EDITORIAL – VIGÉSIMA EDIÇÃO


A bucetinha proibida, ela sempre vaguei dançante sobre nossos falos, mas será real? Não seria somente um processo programado rumo ao ideal social? Ou será que isso não passa dum eterno retorno infatigável que zomba de nossa existência tênue e sempre ansiosa pelo fim sempre adiado? Na dúvida, tire-lhe a calcinha! Use-a! Atravesse-a com vigor e goze nas suas costas logo após a massagem extra-ancestral almejada nos recantos sujos da mente vingativa.


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ANIMAL


Sempre fui uma criatura racional. Mesmo nos momentos mais emotivos mantive o rosto impassível, sem qualquer expressão, uma verdadeira estátua imune à emotividade barata. Quanto minha mãe morreu, absolutamente nada. Era mais um no meio da multidão. Quando meu pai morreu, absolutamente nada. Era mais um no meio da multidão.

Por alguma razão “estranha” nunca fui acometido por emoções particularmente fortes, salvo uma leve elevação do ritmo cardíaco, nada mais, talvez para lutar ou fugir, aquela coisa darwiniana padrão que todos conhecem. Passei por alguns momentos que exigiram certo volume de sangue nas veias, nada de mais, a frieza pura, o sangue se agitava, mas não o suficiente.

Eu sempre me senti superior por isso, dava-me amplitude de raciocínio, controle sobre as ações, sempre foi uma vantagem, apesar de eu me sentir, não sei, um pouco “mal” com tudo isso. Mal porque não parecia certo não sentir, ou fingir não sentir, algo em momento particularmente emotivo. Era como se eu fosse menos humano que o resto dos humanos.

ETERNO RETORNO



Acabo de chegar em casa, estou assustado. Finalmente encontrei um sentido para minha vida, em uma epifania que me proporcionou um conhecimento inefável!

Agora tenho uma decisão tomada: vou viver este conhecimento! Vou sair de casa e vivê-lo até a morte e mesmo assim minha vida será plena!

Volto a sair de casa, agora com a decisão tomada: esta seria minha última desventura, última agrura, último feito. Completar-me-ia.

Prometi morrer antes de o Sol nascer, mas pra isso eu precisava fazer acontecer.

Fazer acontecer agora significa mais do que apenas a vida viver: significa modificá-la, fazer dos momentos vividos uma arte na memória, tais quais as artes penduradas sobre paredes amareladas, “fazer acontecer” significa viver algo para pendurar e embelezar a memória.

Mas o que eu poderia viver? As horas avançavam, já havia perdido tempo demais de minha vida navegando na internet, vendo pornografia enquanto me masturbava e lendo os mesmos textos repetidos, mas ainda não havia pensado em meu grande desfecho, um Grand Finale digno de meu C’est Fini.

Acendo outro cigarro e mais uma noite acaba, amanhã será outro dia e poderei tentar novamente.

Volto a sair de casa com a decisão tomada: esta seria minha última aventura, última agrura, meu último fato.

Prometi novamente que morreria antes de o Sol nascer, mas pra isso eu precisava ter Gana de Viver.

Ter Gana de Viver para mim significa mais do que apenas a vida viver: significa ter vontade, fazer dos momentos vividos uma história para contar, que daquela noite se pudesse compor uma Ópera, “Gana de Viver” significa virar página de livro...

MEA CUPIS


Ela estava ali. Bucetinha molhadinha
Me disseram: Vai lá e come.
Eu disse: Vamô  com calma.
Depois disso, deus fez-se o mundo. Eu perdi a virgindade.
E eu corri, DEUSINHO, como eu corri.
Foi entre cores e sons. Minha maldição padeceu.
Foi um dedo, depois dois. Depois um troço meio marrom, cabeça vermelha.
Eu gozei.
Há!
Assim faz-se a vida. Indo e indo. E vai e vem. 

CALCINHA


- Eu não acredito nisso! Você não quer fazer isso?

Sorrisinho sacana, aquela leve mexida de cabeça acompanhada do cafajeste estreitar de olhos. Ela sabia que as coisas voltariam a ser como antes, ao menos naquele momento. Mais um fio de esperança na trama intrincada daquele relacionamento apodrecido.

- Uau! Quer fazer isso mesmo?!

Quase uma década. A boate cheirando a mijo e decorada com faces torpes e ansiosas por algo qualquer e excitante nem mais existia, eram só um casal de quase trinta anos engolido pelas noites loucas e inconsequentes, no buraco onde estavam todas as ilusões da juventude irresponsável já se perdiam na realidade do mundo do trabalho. Ao menos as dela.

- Você é depravado! Eu devo estar com o cara errado!

GÊNESIS


Terceiro dia
A coisa trabalho termina seus efeitos sobre meus processos de software, qual será o próximo programa que executarei?
Olho para as coisas a minha volta, aquilo que possuo: eis o que sou. No núcleo de meu sistema operacional há gravado “ser é ter” e assim sou aquilo que tenho.
Minhas retinas vasculham um novo processo para executar, vejo uma carteira de cigarros sobre a mesa. Outros chamariam de vontade, mas não passa de mais um software sendo executado e eu sei disso.

A MASSAGEM EXTRA-ANCESTRAL


Ardia uma tarde quente em cima do velho barco. Nos olhos de mais de meio século ardiam esperanças. Canales ansiava por chegar em terra. Deixava sua prole, a mulher que não mais amava e histórias estranhas na sua ex­pátria, Venezuela.

A chegada em terra era apenas passo pequeno. Uma longa viagem o esperava. Para atravessar o vasto território das matas belas dos trópicos e das praias ensolaradas até os verdejantes campos do sul.

Mera ilusão. Mero olhar despreparado. Entrava ele na fornalha. Passaria pelas fumaças. E continuaria entre prédios antigos e novos. Gigantes indústrias. Vacas, frangos e porcos confinados. Mas talvez isso não interferisse no seu sonho.

Depois das pequenas náuseas no barco velho. O desembarque desesperado. A caminhada ofegante, engolindo terra seca. Sufocando em restos de fumaça de carvão. No caminho a salvação vinda de um jipe. Velho jipe, velho homem dirigindo.

Prosseguiram viagem. As conversas curtas. Indagações e pequenas constatações do clima e da vida. Desembarcou num vilarejo pequeno. Alguns bares e pousadas. Descansou numa dessas de qualidade duvidosa, mas de valor pequeno a se pagar. Na noite que se aproximava foi pro bar.

Um desses bares de madeiras. Cachaças e homens que acabaram de trabalhar. As luzes amenas. Resmungos e batidas de copos no balcão. Ele sentava num canto, tentando passar despercebido. Mas por ali qualquer novo trauseunte era notado, sentido.
De perfume pertubador. Aproximou­se dama bela do então homem há pouco chegado. Sentou­se com olhar fixo. Pediu para ficar. No calor da noite caindo. No beber dos corpos enebriados. Iam-­se risadas. Toques. Troques de olhares.