O BURACO


Quando Clara morreu. A coisa piorou. Antes estávamos todos a espera da morte. Agora convivíamos com ela. Restava eu, o porco e Rex. Comecei a chamar o porco de Ronk. Não consegui ser mais criativo, mas precisava nomeá-lo. Sentia esta vontade.

Aquele buraco era horrível. A lama se acumulava sob nossos pés. Fedia. Ronk e Rex faziam suas necessidades ali mesmo. E às vezes comiam-na depois. Eu não ia aos pés já fazia seis dias e meio. Apenas mijava um canto. Clara também só havia mijado.

Agora já se passavam três dias que Clara nos deixara. Estendi seu corpo da maneira que pude. Ficou meio curvado, escorado numa das paredes do buraco. O buraco não era muito espaçoso.  Mantinha-a ali por três motivos: Primeiro: jogá-la para fora do buraco era impossível. Segundo: enterrá-la despenderia muita energia. E terceiro: seu corpo ali ajudavá-nos a nos aquecer. Nos amontoávamos junto ao seu corpo toda vez que a noite chegava. Fria. Triste. Desesperançosa.

O problema iria logo surgir. Eu sabia. A alternância incessante de calor e frio, acompanhados de chuva, iria piorar tudo. Clara iria apodrecer. O cheiro do chorume e de morte iria impregnar totalmente o buraco. Será que eu aguentaria?

Tinha que aguentar. Estávamos presos. E apesar de tudo era o lugar mais seguro. Lá fora as coisas estavam muito, muito piores. Ouvia a noite os berros. Desesperados. A água que a chuva trazia era encarnada. Cheirava a sangue.

A fome começa a apertar. Das doze maçãs que trazia comigo, restavam duas. A sede era saciada com a água suja que empoçava no buraco. Meus sentidos estavam confusos. Eu estava atordoado. O porco roncava. O cachorro latia baixo.

A lua já não aparecia, o sol por sua vez despontava: FORTE, QUENTE... ESTONTEANTE. A água borbulhava ao seu raiar. Meus pés queimavam. Minha visão enfraquecia.

O porco cheirava o corpo de Clara. O cachorro agonizava num canto. Tinha fome. Tínhamos fome. Dei metade da maçã pro porco. O cachorro não tinha o que comer.

Mas um dia se foi. Veio a noite. A CHUVA, os GEMIDOS e o SANGUE. Eu não aguentava. Tremia. Abraçava minhas pernas junto ao corpo. Encostado em Clara. TREMIA.

FOME. FOME. FRIO. MEDO. FOME

Olhei o corpo de Clara. Doce Clara. CARNE. Seria a salvação?

Poderia matar o porco. Depois o cachorro. Mas eles estavam vivos. Clara já estava morta. E eu já não acreditava em almas.                        

Não tive dúvidas. Iria fazer do corpo de Clara nosso alimento. No entanto não tinha forças. Estrebuchar a dentes seria trabalhoso demais. Capaz de morrer tentando de tão fatigado que estava. O corpo humano era forte e resistente. Pelo menos em relação a outro humano.   

O porco olhava Clara. Cheirava clara. Também estava com fome. Calmamente me aproximei. Enfiei um dedo no olho de Clara. Fucei feito um bicho. O sangue escorreu. Fino. Coagulado.

Ronk se aproximou. Peguei a maçã. Dei umas mordidas. Afinei-a um pouco. E introduzi-a próximo ao buraco do olho.  Ronk se aproximou mais. Gostava de maçãs. Mordeu a maçã. Logo iniciou uma desesperada vontade de comer. Salvar a vida. Arrancou um naco de carne do rosto de minha Clara. Eu observava.

Rex ao ver a cena, levantou-se rápido. Parecia ter recuperado as forças. Foi em direção ao corpo de Clara e abocanhou... O PORCO.

Não entendi o que via. O pobre animal, mesmo no estado lamentável e miserável que se encontrava, lembrava da dona. Tinha afeição por ela. Não entendia a morte. Mas sabia que devia proteger aquele corpo.

Proteger a dona.

Cravou os dentes no porco. Arrastou-o até um canto do buraco. Embora fosse um cão, sofreu um bocado. O suíno era grande e lutava para sobreviver. Jogava seu enorme corpo sobre rex.

Foi um embate terrível. Eu fiquei parado. Olhando. De repente o porco parou de se mexer. O sangue escorreu. Um buraco no pescoço.

Rex agora comia o porco. Contente. Cheguei perto. Falei com Rex. Para acalmá-lo.

Arranquei um pedaço do porco. Comi. Dividíamos eu e Rex o alimento. O sabor era estranho. Ora doce. Ora agridoce.

Devorávamos o porco. Esqueci-me do corpo de Clara. Do olho arrancado.

O dia chegou. A noite chegou. E assim foram-se três dias devorando o porco. Os pedaços estavam acabando. Eu tinha FEBRE. Estava numa linha tênue entre racionalidade e selvageria.

Olhamos o último pedaço. Um naco de carne da parte traseira. Fui pegá-lo. Rex também. Chutei meu cachorro.

Ele rosnou. Queria a carne. CHUTEI MAIS FORTE. MAIS FORTE. Ele saiu de perto. A carne era minha.

Fiquei ali. Sentado. ROENDO Ronk. OBSERVANDO Rex. Ele olhava Clara. Imaginei que desta vez iria esquecer que era sua dona.

Ele foi se aproximando, Cheirando as pernas de Clara. Parou entre elas. LAMBEU o SEXO de Clara. Achei estranho. Deixei prosseguir.

Levanto com a cabeça a saia de Clara. Minha menina estava de saia e sem calcinha. O porque disto não sabia. Não lembrava de muita coisa antes do buraco.

Rex prosseguiu. LAMBIA. LAMBIA a buceta de Clara. Eu terminava de comer a carne de Ronk.

Foi então que o cachorro se preparou. Agachou como pode. Encostou seu pênis canino na racha de minha menina.

NÂO. Minha menina NÂO. Eu a criara desde pequena. Não iria deixar um vira-lata FUDÊ-LA.    

Corri. Chutei Rex. Com RAIVA. Ele me atacou. Pulou em cima de mim. Caímos no chão.

Fui rápido. Cruzei minhas pernas em torno de seu pescoço. Pressionei forte.

Ele agonizava. Tentava me morder. Tentava se soltar. Fechei sua boca com as mãos. APERTAVA. Às vezes esmurrava a cara de Rex.

Ele parou. Estrebuchava "baixinho". Até que parou de vez.

Agora era só eu. Só eu e minha Clara. Olhei seu vestido levantado. Sua vagina a mostra. LAMBI. LAMBI como Rex fizera. O cheiro de SANGUE, de SEXO e de MORTE impregnava o BURACO.

Enfiei meu pau em Clara. Minha doce Clara. Só minha. SEMPRE. Ofegava sobre ela. Devia ter sido SEMPRE assim. Chupava seus seios. Enfiava um dedo em seu CU.

Estava no céu.

CLARA! CLARA! CLARA! ... Aaaaaaahhh!!!

GOZEI. Gozei na minha menina.

A noite chegou mais uma vez. Comecei a uivar. Um uivo meio gemido, meio berro.

Uivava para lua. Não a via, mas sabia que estava lá.

Era um uivo... TRISTE, VIOLENTO e MÓRBIDO.

Entendia os outros gemidos agora. Acho que lá fora havia muitos BURACOS.

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