APOCALÍPTICO - CAPÍTULO I - DEUSA DAS ÁGUAS


Parte 1

A noite já havia acabado para mim (as noites acabam cedo no inverno e era provavelmente a noite mais fria do ano), até vê-lo entrando na taberna, alto e magro, tão magro que parecia ser mais alto ainda... Veio sozinho e tinha um caminhar elegante, sem dúvida chamou a atenção de todas nós.

Seus longos cabelos brancos tapavam parte de seu rosto, mas enquanto caminhava até o balcão, por um momento me olhou, olhei dentro de seus olhos e foi como avistar as profundezas do inferno, eu não entendi o que vi, mas um calor enorme percorreu meu corpo e me senti atraída por ele. Caminhei em sua direção por impulso, como se uma força magnética me atraísse.

Enquanto caminhava até ele notei que pediu uma dose de whisky sem gelo e ajeitou seu longo capote para sentar-se em um dos bancos frente ao balcão, sentei ao seu lado, não entendia porque estava tão nervosa.

- Olá.


Ele se virou, olhou-me dos pés a cabeça, estampou um meio sorriso na face, lentamente tirou uma carteira de cigarros do bolso e levou um dos filtros vermelhos até a boca.

- Saudações.

Sua voz era muito grave e possuía um timbre distinto, não sabia o que poderia fazer, mas precisava agradá-lo.

- Não perca o seu tempo comigo.


Parte 2

Maldito! Maldito! Naquele momento eu senti ódio de tudo, ao mesmo tempo achava incríveis as sensações que ele despertava em mim e sentia-me cada vez mais atraida por ele, era tudo tão estranho.

- Nunca homem algum me recusou...

Ele me olhou com o canto dos olhos, bebeu um gole do whisky, tragou profundamente sua fumaça, a soltou devagar e pediu uma dose para mim.

- Então beba e conte-me sua história...

Interessado em minha história? Quais seriam seus motivos? Parece ser um homem tão culto, tão distinto... Interessado na história de uma meretriz tão jovem.

- Minha história não é diferente da história da maioria de minhas colegas, meu pai era um alcoólatra, batia em minha mãe todas as noites e por diversas vezes abusou de mim, fugi de casa ano passado, quando fui “adotada” pelo cafetão daqui, o conheci enquanto estava de passagem em minha cidade e não pensei duas vezes, qualquer vida é melhor do que a que eu levava...

- Qual a sua idade?

- Dezesseis anos.

Ele sorriu, terminou o restante da dose com um único gole, deixou uma nota de cem sobre o balcão, muito mais do que ele havia consumido, mandou-me segui-lo e caminhou em direção à porta.

Não pensei duas vezes.


Parte 3

Uma lamborghini preta, incrível, achava que jamais veria um carro desses pessoalmente e lá estava ela, ele caminha até o carro, entrou e abriu a porta para mim. Ela fedia a cigarro e maconha por dentro e onde quer que eu colocasse meus pés estaria chutando garrafas vazias de whisky, mas dane-se, era uma lamborghini.

Ele saiu rápido do estacionamento e pegou a auto-estrada, era uma longa reta e logo estava a mais de 150Kmph, ligou o rádio, o volume estava alto mas baixou para que pudéssemos conversar, estava no finalzinho de Highway to Hell e começou a tocar Sabbath, Bloody Sabbath...

Olhava para o seu rosto, concentrado na estrada, mãos firmes no volante, apesar dos cabelos brancos ele não aparentava ter mais do que 40 anos, suas sobrancelhas também eram brancas, talvez ele fosse albino, reparei em uma pequena cicatriz no queixo, seus traços eram bem definidos e ele mantinha uma expressão séria, quase triste.

- O modo como contou sua história, não demonstrou sentimentos, gostei disso.

- Minha vida sempre foi complicada, talvez isso tenha feito com que eu amadurecesse mais cedo, tenho um cliente que me ajudou nesse aspecto, é um broxa que tem mestrado em filosofia, às vezes ele paga pela minha companhia, conversamos sobre a merda de nossas vidas, ele também é um tanto frustrado, tenta me explicar um pouco de Nietzsche e até Foucault.

- Interessante...

Ele me olha, me encara nos olhos, novamente vejo dentro de seus olhos, que olhar fascinante, ele me faz sentir ódio e amor ao mesmo tempo, eu deveria sentir medo, ele esta a mais de 170 por hora e olhando para o lado, mas tudo o que quero é que ele continue, poderia encará-lo para sempre...

Quando ele volta os olhos novamente para a auto-estrada não consigo segurar o impulso, vou direto abrir o botão e o zíper da calça, o safado já estava excitado, começo a chupá-lo loucamente, sou realmente boa nisso, mas não noto nenhuma reação nele, nada além de ter ascendido um cigarro e continuar acelerando.

Ele acaba gozando em minha boca, engulo tudo e permaneço deitada sobre seu colo, engraçado como consigo sentir tanta segurança com uma companhia tão louca.

- Para onde estamos indo?

- Para o inferno...

Ele responde e começa a gargalhar...

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