JINGLE BELLS


 Hoje é dia 23 de dezembro, amanhã é véspera de natal, mas hoje todos ainda estão trabalhando, noto que a cidade está muito movimentada enquanto estou voltando para casa.
        
Meu patrão é um bom cristão. Ele não nos paga hora extra, mas deixou sairmos duas horas mais cedo no dia 23 de dezembro.
                
Ao chegar em casa não tenho outra escolha, antes mesmo do banho vou até a geladeira para beber a água que estiver na garrafa pet mais gelada que encontrar. Woww... Qual foi a minha feliz surpresa ao encontrar um latão de cerveja gelada esperando por mim?


Abro o latão, um longo gole ainda com a geladeira aberta, depois me sento frente ao ventilador para tomar o restante da breja.
                
Ventilador lento e barulhento... A quantidade de ar só faz diferença na velocidade máxima e ainda assim auxiliando muito pouco a combater este calor infernal que faz em meu apartamento.
                
Posso contar só de ouvido quantas voltas o ventilador faz em um minuto.
                
Irritado com o ventilador, penso em chutá-lo, mas lembro que nele está contida minha única esperança de conseguir dormir esta noite. Desligo o ventilador e vou para frente do meu apartamento, terminar de beber embaixo de uma sombra.
                
Ao sair do apartamento dou de cara com a obra na rua de minha casa, não havia reparado que a construção já havia chegado ali. Estão pavimentando a rua com paralelepípedos –finalmente a prefeitura se envergonhou o suficiente em ter uma rua sem calçamento quase no centro da cidade.
               
Por um momento encaro um dos trabalhadores, parece um velho com idade superior a qual ele deveria ter se aposentado, cara surrada e um olhar triste. Embaixo daquele sol escaldante ele pega os paralelepípedos, que devem estar em uma temperatura suficiente para causar bolhas em mãos menos calejadas, e depois de encaixar cada pedra, joga sobre a junta delas pó de brita que cobre sua cara com poeira, e assim ele continua, com o sol enegrecendo seu rosto.
                
Óbvio que se eu pudesse teria uma paisagem melhor, óbvio que não é agradável vê-lo trabalhar, mas sem qualquer outra escolha eu tomo minha cerveja ali mesmo.
                
Enquanto isso, sem que qualquer dos dois soubessem, passava sobre suas cabeças um jatinho de um político da bancada evangélica, o gordo penetrava seu falo no ânus de uma das prostitutas mais caras do Brasil. Ela de quatro em sua frente, enquanto ele, feliz por não precisar ver o que acontece lá embaixo, chega ao orgasmo cantando: “Jingle Bells, Jingle Bells!”

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