ALICE NO PAÍS DA PERVERSÃO – PARTE V – MEMÓRIAS DE UMA VIAGEM PSYCHOCIBERPUNK


– Aliceeee!!!
– Aliceeeee!!!!
– Aliceeeee!!!!

                                              – Aliceeeee!!!!

– Aliceeeee!!!!

– Aliceeeeeeee!!!

A cabana desaparecera. Ecoava uma voz metálica chamando pela doce Alice. Ela ainda entorpecida pelos prazeres anteriores. O escuro ia se dissipando. A sua frente um homem gigante. Trazia um monóculo dourado. Que parecia scannear a menina.

A voz permanecia. Mas não vinha do homem. Ao seu redor pequenos seres sem pernas e com asas gritavam seu nome. Como querendo tocá-la.

Mas pareciam temer o homem. Este a jogou em suas costas e a levou rapidamente por onde agora se erguia, em meio a uma floresta devastada, restos de máquinas e muita fumaça.

Alice estava confusa, para variar. Mas deixou-se ir sem nem ao menos questionar. Pararam ante um portão marrom, enorme. O homem gritou algum número. O portão abriu-se.

Uma música estranha, mas de certa forma festiva, invadiu o local. O homem colocou Alice no chão. Seres das mais estranhas formas surgiram. Em meio ao caos do ambiente.

Borboletas cibernéticas voavam agitadíssimas. Alice olhava agora contemplando cada detalhe. Subia-lhe debaixo para cima uma euforia descontrolada. Entrou na dança e deixou-se dançar.

Passava de criatura por criatura. Nenhuma parecia lhe querer mal. Pelo contrário, de certa forma, pareciam idolatrar-lhe. Foi jogada delicadamente ante um trono em forma de flor-de-trombeta metalizada.

No alo erguia-se majestosamente. Um ser estranho. Metade mulher. Metade Uroplatus phantasticus. Como Alice sabia este nome era algo indecifrável até para ela. Mas ao adentrar naquele mundo parecia ter sido tomada de um enorme conhecimento sobre quase tudo que ali acontecia e existia.

O ser calmamente olhou-a de cima abaixo. E disse:

– Será que é ela? Será que não?

Surgiu ao lado do ser mesclado, num piscar de olhos, um pequeno duende com dois chifres reluzentes. Berrando desesperadamente:

– Infeliz. Infeliz. É ela. É ela. Ele é ela.

– Como sabes?

– É como sabes que eu sou eu? – Disse Alice.

– Ora. Mas até tu sabes que tu és tu. – respondeu o duende e prosseguiu– Foste tu outra coisa saberia que não é que és?

– Deixaste-me confusa com esta pergunta. E além do mais, ando por ora tão confusa que nem mesmo sei o que sou e o que seria se não fosse o que sou. Muito posso saber se saberia que seria o que sou caso não fosse o que sou.

– Viu. Eu disse, é ela – Bradou o duende.

Virou-se e olhou para a mulher metade lagartixa-satânica-cauda-de-folha e gritou:

– Eu sempre sei. E agora pare de bancar a engraçadinha. Saia do meu trono. E providencie a festa de chegada da minha pequena. Tempos gloriosos virão. E nosso reino expandir-se-á.

O ser mesclado transformou-se numa borboleta e saiu ordenando coisas em um vocabulário estranho a todos. Logo o lugar enfeitou-se. E tudo ficou absolutamente colorido. Bebidas eram servidas em flores de mesmo formato que o trono metálico.

E desvairadamente todos dançavam. Alice temia, ou desejava, uma nova orgia inocente. Mas eis que é tomada por negras borboletas que a depositam no alto do trono.

Lá, desnudo e com risadas estridentes. O pequeno duende a espera. Alice tem medo. E receia. Ele grita:

– Não temas. Não temas. É o destino, pequena. De nossa união nascerá aquele que destruirá todo o “mal” para além destes portões.

Disse isso e jogou-se violentamente sobre Alice. No alto do trono, ele parecia tão maior e ela tão menor. Ela não estava mais gostando da desastrosa brincadeira.

Mas eis que de repente relâmpagos rasgam os céus. A música se confunde com estrondos horrorosos. E uma nuvem de rajadas cai por sobre o pequeno reino. Em cima dela, vestida como uma amazona cibernética, está a mulher mais linda que Alice havia visto em sua vida.

Bravamente, ela desce destroçando todos que a tentam impedi-la. Para diante do trono, onde o homem gigante de monóculo a espera de espada em punho. Trava-se uma luta sangrenta.

Entre gemer de lâminas. Escorrer de sangue. E guizos elétricos. O home tomba. Habilmente a amazona escala o trono. A essas alturas o duende já fez virar fumaça. E Alice é mais uma vez levada. Para onde? Fica a incógnita.

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