O DONO DE UM CAVALO SEM NOME


Acordei confuso...

É uma sensação estranha não lembrar o próprio nome, mas não devo isso a nenhum tipo de amnésia e sim a uma vida de jagunço que desde cedo tirou minha identidade, sou capanga do velho dono desta cidade, assim como meu pai era, mas meu filho não será... O velho joga xadrez com a Morte todas as noites e cedo ou tarde vai ser derrotado, a Morte nunca perde e o desgraçado não deixou herdeiro macho, apenas Maria, a mais linda dama que meus olhos já viram...

Eu e ela passamos a infância juntos, meu pai era o melhor capanga do velho e morreu levando uma bala que tinha o seu nome...


Assim que eu consegui segurar um revolver – e mal aguentava o seu peso – o velho me separou de sua filha, fui criado entre os jagunços e da infância que tive com ela só lembro de ter aprendido a ler junto com ela e da cor de seus olhos...

Uma vez que a semente do conhecimento é plantada, o sujeito está destinado a ser infeliz pelo resto da vida, e continuei minhas leituras tendo acesso a livros graças a minha amizade com o vigário.

Apoiando-me em um cocho, lembro-me que acabei dormindo no celeiro da taberna, aquele whisky, do guri dos falecidos Daniels, conseguiu me derrubar de novo, aquele piá nasceu com o dom de fazer whisky.

Meu mustang – presente de um índio (mas essa é outra história) – relincha bravo por ter de aguentar o meu bafo.

Levanto-me com dificuldade e volto cambaleando para a taberna, preciso beber uma dose para acordar...

A taberna esta vazia como deve ser a esta hora da manhã, apenas o velho Billy Caolho do outro lado do balcão, ele sorri ao me ver, seu sorriso amarelo e seu bafo de morte, o velho prepara meu Hair of The Dog antes mesmo de eu cumprimentá-lo.

Bebo a dose em um gole, batendo o copo na mesa falo:

- Velho Billy Caolho, vendeu sua alma e seu olho para o diabo para não precisar dormir?

O velho apenas continua sorrindo e enrolando seu palheiro, talvez até houvesse vendido a alma, mas o olho nós sabemos que sua falecida esposa furou com um garfo quando o pegou com uma puta no colo.

Escuto alguém chutando a porta da taberna e viro-me rápido na direção, um corpo totalmente sujo de poeira, deveria estar a dias no deserto, tirando o chapéu mostra seus lindos cabelos negros e um belo rosto feminino... Aqueles olhos, as duas esmeraldas mais lindas que já vi. Sem dúvida eles pertencem a Maria.

Com suas roupas de cowboy e seu jeito masculino que não convence ninguém, ela se senta ao balcão e pede uma dose, é obvio que não me reconheceu ou talvez nem lembre. Por que ela estaria vestida assim?

O tempo passa e nós três continuamos... O Velho Billy Caolho a servir, a bela Maria a beber e eu a admirá-la.

- O que você esta olhando?

Ela finalmente olha pra mim, sua voz é macia mesmo depois de tanto whisky e de sua intenção de fazer parecê-la ameaçadora.

- Trabalho para seu pai, sou jagunço do velho, meu dever é te proteger também, por isso não paro de observá-la, Maria.

- Maria? Só pode estar louco seu filho de uma égua, sou tão macho quanto você e agora vamos provar em um duelo.

- Duelo? Tudo bem, com uma condição: você atira pra matar, eu atiro no seu pé, se eu ganhar seu corpo será meu por meia hora, farei o que eu quiser com ele e seu pai jamais saberá de nada.

-Demente! Siga-me para eu deixar seu corpo tão morto quanto sua razão.

Eu sigo o rebolado de Maria até a rua em frente a taberna, Billy Caolho de tão acostumado com essas cenas sequer se da ao trabalho de nos seguir, olha para Maria, encaro seu belo rosto pela última vez antes do duelo, viro-me e caminho dez passos, atiro.

Nunca imaginei que pudesse sair tanto sangue dó pé de uma dama, com uma coronhada ponho-a para dormir e arrasto-a pelos cabelos até o cocho.

Meu mustang sem nome relincha bravo por ser incomodado, atiro-a de bruços sobre o cocho, esperar por esse momento é meu registro de memória mais antiga, óbvio que o imaginava diferente, mas aconteceu e eu não posso desperdiçar...

O cocho fica em um pequeno beco ao lado da taberna, a cidade está um deserto, é agora!

Baixo as calças de Maria e qual é minha surpresa ao ver um pênis pendurado em meio a suas pernas, viro seus cabelos para o lado para encarar novamente seu rosto e surpreendo-me novamente, aquele não é o rosto de Maria, um forasteiro qualquer tão feio quanto eu... Será que foi tudo uma alucinação? Estou ficando louco? O que está acontecendo em minha cabeça?

Mesmo assim eu aproveito bem a meia hora de direito que tenho sobre aquele ânus. 

Arrependido de toda aquela cena, ao término da meia hora eu enfio o cano de meu revolver em seu ânus e atiro, roubo a carteira dele e com o dinheiro pago o que ambos devíamos na taberna, aviso ao Billy Caolho que, caso requisitem meus serviços de jagunço, basta ligar para meu celular que eu venho correndo.

Desamarro meu mustang sem nome, monto, dou a partida, ando até a Highway que atravessa a cidade, estico todas as marchas e piso o mais fundo que minhas esporas alcançam, vou dar uma volta pelo deserto, tentar colocar meus pensamentos no lugar.

Um comentário:

  1. quando finalmente ele revela que seu mustang é uma moto...ou parece ser...ai sim o conto mostra sua faceta surreal..dando linhas a imaginação da provavel continuação!

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