MEDALHA DE HONRA


Eu estava perdido em meio aquele turbilhão de acontecimentos... Minha mente já não conseguia pensar, não comera nada a cerca de dois dias, tudo o que eu tomava era a água da chuva misturada ao sangue podre dos corpos que estavam sobre mim, o cheiro pútrido já não me incomodava mais, sequer conseguia senti-lo frente ao cadáver de minha mãe apodrecendo diante de mim.

Ao sinal do menor movimento eu trancava a respiração, fingia-me de morto, tudo que eu queria era vingança.


Se eu continuava respirando, sem dúvida fora por terem me confundido com um cadáver, estar naquela pilha de corpos, imóvel por tanto tempo, enlouqueceria qualquer um e comigo não foi diferente... Até hoje tenho devaneios traumáticos lembrando-me do que fiz até chegar o resgate...

Reparei que o guarda noturno acabava cochilando às vezes, era o tempo que eu tinha para fazer qualquer movimento e o primeiro sempre era matar a fome, era arriscado demais tentar roubar a comida do guarda... Eu comia os corpos, os recém chegados, devorava-os com gula.

Com o passar dos dias não conseguia saciar-me apenas comendo os cadáveres, como se dominado pelo demônio, um desejo sexual me apossava, tomando conta de todas as minhas ações em meio às minhas orgias com os cadáveres.

No começo escolhia as mais bonitas, menos pútridas, mas a cada dia sentia mais gratidão pelos cadáveres que estavam salvando-me das torturas e da execução como tantas que eu ouvia durante o dia, deitado imóvel na pilha.

Depois de uma semana eu já não era mais tão diferente de um cadáver e até me sentia mais a vontade para esgueirar-me pela pilha ao primeiro cochilo do guarda.

A essa altura eu procurava pelo mais pútrido, já não me sentia humano.

Eles chegaram no meio da noite, sabia que o resgate viria mais cedo ou mais tarde, o guarda acordou assustado com os primeiros tiros, correu com sua arma sem reparar que um dos cadáveres da pilha próximo ao seu posto de vigilância estava de pé, logo me deitei, eu estava assustado.

Lembro-me com clareza que eu não temia ser atingido em meio ao nosso resgate, temia ser afastado de meu hárem, em desespero comecei minha última orgia, todos os corpos envolvidos, eu sentia que todos os cadáveres estavam interagindo realmente na orgia naquele momento, a trilha sonora das metralhadoras deixava o ritmo de nosso sexo frenético e lembro perfeitamente de uma grande explosão em uma construção próxima no momento em que todos nós gozamos.

Fui encontrado penetrando o cadáver de minha mãe, no final de tudo ganhei uma medalha.

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