- Absurdo! Absurdo! Um filho meu mergulhado na volúpia meretrícia de
uma casa de buslescos lascivos!
A pele flácida solta sobre os ossos acompanhava em harmonia os
movimentos frenéticos de um dedo indicador gordo e acusador. Tão logo movia o
digito, vinha-lo logo atrás os nacos suspensos de pela gordurosa. À esquerda, em seguida a carne mole.
À
direta, em seguida a carne mole. Em pêndulo a coisa atingia seu limite,
esticada ao máximo voltava a descrever o arco adiposo.
- O que se ensina hoje!?
Tomou exasperado o lóbulo da orelha dum rapaz loiro e avermelhado de
vergonha. O sobrolho do repreendido naquelas rugas de garoto revoltado.
Querendo ao mesmo tempo livrar-se da culpa, querendo ao mesmo tempo inflar ante
aos impropérios do pai.
- Essas escolas que não mais descem o peso da mão da disciplina nas
fusas de moleques malcriados!
Puxou-lhe a orelha até o ponto da aflição, aquele em que você acha que
a coisa toda descolará da cabeça.
- Ai! Ai! Ai!
- Aiiiii!? Acaso ouviste bastante daquelas putas gemidos parecidos?
Vai-te ao quarto, ajoelha-te no milho, te agarra no terço e reza visando à
imagem de Jesus. Vê bem aqueles olhos
azuis, aflitos e sinceros, livres de pecado. Usa a dor do outro para aplacar a
própria e implore a Deus que te poupe dos martírios do inferno! Porque eu não o
pouparei da próxima... te castro,
garoto! Te castro! E poupo o útero da mulher desse seu sêmen imundo!
Filha e mãe. Ambas ali no canto com as cabeças baixas. Naquela posição
de gente acostumada a ouvir, com certos lapsos de franqueza e uns tantos outros
até de esperteza. A pequena fungando o nariz, com a cara enrugada duma velha,
quase chorando. A maior com olhar complacente. De olho na cólera do marido.
Esperando a hora de falar. Ele bufando e suando. Um bicho avesso ao pecado e à luxúria, um
daqueles caros pilares: madeira podre por dentro, folhas de ouro por fora.
- Não vai comer?
Enfiou o chapéu na cabeça. Passos largos até a porta. Virou-se com uma
pose de aristocrata, mãos na lapela do paletó de tuite:
- Hoje vou à casa do reverendo, implorar pela alma desse bastardo.
E lá foi... Implorar por outras coisas, um tanto mais substanciais...
- Reverendo, eu imploro. Faça esse último favor!
- Não posso – Olhou pr’um lado, olhou pr’outro - Não posso mais
continuar surrupiando – fez o sinal da cruz – o dinheiro da caixinha do dízimo!
- Mas aquelas belas ancas! Boas de adentrar! Só de pensar o sangue já
me falta nas veias, se é que o senhor entende...
- Entendo e não gosto. Ora! Veja se igreja é local para direcionar o
sangue a essas partes!
- Pois então devo contar... – o bolor de gordura, até então ajoelhado,
se levantou. Feições tomadas pelas sombras que fugiam dos vitrais parcialmente
trespassados pela luz exterior – Devo contar que o reverendo usa o dinheiro do
dízimo em noites orgiasticas no Cabaré 1001 Sonhos de Prazer?
- Tu és sujo homem! Tome seu quinhão!
- Sujo é aquele que peca sem buscar a purificação das santas missas de
domingo.
- Amém – falaram em uníssono antes de iniciar a marcha secreta rumo à
perdição dos costumes.
- Preciso ainda falar com franqueza com a dona do lugar.
- Ora, por quê? – Indagou o abatinado.
- Meu filho! Meu filho! – E desandou a falar. Mais palavras do que
passos. Menos escrúpulos do que hipocrisia. A típica equação social.
CONTINUA...
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