UM DIA DE BUKOWSKI


-Adorei o seu livro!

O quarto era pequeno e mal arrumado, um lixo.

-É o melhor que eu já li na minha vida.

Fomos até ali para fazer não sei o quê, a bebida estava acabando.

-De onde você tira tanta criatividade?

Estávamos num restaurante antes, a loira resolveu que queria mais privacidade para puxar o meu saco. Já estava doendo.

-A-D-O-R-E-I-O-S-E-U L-I-V-R-O!

-Ele é uma merda.

-O.O!

-Sim, uma merda.

-...

-Por isso chama tanto a atenção, porque a merda que tem na minha cabeça exala por toda a cidade, o fedor entra na cabeça de vácuo dos idiotas que infestam as ruas e a justiça com sua falsa moralidade. Toda essa merda foi usada como tinta no meu livro...

-...

-... peguei-a diretamente da minha cabeça de merda.

-Como?

-Enfiei o lápis dentro da minha orelha, odeio teclados.

-NÃO DOEU?!

-Doeu, mas eu precisava de merda pra escrever, o povo precisava de merda pra ler, todo o fedor se espalhou e entrou e ficou por lá e permaneceu e virou dinheiro e hoje estamos aqui, estamos aqui porque as cabeças alheias estão vazias e precisam ser preenchidas por alguma coisa.

-...

-Sabe? Alguma coisa concreta, alguma coisa que lhes diga: porra! o Mundo cheira mau! Dan Brown fez isso, Stephenie Meyer fez isso, J.K. Rowling fez isso, Augusto Cury fez isso, Orlando Paes Filhos fez isso, Bernardo Guimarães fez isso, todos fizeram isso, até Abraão fez isso, então me perguntei: porra! por que não fazer isso? Afinal, é só merda, venho fazendo isso desde que nasci. Entende?! Só M-E-R-D-A!

-...

-Sabe como é, é assim que é; não posso fazer nada sobre isso. Seja como for, é isso que move o Mundo, é isso que rege a vida. Quando maior melhor, pois o raio de fedor é maior, e foi por isso que caguei por um mês para escrever isso ai que tu elogia.

-...

-Uns levaram mais tempo, outros menos. Sabe? Os cús têm circunferências diferentes, pode-se até mesmo determinar a circunferência do cú pelo tamanho da merda, pode-se encontrar o PI através do cú, é só uma questão de concentração e tempo.

-...

-Sabe?

Olho pro lado. Ponho a mão no queixo, em seguida desisto e resolvo juntar as duas, como em prece, não sabia como explicar pra’quilo que estava na minha frente, só tinha fedor dentro daquele crânio. Não era o fedor certo, deve-se saber misturar, como os boticários.

-Sabe? Nos níveis tróficos, as plantas então em primeiro lugar, e todas elas precisam de merda, elas possuem cérebro? Não! claro que não! Por isso comem merda, não em sentido literal... quer dizer, algumas têm boca, mas essa é outra história.

-...

-Precisamos das plantas e elas precisam da droga da merda e não vivemos sem plantas por causa dos níveis tróficos e precisamos delas e isso faz com que precisemos de... tu sabe o que.

-...

-Sacou?

-Sabe...

-O quê?

-Esse papo de merda... quero dizer... ou melhor, não quero dizer que a conversa é uma merda, entende?

-...

-Bem, esse papo ai sobre a merda em toda parte, sabe? Isso me dá ideias...

-...

- Tipo...

-...

-Já ouviu falar em Chuva Negra?

-Uma chuva de negõ... digo, afro descentes? Acho que seria muito estranho, ainda mais por *!

-Não, não é isso.

-...

-Eu falo de...

Ela se aproximou de mim como uma leoa no safári, sabe? Quando estão caçando.

-Eu falo de...

Pegou minha cabeça entre as mãos dela, sua língua corria como uma serpente pelos lábios vermelhos enquanto a minha serpente rastejava para cima da caverna de jeans.

-Eu falo de...

