Aquele foi um dia trágico. Lembro-me como se fosse hoje.
Naquela universidade meu jovem amigo John suicidou-se. Sabia que ele um dia
iria tirar a própria vida. Tinha tudo planejado. Disse-me ele que iria sucumbir
fazendo um test-drive em alguma moto super-potente ou algum carro estilizado. Seu plano consistia em um acidente. Entrar
debaixo de um caminhão. Seria assim com adrenalina e felicidade. Isso eu podia
entender.
Mas a cena que vi não foi esta. Era medíocre. Deprimente.
Um jovem transtornado
e enforcado. Ali em seu cubículo na casa de estudantes daquela universidade ele
jazia pendurado. Havia armado uma estrutura no teto para sustentar seu corpo de
forma a ficar como um pêndulo sem vida. (Embora não sei se haja pêndulos vivos)
No pequeno cubículo. O note de John estava aberto. Nele uma
página da internet não carregada. Eu já sabia o que era. Mas fui conferir. E
lia-se: O seguinte erro foi encontrado ao tentar recuperar a URL:
http://redtube.com/. Acesso
Negado. Access control configuration prevents your request from being allowed
at this time. Please contact your service provider if you feel this is
incorrect.
Como imaginava. Naquele tempo vários sites foram bloqueados
sem nosso consentimento. Por algum motivo decidiu-se que não podíamos acessar
sites com pornografia e outros assuntos julgados imorais ou bestialóides. Esqueceu-se
que na casa vivíamos. E viver vai muito além de estudar. Claro que o
comprometimento para com os estudos deveria ser mais acentuado, mas o lazer e o
“não fazer nada” nos são necessários.
Voltando a cena. Pensei sobre o suicídio. Na verdade sou a
favor dele, um homem pode decidir quando quer morrer. Cada um escolhe sua hora.
Ou espera pela surpresa da natureza. Mas o suicídio não deveria ser condenado.
Não é um erro, é apenas um desejo. É claro que há por ai muita gente
transtornada e que tira a vida sem querer tirar. E neste caso creio ser
impossível se arrepender e voltar atrás.
Mas dando mais uma volta. Prendemo-nos á nossa liberdade.
Aqui neste recinto onde moramos. Tomamos chimarrão a tarde. Falamos besteiras.
Contamos falsas histórias. Onde alguns escutam músicas medíocres. Outros buscam
fazer política, em prol de certos ideais. Outros apenas escutam boas músicas. E
aonde todos vão as aulas. Findamos manipulados por quem tem o poder.
O poder esta lá. Sempre esteve e infelizmente sempre vai estar.
Nas grandes torres é onde ele habita. E o que poderíamos fazer? Não muita
coisa. Mas marteladas naquela estrutura já seria um início. Eu até
ajudaria. A morte de meu caro amigo pode
não ter sido justificada por este fato. Outros fatores podem ter surgido. Mas
que este fato foi a gota d’água, isto tenho certeza.
Perco-me nestas palavras. Mas tenho que escatologicamente
descrever a cena com detalhes. Acho que ele suicidou-se próximo ao meio dia de
uma sexta feira. Eu fui a tarde lá. Iria convidá-lo para fumar um cachimbo e
tomar um café. Quem sabe combinar para a noite bebermos e irmos ás festas e
fracassar em nossas “trovas”.
E quando cheguei lá, estava ele. Pendurado. A calça de jeans
com o fecho aberto. O pênis para fora, meio ereto. John sempre fora meio
depravado. Confesso que talvez esta cena até lhe agradasse.
Mas no momento não tive muito que fazer. Evitei tocar no
corpo de John. Desviando-me alcancei o pacote de fumo de cachimbo, o meu havia
acabado e John jazia pendurado.
Liguei para os órgãos responsáveis por essas coisas. Tratei
de espalhar o caso para os mais chegados. E preparei o cachimbo. Quando os
homens de uniforme chegaram, estava eu fumando. Encheram-me de perguntas. Respondi todas possíveis. Outros vagabundos
apareceram. Alguns ficaram bem horrorizados. Algumas meninas choraram.
Eu deixava a fumaça sair. Alguém comentou que eu deveria
parar de fumar, John estava ali morto. Eu sabia disto. E uma coisa não
implicava na outra. Mas essas pessoas são sempre confusas.
Logo acabada a burocracia, fui beber. E bêbado fui ao
velório de John. Era o mínimo que podia fazer. Ele merecia que eu bebesse.
Bebi.
Ps: Tudo é mera coincidência, ou não.
Seria uma bela morte! Seria uma boa e bela morte... Vou realmente pensar na ideia de virar um mártir para liberarem o acesso a pornografia. Milagre ainda não terem bloqueado a Hot Fritola! -John
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