Foram anos de sonhos desolados naquela cama. Dormia tendo
convulsões. Um coma acometera-se de sua mente. Despertava agora para o mundo.
Tudo estava diferente. Havia uma sala com cortinas e almofadas vermelhas. Gatos
dormiam nas almofadas. E pessoas fornicavam à vontade. Ele não entendia. Era
tudo de certa forma poético.
Ao
fundo uma valsa tocando infinitamente. Ele levantou-se. Estava nu. Mas isso não
parecia importunar ninguém. Prosseguiu. Queria água. Encontrou. Depois
instintivamente sorveu uma taça de
vinho. Era um vinho maravilhoso. O melhor que já havia tomado. Bastou uma taça
para embriagá-lo. Já estava tonto.
Dele
aproximou um ser estranho. Um belo corpo de mulher. Um corpo jovem. Mas o rosto
era de um gato. Ronronava como um bichano. Percebeu então que todos ali eram assim. Será que ele também
era? Não sabia. Talvez fosse. Não havia espelhos ali.
Foi
jogado pelo estranho ser em cima de um sofá. Sentiu queimar-lhe o corpo. E
lábios tocarem seu pênis. E logo estava excitado. Queria penetrar a mulher-bichano. E penetrou-a.
Energeticamente. Com vontade de quem a muito não transava.
E
nesse delírio gozava. Gozava muito. Mas continuava o vai e vem. Ela miava.
Quanto mais miados mais gozos. Ele sentia as pernas bambas já. Sentiu em suas
costas outra felina humana tocar-lhe.
Mudou
de parceira e começou tudo de novo. Enlouquecidamente. Era tudo vermelho. Eram
todos vermelhos. Enxergava agora como aqueles seres. Enxergava tudo em vermelho. Vermelho cor de carne.
Podia
sentir sua alma vermelha. Gostava. Escorria pelos seus lábios uma baba
vermelha. E mordia a sua fêmea enquanto arranhavam suas costas. Era fantástico
e inocentemente doentio.
Rolavam
pelo chão, vez ou outra, bolas de novelos vermelhos. E ele prosseguia
freneticamente. A música acompanhava a
orgia. E saía vermelha da vitrola. Seus dedos dedilhavam vulvas
compulsivamente.
De
repente acordou. Acordou de verdade. Ou ainda estava em coma e não sabia.
Gatinhos
estraçalhados jaziam ao seu redor. Muitos gatinhos. Um ainda se mexia em sua
mão. Mas estava com as patas arrancadas. Ele sentia pelos em sua boca. E o
sangue escorria pelo pescoço.
Não
entendia o que acontecia. Alucinação? Talvez.
Mas
decidiu então fazer o que tinha vontade. Esfregou os restos mortais, do gatinho
que sucumbia em sua mão, em seu falo. Era bom. Era divino. Gozava. A porra
branca tornava-se vermelha ao entrar em contato com o sangue dos pequenos.
Vermelho.
Esse era o segredo de tudo. Do seu coma. Dos seus desejos. Dos seus erros.
Apenas o vermelho e nada mais.
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