-...

Mirou a bunda na minha cara após um rápido movimento de corpo!

-O.O!

Não demorou pra baixar a calcinha e deixar o Terceiro Olho me mirando.

- Eu falo de defecar um no outro!

-O.O!O.O!O.O!O.O!O.O!

-Que foi?

-...

-Que foi?!

-Eu vou primeiro.

***

Nunca tinha feito isso na minha vida, mas parecia legal... quero dizer... depois de todo aquela papo. Como eu poderia negar? Só tinha um problema...

-Como assim? Na boca ou no corpo?

-Na boca, vem, você primeiro!

-Quer mesmo isso, baby, sabe, se sai deve fazer mau.

-Se assim fosse, a porra que sai daí...

Apontou para a cabeça do meu pênis, ela estava tentando fugir, fiquei encabulado e coloquei a jibóia pra dentro.

-... e vem pra cá...

Apontou pra própria xana. Porra! que mina maluca!

-... não teria como resultado os bebezinhos, todos são tão bonitinhos!

-Sem esse papo de maternidade, guria. Assim não me concentro.

Tinha um problema.

-Anda, vem! me molha com a sua Chuva Negra!

-Tá legal, tô indo, dá um tempo.

-Vem! vem! vem! vem!

Enfiou o dedo na caverna, estava se masturbando, roçava o grelho pra cima é pra baixo, depois entrava na caverna.

-Sabe... Bukowski nunca fez merda.

-Quem?

Movi a cabeça para um lado. Desdém.

-Esquece.

-Pare de falar e caga logo!

-Beleza, dá um tempo.

Eu ainda tinha um problema. Dois comprimidos de Sinot Clav e mais outros dois de Cloridrato de Clindamicina em conjunto com a maionese da minha mãe haviam acabado com o meu estômago e intestinos. Ela queria chuva, teria chuva, e das grossas.

-Lá vai, porra!

-Porra não, mer*!

Parou por ai. A coisa escorreu como uma catarata, foi direto pra boca da loira, tomou os lados da cabeça e o queixo e os cabelos e os seios e a cama e o travesseiro e tudo mais que estava pelo caminho. A louca tossiu como uma tuberculosa, a bosta aguada escorria por aquela boca antes tão cheirosa. Levantei-me. Ela tossia demais, ouvi um pedido de ajuda no meio daquela merda toda, só não entendia por que, afinal, ela não gostava de merda? Não gostava do meu livro?

Golfou pra’li, golfou pra’lá. Depois não golfou mais. Parou de golfar todo aquele chocolate estragado, se não cheirasse tão mau eu até era capaz de pensar que era chocolate mesmo, preferi não experimentar, bastava perguntar pr’ela mais tarde. O problema, mais um, é que a desgraçada não respirava mais, o coração tinha parado, tinha se afogado na merda! Como toda uma geração de pirralhos que compram os ídolos literários e musicais forjados nas linhas de produção dos grandes empresários e das grandes confecções de camisetas. Bastava somente um rosto bonito e um monte daquela coisa que eu estava vendo ali na minha frente, muito simples, tanto que até eu estava na jogada (minhas camisetas já estavam nas lojas, só trinca e cinco, vendiam mais que o livro).

Pensei em limpar aquela boca, fazer uma respiração artificial e uma compressão torácica, como um bom cristão. Então lembrei que não era cristão e que já tinha vendido camisetas e livros o suficiente para não precisar fazer mais merda, nem precisar tocar mais em merda, nem retirar mais merda da minha cabeça com a ajuda do lápis, nem me preocupar mais com níveis tróficos inferiores. Liguei pra emergência e fui embora.

Depois dessa noite não escrevi mais merda.

Obrigado Bukowski.

“Don’t Try”.

Ele estava certo, mas será que era isso mesmo?

Um comentário:

  1. Deliciei-me com essa merda até o cú fazer bico.

    Nota: Antes de ser Bukowski, comprar
    pomada para assaduras.

    ResponderExcluir