CU DE FETO É POESIA


Já o copo nem encho muito, o líquido nele pouco verte, pois sei que logo esbarro e mancho o chão com vidro borrado de roxo, e sem pensar em nada mais que nada à mente voa a filosofia do avô enterrado: cu de feto é apertado, e quem escreve poema poeta nem sempre é. E ao lado o dobro de ovos que tenho no escroto, todos cozidos e cuspindo cheiro acre no ar, do lado de cá o meu estômago vomitando gazes pelo reto e eu pensando naquilo, naquela ânus que não foi meu.

Conhecia-a através de um amigo, um sujeito com madeixas afinadas e crises de melancolia infanto-juvenis que afastavam dele os poucos adultos tolerantes da cidade. Naquela noite zumbizava eu nas teias do sistema quando uma mensagem qualquer me esmurrou o rosto, desprovido de vontade, disse sim, e pouco depois lá eu estava, já em segundos discutindo com a menina, e aquelas madeixas afinadas e afinadas baloiçando cá e lá.

Seguiu-se a caminhada, a mente turva querendo urinar. Achei lata qualquer e descarreguei o fedor amarelo. E não é que fui esperado? Queria bem ser esquecido, porém não daquele jeito, um sentimento de vai, mas fica, quero, só que leve, indecisão adolescente besuntada de falsa vontade dos vencedores. No fim, adorei aquele retorno do trio – tinha outra no meio –, um sentimento patético de vitória.

A noite seguia. A cabeleira deu o bote e foi repudiada. Nem sei qual a razão, nem sei, mas fui lá ter com elas e mandei umas mentiras sobre aquele ataque, expliquei que nunca o vira agir de tal maneira, que não era do seu feitio insistir tanto com uma mesma garota, até disse que éramos amigos de infância, e eu nem conhecia o infeliz, talvez três meses? Vontade cega de olhos a mim mesmo.

E novamente as noites indo. E quando vi aquela criatura – uma delas – no meu apartamento estava. Não era nada, contudo tinha isso e aquilo, uns olhos sinuosos, com um brilho místico, a pela fina e delicada, tecido macio e virgem, branco, uma cera que dava medo de tocar, de estragar, sobrenatural, duas vezes delicada, uns cabelos que tomavam leais as costas amplas e magras, um corpo esguio que curvava o espaço com leveza, nádegas macias que deviam coroar um belo cu, um cu branquinho e imaculado que logo pensei em penetrar.

E aquele cu gemeu e gritou e chorou, e o meu cérebro blasfemou a burrice daquela cabeça pretinha de fios angélicos na conversa anterior com os meus colegas de apartamento. Não posso descrever o que se falou, eu apaguei, nem tinha como manter aquilo arquivado na minha cabeça, não queria, queria aquele cu, aquele cu de feto que não era poeta, daquela garota que cuspiu da bundinha minha pizza sêmen-congelada – gozei na coitada, um pouquinho, queria meu material genético naquela boca.

No quarto, finalmente, um cubículo apertado e patético com um colchão velho ao solo, um PC ainda mais antigo num canto, uma cara feia de dondoca enojada da pobreza, porém molhada pelo vinho atiçador da malicia vaginal. Simplesmente era o cenário, o local para uma metidinha no cu, naquele ânus branquinho implorando sêmen, aquele que... que respondeu com bosta marrom e quente da pior qualidade. Olhei firme para a coisa, meti a mão ali, pensei em jogar na parede, mas ela era minha, então limpei naquela bunda mesmo, e ela foi embora, não com um cu branquinho, e sim com uma coisa preta, sem poesia, sem feto, só um cu arrombado, cuspindo do reto a podridão da alma.

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