VERBORRAGIAS ESTRAMBÓTICAS – FLAMINGOS


A penumbra e fumaça de cigarros. O quarto. As garrafas. Algumas ainda pela metade.  Peças de roupas íntimas. Barulhos só de vozes.

Ela, misto de inocência e perversão. Alternava entre olhares de desejos. Gritos desesperados exigindo sexo. E olhares, carinhosos e infantis, como uma criança mimada que conseguia o que queria.

Ele com ares de quem muito viveu. Embora nem tão velho. Nem tão novo.  A fumaça do cigarro dizia que às vezes suas falas eram farsas bem elaboradas e encantadoras.

Disse após pigarrear:

- Sabias que os flamingos fazem sexo oral. Sim. Sim. Descobri quando viaja pelas pontes de Veneza. Não gosto de gôndolas. Dão-me enjôo. Lá pelos lados de uma cidade onde vive chovendo não tem flamingos. E eu que sempre preferi aligátores.

- Não sabia. Mas por que falas isso?

- Ora, sempre falo essas coisas. Sabes bem disso. É sempre assim. A conversa dos esquilos cor de laranja que se alimentavam de carne humana. Fato verídico. Filmei um. Até mostrei-te. E os elefantes em miniatura que miavam . Eu vi. Sabes bem, sou homem vivido.

- És um criador de histórias. Vive a escrever sobre tuas viagens fantásticas. Ainda acreditam que tu sejas repórter aventureiro. É um mentiroso. E ainda fantasias coisas para tua vida real. Acha que...

- Ora. Não se aborreça. Voltemos aos flamingos. A técnica de sexo oral deles é muito mais antiga que a nossa. Vi isso em algum documentário. O qual não me lembro o nome.

- Devias olhar coisas mais interessantes. Há um tempo falava-me de clássicos do cinema. Dos efeitos de luz nas cenas de musicais. Até daria um bom crítico.

- Mas ainda posso falar sobre cinema. Já olhastes “Pink Flaming”?

- Não. Mas pelo nome parece interessante. Poético. Mas por que este fascínio com flamingos?

- É excelente. Pode-se dizer poético. Depende do ponto de vista. De como entende poesia.

- Por que esta insistência em flamingos?

- Conta a história de duas famílias competindo para ver qual delas ganha o título de "pessoas mais sórdidas do mundo". Divino, não?!

- Não sei. Por que querer ser uma pessoa sórdida?

- Diversão, querida. Além disso, outra forma de elevar-se o ego. Imagina. Se não podes ser a melhor pessoa do mundo. Poder ter chance de ser a mais sórdida. Não toparias? Tu que vives a implorar por fama.

- Não sei. Vamos fazer sexo?

- Menina, já fizemos. Talvez mais tarde.

- Agora. Ou nunca mais olho na sua cara.

- Ok. Então mais tarde fizemos “amor” de quatro. E não ouses olhar para traz. E nem se importe se ouvir um flamingo cantando. O canto deles é assustador.

- Cala boca.

- Então transemos. Mas e se eu te disser que quero um flamingo em nossa transa?
               
- Não. Não. Quero você de animal. Só.

- Aaah! Mas se gostas tanto de mim... Como sempre dizes. Compreende-me. Flamingos não saem de minha cabeça. Querias que eles não saíssem de sua boceta. Até imagino a cena. Como num filme.

- Filme?

- Sim. Sabe que já pensei em fazer um filme contigo. Tenho contatos. Mas meu roteiro inclui flamingos.

- Não.

- A pessoa mais sórdida. A pessoa mais famosa. A minha bela. Tu. Cobiçada por todos. Flashes. Coitado de mim. Vejo até um segundo filme. Eu triste. Um flamingo empalhado na sala destruída. Bebendo conhaque. Pensando em você. Que partiria pelo mundo da fama. Deixando-me de recordação só o flamingo que a chupastes.

- Não sei. Vamos fazer sexo?

Subiu violentamente para cima dela. Ela sorria. Mordia os lábios. Prosseguiam. Ela de quatro. Gemia. Exigia: Me come.

Ele quando gozou gritava: Flaminngoss... Flaminngos... Flamm...

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