
  
Assim, não mais contendo a vontade de explodir. Tirei o pau pra fora. Masturbei-me. Sentindo, sugando e expelindo todas as sensações possíveis. O gozo mais pavoroso e mais prazeroso que já senti.  O jato saía de mim. Senti gosto de sangue na boca. Havia mordido a língua durante o frenesi insano.  
   
Tombei extasiado, atirado para trás sobre a cadeira. No chão, de um úmido quarto, uma lesma rasteja. Rapidamente, sem nem perceber como, alcancei um saco de sal e um punhado desse no ser rastejante despejei. Ela contorcia-se aos poucos. Observando esse momento, recordava do meu. Talvez fosse só aquela lesma, morrendo em meio ao sal, capaz de compreender meu horrendo prazer que me tornou um miserável e um deus ao mesmo tempo.

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