Dez horas. Toca o despertador. Despertador? Não, telefone: uma de suas amigas convida-a para passar mais uma tarde no Shopping Center. E assim começava mais um dia. Café da manhã, banho quente, espuma. Horas em frente a um espelho, preparando-se para um dia duro, enfrentando escadas rolantes e vendedores amistosos. Esse era seu trabalho: gastar, vestir-se bem e distrair-se o suficiente durante o dia para deixar a política agir após o jantar. Bem sucedida, sofisticada, amante milionário. Tudo vai bem. Observa-se fixamente no espelho, seminua. Está ótima. Fita a imagem atentamente. É difícil compreender o que se passa na cabeça de uma mulher de meia idade. Até que um dia ela se questiona sobre o que passa por entre suas pernas...
Era uma mulher como todas as outras, exceto por um único detalhe: entre suas pernas, no lugar de uma vagina, um pênis a premiava. Acordava todos os dias, olhava-se no espelho e lá estava ele. Não se engane, era madura, bem resolvida e sabia exatamente aquilo que lhe dava prazer... Mas ainda restava-lhe esta dúvida.
- Por que um pênis onde poderia haver uma vagina?
- Que história é essa?
- Me olhando no espelho, pela manhã, comecei a pensar... Isso nunca te aconteceu?
- Depois de tantos anos? Claro que não! E você também não deveria pensar nisso. Com aquele deputado e o dinheiro que ele te dá, se preocupar com questões tolas como essa é perda de tempo.
- Eu sei, mas...
- Mas o que? Olha, se isso realmente te incomoda, por que então não procura ajuda?
- Ajuda? E por que você não me ajuda?
- Não esse tipo de ajuda, eu quero dizer ajuda de verdade... Alguém que possa te responder isso com certeza. Alguém como... Como uma cigana! Sim, conheço uma ótima! Vamos, vamos que eu te levo até ela agora mesmo!
Aproximando-se de uma barraca, curiosa em busca de sua resposta, começa a sentir o incômodo odor da mistura de perfumes baratos e fumaça, quando finalmente aparece a sua frente uma figura um tanto quanto curiosa, saia vermelha, tão longa quanto os cabelos negros que caiam por seus ombros, metro e meio de altura sob um turbante cuja cabeça mal sustentava. Era a tal cigana, a resposta de todas as questões, a solução para todos os problemas que atormentam a vida de qualquer pessoa. Amor, dinheiro, sorte, futuro, ela era capaz de desvendar qualquer coisa. Talvez até mesmo a existência de um pênis onde poderia haver uma vagina.
- Vejo nos teus olhos a busca por uma resposta... Oh, sim, me deixa ver tua mão... Oh, hum... Isso... Isso mesmo... hum... Você conheceu ou conhecerá um homem, um homem capaz de te dar tudo... Sim, você será muito rica e muito feliz, está escrito bem aqui, oh... Tá vendo?
- Sim, acho que sim...
- Bem, são R$ 15,00.
- Oh, não, espere! Não vim aqui para te perguntar isso...
- Não? Então o que é? É sobre o passado? A barraca de contato com os mortos é a terceira, ali do lado, a preta...
- Oh, não, não! Não quero conversar com gente morta... Apenas quero que me ajude a encontrar uma resposta sobre outra coisa... Sabe, por que existe um pênis no lugar de uma vagina?
- Por que o quê? Ora, isso é pergunta que se faça? Existe o pênis por que não poderia haver uma vagina, é simples! Os meninos nascem com pênis, enquanto as meninas, sem ele. É por isso que quando crescem se casam com um homem rico e que tenha um pênis. E acho que é justamente o que você deveria fazer. Agora, vamos, sem enrolação, são R$ 25,00.
Insatisfeita, sem resposta e ainda mais confusa. Era assim que se encontrava no momento em que saiu da barraca da cigana metro-e-meio. “Os meninos nascem com pênis, enquanto as meninas, sem ele.”. Mas por quê? Precisava de alguém que entendesse dessas coisas da vida, alguém que pudesse responder a uma questão da criação... Um padre! E foi então que, acompanhada de sua amiga, foi até a igreja mais próxima atrás de um padre que pudesse responder-lhe tal questão.
E que outro jeito para conversar com um padre senão no confessionário? Lá estava, por detrás da cortina, a resposta que ansiava.
- No que posso ajudá-la, minha filha?
- Padre, eu tenho um problema... Procuro uma resposta...
- Ora, minha filha, pois veio ao lugar certo! Reze três pais-nosso e cinco ave-marias e Deus vai te ajudar.
Três pais-nosso e cinco ave-marias depois, volta ao confessionário:
- Padre, rezei os três pais-nosso e cinco ave-marias como me pediu, mas de nada adiantou. Será que o senhor não poderia me responder de uma vez?
- Diga, então, qual é o seu problema?
- Padre, por que meninos nascem com pênis, enquanto as meninas, sem ele?
- Ora... Cof cof... Hum... Vejamos... Por que Deus nos fez assim... Meninos nascem com pênis e meninas sem ele. E quando crescem se casam e têm filhos e só fazem isso por que um deles nasceu com e outro sem.
- Sim, padre, mas...
- É a lei divina e você não deve contestar, a não ser que você esteja cortejando o diabo. É ele que se apega a essas coisas! Vá rezar mais dez pais-nosso e quinze ave-marias, vá para casa e não pense mais nisso e nessas coisas do diabo.
Coisa do diabo. O que o diabo teria a ver com o fato de ter um pênis no lugar onde poderia estar uma vagina? Desiludida, volta para casa com sua amiga e recorre ao senhor de todas as respostas: Google. Certamente, nele ela encontraria algo. E, de fato, encontrou.
- O padre estava certo! Isso é realmente coisa do diabo. Olha aqui, um pênis num corpo de mulher! E uma cabeça de bode...
- Bem parecida com aquela máscara que usou aquela vez na festa...
- Isso não importa, não sabe que essas histórias religiosas são cheias de bodes? O fato é que ele tinha razão... Preciso encontrar alguém que entenda disso pra me ajudar!
Continua...
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