“Se essa é a única forma de tomar tão bela ninfa entre os meus braços, então assim será! Prepara-te, Ramirez!”
O olho que restava no mouro quase se soltou do rosto ao ouvir tamanha ameaça. Como seria possível que Hans nem ao menos tivesse ponderado sobre o caso? Certamente a líder daquele séquito de divindades havia jogado um feitiço sobre o marinheiro. Era a única explicação plausível. Não seria possível que Hans Fall, o homem que sempre presidia as orações antes das refeições a bordo, o homem que repreendeu bruscamente certo marujo por zombar da Divina Trindade, o homem que havia desafiado as ordens do capitão para ajudar um marujo moribundo castigado por insubordinação, fosse capaz de tamanha devassidão satânica.
Súbito os pensamentos do mouro foram, literalmente, trespassados pelo falo agudo e rígido de Hans Fall. O homem atacado ainda tentou reagir aos ataques eróticos do agressor, contudo, era tarde. O choque inicial da glande do falo do marinheiro da volúpia atordoou o
sanguinário pirata que sempre pensara que seu fim seria na ponta duma espada, não na ponta dum pênis. As mãos de Ramirez arrastaram-se lentamente pelas laterais das pernas de Hans enquanto seu corpo gordo e moreno tombava para frente, a vagarosa queda era solidariamente acompanhada pelo estuprador cerebral, que em nenhum momento cessou seus movimentos pélvicos.
Por fim. O interior da cabeça do mouro foi banhado pelo jato branco do pecado. Exausto, o assassino sexual retira o seu instrumento de morte do interior do crânio do seu ex- companheiro de navio, volta-se para a dama de bronze e brada: “Agora, mulher! Agora que me fizeste cometer tal pecado que por toda minha vida corroerá minha sapiência! Agora que me tens por completo como seu escravo! Faça o que disse! Deite-se comigo! Já!”
As imprecações do marinho somente arrancam da donzela de ébano um sorriso alvo e puro. “O que pensas que é para fazer exigências”. Diz ao desesperado em perfeita concordância com as regras exigidas pelo idioma do mesmo. Dessa vez são os olhos de Hans que quase alçam a liberdade. Como poderia saber falar holandês com tamanha maestria? Como que para humilhar o homem que tinha diante de si, a amazona proferiu a mesma frase em pelo menos cinco idiomas.
Achando graça da expressão de surpresa do ser que tinha ante si, a mulher decidiu descer da sua montaria atroz, enquanto apeava inundou o ambiente com sua voz perfeitamente alinhada: “Achas mesmo que tu e o seu amigo sois os primeiros homens a chegar nessa ilha? Muitos já vieram, e muitos já morreram, morreram por não possuírem as habilidades exigidas por mim. Mas tu, Hans, parece estar disposto a qualquer coisa para satisfazer os seus desejos”. Já desmontada do demônio que a pouco a carregava, a bela aproxima-se do moribundo e continua seu discurso chegando os lábios à orelha esquerda de Hans: “Como os homens são controlados por seus impulsos primais, não é? Como se enganam com facilidade com sua ciência, moral, costumes, religião... quando em seu cerne são puramente movidos pelas mesmas razões dum cão sarnento. O Paraíso! Certamente foi o que pensou quando avistou algumas das minhas hediondas serviçais”.
Hediondas?! Pensou o rato do mar. Hediondas?! Todo o resto que fora dito, nem ao menos penetrou à mente do depravado, tudo aquilo estava tão fixado no interior dos seus miolos que ele nem mesmo decodificou a mensagem. Estava totalmente tomado pela expectativa de finalmente domar aquele ser construído com tudo que de mais perfeito há. “Seu rosto, seu corpo, tudo em ti transpira lascívia. Tua raça medíocre vive somente para isso: procriar. A minha, todavia, faz isso em situações muito raras, pois os seres superiores não necessitam inundar o mundo com proles para garantir a sua existência, apenas o fazemos porque de nós ainda é cobrado o tributo do tempo”.
A dama cavaleira, em seguida, agarra com rispidez os cabelos secos e surrados de Hans. Um gemido escapa dos lábios do marinheiro, não se sabe se de prazer ou dor. “Seu amigo era estéril! Não tinha utilidade, mas tu pareces saudável, preciso embarrigar, pois meu tempo é curto, tu serás o pai do meu filho! Agora, me possua!” Esquecendo-se completamente do que acabara de fazer, para finalmente ouvir tão maravilhoso pedido daqueles lábios tão ardorosamente desejados, Hans livra-se do resto de trajes que ainda cismavam em cobrir o seu corpo, toma a mulher em seus braços e a reduz ao seu receptáculo de prazer. O mero contato, de apenas alguns segundos, com aquele anjo é o suficiente para arrancar das entranhas de Hans Fall o pouco de matéria da vida que ainda residia em seus testículos. A deusa zomba da fraqueza do homem, então o homem ergue-se novamente e lhe mostra que sem seres tão insignificantes quanto ele, deusas como ela não teriam motivo para existir. Heroicamente, o marinho cumpre sua tarefa. Ao olhar para o corpo da ninfa, brilhoso de suor, esboça um sorriso de satisfação que deve ter sido semelhando ao de Deus após o ato da criação do Mundo.
Sem qualquer demonstração de emoção. A Senhora das Amazonas levanta-se. Com um assobio faz surgir um contingente de guerreiras armadas de lanças. No idioma dos holandeses diz: “Joguem-no no Precipício do Sacrifício, sinto que já carrego meu filho, esse homem não me serve mais”.
Exaurido, Hans não reage. O sorriso continua a enfeitar-lhe o rosto quando as delicadas mãos das amazonas erguem o seu corpo, o mesmo conjunto de dentes ainda busca a luz quando as pedras dum precipício mortal aproximam-se do intrépido marinheiro da volúpia. “Certamente minha vida é um preço justo por tamanha dádiva sexual”. Pensa por fim o herói das orgias antes de tudo tornar-se negro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário