A lagartixa subia a parede naquele muquifo imundo. Eu acordava de
ressaca. E queria vomitar. E vomitei enquanto tomava banho. E voltei pra cama
tropeçando. E o mundo girava. As coisas são sempre assim.
Tudo que eu queria era água. E aquela bunda da noite anterior. Bela
bunda. E a água estava longe e a bunda também.
Malditos porres. Sinto uma fisgada no lado direito do tronco. Já me
acostumei com tudo isso. E já não importava mais nada. Procurei restos de
bebida pelo quarto. Achei uma garrafa pela metade. Acho que era gim. Ou
esperava que fosse. Sorvi um gole. Quase vomitei novamente. Fiquei estirado no
chão.
Não conseguia nem chegar na cama. Fiquei ali pensando na vida. Não havia
muito que pensar. Sempre a mesma baboseira. Sempre as mesmas conclusões fúteis.
Adormeci. Sonhei um sonho confuso. Quando entrei no banheiro. Um ser
estranho estava ali grudado no chão. Uma gelatina branca de lábios vermelhos.
Olhando-me. Não tive dúvidas. Fiquei de pau duro e enfiei naquela boca. Não
havia dentes. Uma maravilha. Fodi a boca gelatinosa até não puder mais.
Fiquei atordoado. O ser desmantelado no chão. Tateei a bebida. Encontrei-a. Sempre havia garrafas por aquela casa.
Acordei num canto do banheiro. Sem porra. Sem seres estranhos. Nem bocas vermelhas. Apenas a garrafa de gim. Eu. E o vômito mal cheiroso e ácido.
Senti-me leve e desprezível. Sorri e voltei a dormir. Esperando sonhar com aquela bunda. Com uma garrafa de bom vinho. Uma música boa e a boca gelatinosa e vermelha.
A fricção ininterrupta. A sucção perfeita. A superfície ideal. Gozei
exageradamente. Enchi a coisa gelatinosa de porra. Para minha surpresa ela
explodiu. A porra toda se espalhou pelo banheiro inteiro. O fedor grudou em
minhas narinas.
Fiquei atordoado. O ser desmantelado no chão. Tateei a bebida. Encontrei-a. Sempre havia garrafas por aquela casa.
Acordei num canto do banheiro. Sem porra. Sem seres estranhos. Nem bocas vermelhas. Apenas a garrafa de gim. Eu. E o vômito mal cheiroso e ácido.
Senti-me leve e desprezível. Sorri e voltei a dormir. Esperando sonhar com aquela bunda. Com uma garrafa de bom vinho. Uma música boa e a boca gelatinosa e vermelha.
Mas sonhos sempre são confusos. No meio de imagens insólitas e caras
estranhas surgiu papel e caneta. Eu escrevia no sonho. Lembro-me um pouco das
palavras manuscritas. Eram mais ou menos assim:
um nariz e uma vagina
meu nariz numa vagina
gosto daquele cheiro
depois molhos os lábios com cachaça
volto a dormir com a cabeça entre as rachas
sinto-me infantil e seguro
e sonho que sonho
já não sei escrever
enfio a caneta no cu do passarinho
ele pia e voa
fico sem caneta
penso em como escrever
lembro-me que já estou sem ideias
preciso de desventuras
e de uma bunda
Quando acordei mais uma vez. Pensei em escrever este poema. Mais minhas
mãos tremiam. Já não sabia o que havia sonhado e o que era real. Tinha remédios
para dormir na gaveta. Tomei uns dois ou três comprimidos. E um gole de alguma
bebida que os fez descer garganta abaixo.
Logo capotei. E meu pau continuava duro. Como se fosse um ser
independente de mim.
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