OS MEUS DELÍRIOS DE LINDA


Era uma tarde terrível. Dessas que parecem forjadas a ferro em brasa. O céu erguia-se vermelho intenso. Queimando os fétidos pensamentos das cabeças que existiam por ali. Nada soava belo naquele caminho desesperador. Eu doentiamente queria tudo que estava atrás daquele cenário. Daquela redoma de vidro. Na verdade o tudo que eu queria consistia em apenas uma coisa: Linda. Na verdade, minto. Junto com Linda vinha seu desespero. Sua vergonha. Sua beleza.

Olhava-me. Com doces olhos lacrimejados. Mas que não choram mais. Linda desejava sair dali. Como saindo de um quadro. Um quadro de Dali. Chovia sangue por lá. Os pássaros voavam baixo. Com os olhos alaranjados. Pequenos homens velhos de chapéus (a sodomizavam). Todo dia. Todo dia, pobre Linda!

– VAMOS, SEUS VELHOS RIDÍCULOS. TOQUEM EM MINHA MENINA. NÃO. ASSIM NÃO. MORRAM. DEIXEM MINHA LINDA. NÃO. EU QUE DEVERIA TÊ-LA. BEIJÁ-LA. CHUPÁ-LA. MINHA... MINHA...

Ela logo sucumbia. Sucumbia naquelas mãos rugosas. Naqueles falos sedentos de prazer sádico. Eles nunca tocaram na virgindade de Linda. A pequena beleza divina seguia pura. Desconhecia o prazer de sua humanidade animalesca.

Eles usavam todos os orifícios de linda. Sujavam-na com suas gomas providas de pecado e blasfêmia. Linda já nem gritava mais.

Olhava-me. Queria que eu a salvasse. Mas eu não a salvaria. Não cabia a mim. Eu era um homem que “lavava as mãos” na hora certa. Meu sangue seguia puro. Meus pecados perdoados. Minha mente insanamente sadia. Como se eu pudesse comer algodão junto a um dia de sol num parque colorido.

– NÃO. NÃO. NÃO A SALVAREI LINDA. NÃO HOJE. NÃO AGORA. ESCUTE. ESCUTE A MÚSICA. OLHE. OLHE PARA MIM. EU ME MASTURBO PENSANDO EM VOCÊ. EU ME MASTURBO COM SEU SOFRIMENTO. NÃO, MINHA QUERIDA. ESPERE. ASSIM. ASSIM, LINDA.

De certo modo, entre prazer e revolta, gostava de ver Linda ser sodomizada. Seu desespero não era só poético. Mas também me encontrava. Entrava em minhas entranhas. Rasgava-me o peito. Trazia-me a culpa que eu necessitava por instantes eternos.

Naquela terrível tarde, Linda fez-se implorar muito mais belamente. Olhava-me como nunca olhou. O sangue escorria-me pelos olhos. Tremores tomavam conta de mim. Eu ficava excitado. Eu queria Linda. Mas a queria lá. No seu infortúnio. Mas já era chegada a hora de deixá-la ir.

Desenhei uma seringa. Joguei-a para Linda. No torpor do encontro de nossos olhos vi que ela entendeu. Era possível não sentir mais nada. Na hora certa, a morfina na seringa, a acalmaria. Eu nunca mais iria ver seu olhar agonizante. Acabara, eu, de destruir a maior beleza que já havia visto.

Já não via mais Linda com frequência. Com o fim de seu olhar destroçado, de seu sofrimento delirante. Morria. Morria sufocadamente minha soberba paixão. Nem o cigarro, nem a bebida salvaram-me mais.

– MORRO MENTALMENTE. DOLOROSAMENTE. MASTURBO-ME COM A MEMÓRIA. SINTO O CHEIRO DE LINDA. MORRA LINDA. MORREMOS. QUEIMAMOS NUM INFERNO SEM SAÍDA. EU DENTRO DE TI. MORRENDO. SUCUMBINDO EM SUA LUXÚRIA INOCENTE. LINDA. LINDA. E EU... E EU... E O DESESPERO.

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