O problema era que os anos não passavam rápido. E as pestes iam e vinham e destruíam tudo e
todos por ali. Menos ele e ela. Ele era alto, de cabelos desgrenhados e sujos.
Compridos, escuros. Olhos felinos e negros. Mãos grandes e costas largas. Ela
era quase da mesma altura que ele, poucos centímetros mais baixa. Cabelos
alaranjados e uma encorpada boca vermelha e olhos amendoados e verdes. Cintura
fina. Peitos que se escondiam nas mãos dele, mas não eram pequenos.
Eles não tinham muito a fazer. Estavam condenados a
existir. Pelo menos era assim que as coisas aconteciam e nada mudava. O lugar
era distante. E vivia em constante mudança. As casas eram abandonadas. Os que
não saiam a tempo morriam. Todas as doenças, pragas e pestes do mundo apareciam
por ali.
Isso acontecia de tempo
Não se sabia o que era. Tinha folhas de um verde muito
escuro. Um cheiro forte e nauseante. Faziam sopa das folhas e fritavam os
frutos. Os frutos. Os frutos eram amarronzados. Sempre disformes e tinham um
gosto amargo. Talvez ali estava o segredo da imortalidade deles. Mas não era só
isso. Só funcionava ali e com eles. Foi assim que seus antepassados foram
morrendo. Tentando sair dali. Tentando não comer o fruto. Mas provavelmente
havia uma propriedade viciante na planta.
Todos que ali chegavam não conseguiam comer o terrível
vegetal. E sucumbiam. Com fome e dores por todo corpo. Cada um acabava por ter
desencadeado no seu corpo uma doença própria para si. Se numa casa o pai
adoecesse com caxumba, a mãe adoecia com outra coisa, como lepra, e o filho com
outra, como gangrena.
Era assim que a vida se dava por ali. E não havia
reza, mandinga, Cristo ou Diabo que mudassem as coisas.
Além de tudo isso. Eles tinham uma necessidade
constante de trepar. Fornicar. E eram belos nessa arte. Ele a tomava,
enlaçava-a em seus braços. Apertava-a contra a parede. Subia sua saia. Arfava
em seu pescoço. Ela sussurrava gemidos. Arranhava as costas dele. E acariciava
seu pau.
E a coisas toda ia prosseguindo. Caíam na cama. No
chão. No banhado. Onde estivessem. E como numa luta coreografada disputavam o
prazer.
Ela subia nele. Cavalgava feito uma amazona. Fechava
os olhos e gemia, Ele então a derrubava. Virava-a de costas e metia fundo seu
falo na delicada vagina dela. Ela gemia mais alto. Gritos agudos. Ele arfava em
cima dela. E seus suores se misturavam.
Ela se desvencilhava. Virava de frente. Fugia do pênis
dele. Ele a puxava de volta. Enfiava os dedos em sua buceta. E lambia sua
vagina como se fosse a última coisa que iria fazer na vida. E pressionava seu
clitóris com a mão, com a boca, com os dentes, com a língua. Ela então pedia
por seu pênis.
Ele metia mais um pouco. E depois subia. Roçava em
seus peitos. Ela o abocanhava com sua boca carnuda. E sugava tudo que podia.
Ele gosava sobre ela. Sobre seu corpo. E sucumbia. Apertando-a. Sufucando-a. E
ficavam ali. Grudados. Unidos pelo sexo e pela certeza de que nada mais podiam
fazer. Ali consagravam a única coisa pura, boa e prazerosa que lhes era
permitido.
Depois vinha a
tragédia. Ela ficaria grávida. O filho nasceria aparentemente sadio. Então
teria ataques de convulsão. Febres terríveis. E vomitaria sangue. E para não
vê-lo penar, ele o mataria. E seria mais uma cova. Mais energia jogada na terra
para sustentar as plantas verde-escuras que por sua vez sustentavam eles e a
sua desgraça.
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