MOSCA


Corpo de moça, uma perna largada sobre a outra, o monte do quadril erguendo-se acima da cintura, a minissaia transparecendo a calcinha de corações, a elevação da vagina sob a peça, uns lábios fugindo pelo lado, assaltados e ainda quentes.
           
A manteiga espalhada displicentemente sobre o pão de forma, a menininha alegre sorrindo para o papai, os dentes de propaganda de pasta brilhando em uníssono, a voz alva querendo mais manteiga. Faca indo e vindo, dançando inocente na fatia, esparramando o composto sobre a mesa.

           Escorria amarelada, algo warm fugindo das paredes do órgão violado, a garotinha lambuzando os beiços, limpando com a manga; era da mesma cor, tanto na mata esquecida, quanto na morada feliz. Moscas ensandecidas tomando o ar, pilhando os restos, desenfreadas.
           
Invadindo a boca arregaçada pelo pânico que ninguém ouvira, somente as oportunistas ansiosas para depositar sua lavra. O bolo alimentar jogada daqui para lá, a saliva ainda não crescida umedecendo a comida triturada: come, come, a escola já vem. As larvas eclodindo, escavando a pele, os órgãos, dividindo o repasto com baratas e cães, todos deslizando suas existências na maciez da caverna obstruída.
             
A mosquinha pequenina pousando rápido no segundo café da manhã, a mãozinha santa e a vozinha manhosa mandando sair. Instantes, boca nem lavado tocando aquela manteiga gostosa; já fica um pedaço da outra. Espanta, mais uma sugada. Volta a tocar aquele órgão de tubos inflados, tomados de gás inertes, mortos; já fica um fragmento do outro.
           
Corpo de criança, uma perna sobre a outra, cruzadas, vai à escola, nem tem quadril formado, a saia chega aos joelhos, calcinha de corações, os lábios no lugar em que devem estar, bem alinhados, quentes e seguros.
           
Nem limpou a boquinha, carrega ainda os pedaços da outra, só lhe falta o sorriso funesto, a voz ecoando vazia nos olmos indolentes e um algoz igualmente apático. Assim foi, entrou, estudou, brigou, enquanto a esquecida na mata apodrecia com os restos do lanche trazidos de longe, de uma casinha ditosa, na qual parte sua também passou a viver.

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