SIMPLESMENTE MAÇÃS


Rijo, mas suave. Posso prender com somente uma mão.  Dá-me prazer, alegria. Há em toda parte. Estou me deliciando nesse momento, a sensação é suprema. Inicialmente acaricio meu objeto de desejo. Delicadamente coloco-o em minha boca. Dou uma mordidinha suave, somente para sentir o sabor. Foge às palavras o êxtase que sinto mesmo antes de começar. 

NÃO POSSO MAIS SUPORTAR! É AGORA! AH!



Então... Uma mão furtiva surge repentinamente e arrebata a preciosa MAÇÃ que há pouco estava entre os meus dedos! A suprema fruta agora jaz prisioneira nas mãos da minha ciumenta namorada!

- Desgraçada! Devolve MINHA maçã!

- Olha o que eu faço com essa merda!

Sem demonstrar misericórdia, a desalmada, defenestra a pobre prisioneira! Corro até a janela. Minhas mãos buscam desesperadamente a inocente. Ela cai, encontra o chão e... e... morre. É o fim! O que fazer? Como viver sem ELA? Ah! Lembro-me, então, que tenho muitas outras maçãs. Sempre haverá maçãs no mundo, enquanto ainda houver mundo, claro. 

Assim...

-Bem... Tenho outras.

Calmamente me levanto, vou à geladeira (tento ao máximo aumentar a vida útil das minhas princesas) e tomo, carinhosamente, uma delas em minhas mãos. Sim! Eu as pego como se fossem recém-nascidas e as como, como se fossem mulheres. Ou seja, com todo o penhor da minha capacidade de desfrutar o que de mais passageiro existe: a ilusão do prazer. Tão almejada e, por alguns, negada.

- Dá isso!

Perplexo, vejo minha doce maçã indo embora nas mãos de um ser sem alma. Por que ela faz isso?

-Bem... Tenho outras.

A cena se repete:

- Dá isso!

- Tenho outras.

- Dá isso!

- Tenho outras.

- Dá isso!

- Tenho outras.

- Dá isso!

- Tenho outras.

- Dá isso!

- Tenho ou*... Ah! Onde estão minhas maçãs!?

Um sorriso maléfico toma forma na mão da... ah! (desdém...) minha namorada.

- E agora? Podemos conversar?

-...

Penso comigo: conversar!? O quê? O que tem para ser dito? Vamos falar sobre como as relações entre os “grandes donos do mundo”, homo sapiens, são superficiais e passageiras? Sobre como tudo se fragmenta SEMPRE que uma nova possibilidade de satisfação pessoal surge? Como esquecemos e desrespeitamos aqueles que nos são próximos quando temos a oportunidade de nos abraçarmos com AQUILO (seja o que for) que acende nosso âmago, vulgo coração? Ora! Já vi isso vezes demais para me preocupar! O irônico é que ainda me preocupo... Mas hoje isso acaba! 

- Aonde você vai?

Ignoro o questionamento. Olho para ela com o cenho deformado pela raiva. Sinto o medo emanar (seja lá o que isso signifique). Ela dá passagem. Passo e vou ao mercado. Compro mais maçãs. Compro mais fugas. Compro mais alegria. Compro... compro... compro... Mas do que adianta? Adianta o suficiente, ao que parece.

Volto para casa carregando novas maçãs. Volto para casa carregando novos vislumbramentos, novas ideias, novas abordagens. Ridículo! Volto para casa somente com frutas numa sacola branca, somente com coisas tão passageiras quanto a minha existência, portanto retorno com NADA, mas retorno. Para que?

- E então!? Comprou mais!?

Sua voz é aguda, penetra fundo nos ouvidos.

- Seu retardado! Eu não aguento mais esse seu jeito!

Os tímpanos vibram mais do que eu gostaria, isso me irrita...

- Não sei o que eu tinha quando comecei a ficar contigo, eu devia estar louca!
Meus olhos percrustam UM infinito de raiva e desgraça.

- Seu*!

O golpe é ligeiro. Acerto em cheio a cabeça dela com o saco de maças. Não paro, continuo golpeando mais, mais e mais! Como ela falava quando transavamos. Não cessei os ataques. O sangue buscava o céu e encontrava a mim, o sangue, o sangue, o sangue... tão vermelho, tão vivo quanto as MINHAS maçãs. O quadro era perfeito: um corpo inerte tomado de rubro, imóvel e inocente, como MINHAS maçãs. Ah! MINHAS maçãs! Preciso comê-las. Oh... Estão destruídas, devo ter batido com força. O que fazer?

Vislumbrei novamente o quadro, então vejo a maçã perfeito. Vermelha como o coração dos puros que outrora habitaram esse mundo podre. Certamente tão doce quando o famoso fruto de Deus. Nem ao menos tentei resistir: tirei minhas calças (o falo já estava armado) e penetrei aquela MAÇÃ, aquela SIMPLES MAÇÃ que jazia inerte e, agora, dócil diante de mim. Oh! O vermelho! Tão puro, tão puro...

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