FETICHE


Muito cedo descobri que eu era diferente, que o que me fazia gozar não era muito excitante para as outras pessoas. Mas eu não me importo com isso.



Meu dia começou mal, acordei atrasado para o trabalho. Eu odeio o meu trabalho e, sinceramente, só não peço demissão porque não tenho mais nenhuma outra perspectiva de conseguir emprego e dependo dele para viver.

Arrumo-me depressa, deixo a cafeteira passando um café enquanto me visto. Termino de colocar o sapato e vou beber o café que está pronto, vou caminhando com a xícara em direção à porta até tropeçar e derrubar todo o café sobre minha camiseta branca.

Maldição.

Troco de camiseta o mais rápido possível. Desisti de tomar café. Na pressa eu esqueci a porta de casa aberta.

A caminho da parada de ônibus começa a chover, a chuva só parou depois que eu já estava dentro do ônibus.

Saio do ônibus lamentando a merda de minha vida, mas com a certeza de que nada pior pode acontecer hoje.

A parada de ônibus fica há menos de cem metros do local onde trabalho. Menos de cem metros e um passarinho resolve acertar meus cabelos com sua bazuca anal neste meio-tempo.

Acabo de chegar ao local onde trabalho: atrasado, com o peito queimado pela água quente do café, molhado e com cocô de passarinho na cabeça.

Na folga do almoço, comi uma torrada no barzinho da esquina, ao menos a garçonete pediu desculpas por terem queimado minha torrada. Queimei a língua com o café que acompanhou a torrada.

Meu expediente acaba cinco e meia, trabalhei até as sete a pedidos do meu chefe. Como se me obrigar a fazer tanta hora extra não bastasse para vingar-se, ele pede que eu vá até sua sala antes de ir embora e me dá uma notícia que combina com o resto do dia:

“Estamos cortando despesas, você está demitido”.

Vou para casa preocupado com o amanhã, embora tenha que acordar cedo para trabalhar amanhã; se eu trabalhasse até o final do mês ainda receberia o salário.

Ao chegar em casa noto que havia esquecido a porta de casa aberta, dava para ver da rua que a porta estava aberta e este erro não foi perdoado pelo destino. Minha televisão e meu notebook não estão mais em casa, felizmente notei falta apenas destes itens.

O dia foi horrível, só quero tomar um banho e dormir... Levo um choque no chuveiro. Estava indo deitar quando o telefone toca, era meu irmão mais velho avisando que nossa mãe está doente e teve que ficar no hospital, ela tem problemas cardíacos e ele acredita que ela não sobreviverá aos próximos dias.

Meu dia foi simplesmente horrível, uma série de pequenas catástrofes que culminam em minha demissão, ter sido roubado e a notícia de que minha mãe esta prestes a morrer.

Deito a cabeça no travesseiro, mas o sono não vem. Pensamentos ruins, preocupação, insônia. Minha cabeça torna-se a oficina do diabo enquanto viro-me de um lado para o outro.

E gozo... E gozo... Um orgasmo atrás do outro. O dia péssimo converte-se no maior prazer sexual que já senti em toda minha vida. É isso: Deitar a cabeça no travesseiro precisando dormir para acordar cedo no outro dia, mas além de não conseguir dormir, ficar revirando-se na cama com uma seqüência infindável de pensamentos negativos e preocupações... É isso que me dá prazer! Eis o meu fetiche.

Nenhum comentário:

Postar um comentário