NOS CONFINS DA TERRA PROMETIDA

O problema era que os anos não passavam rápido.  E as pestes iam e vinham e destruíam tudo e todos por ali. Menos ele e ela. Ele era alto, de cabelos desgrenhados e sujos. Compridos, escuros. Olhos felinos e negros. Mãos grandes e costas largas. Ela era quase da mesma altura que ele, poucos centímetros mais baixa. Cabelos alaranjados e uma encorpada boca vermelha e olhos amendoados e verdes. Cintura fina. Peitos que se escondiam nas mãos dele, mas não eram pequenos.

Eles não tinham muito a fazer. Estavam condenados a existir. Pelo menos era assim que as coisas aconteciam e nada mudava. O lugar era distante. E vivia em constante mudança. As casas eram abandonadas. Os que não saiam a tempo morriam. Todas as doenças, pragas e pestes do mundo apareciam por ali.

Isso acontecia de tempo em tempo. Mais ou menos de seis em seis meses. Eles não usavam e nem se importavam com o calendário. Sabiam que a coisa iria acontecer. Vinha sempre com o vento empoeirado do norte. Ou pelos menos do lugar que eles denominaram como norte. A comida era pouca. O milho, o feijão e a mandioca plantados raramente sobreviviam. Apenas uma cultivar estranha que os primeiros de sua raça plantaram, naquele chão crescia.

Não se sabia o que era. Tinha folhas de um verde muito escuro. Um cheiro forte e nauseante. Faziam sopa das folhas e fritavam os frutos. Os frutos. Os frutos eram amarronzados. Sempre disformes e tinham um gosto amargo. Talvez ali estava o segredo da imortalidade deles. Mas não era só isso. Só funcionava ali e com eles. Foi assim que seus antepassados foram morrendo. Tentando sair dali. Tentando não comer o fruto. Mas provavelmente havia uma propriedade viciante na planta.

Todos que ali chegavam não conseguiam comer o terrível vegetal. E sucumbiam. Com fome e dores por todo corpo. Cada um acabava por ter desencadeado no seu corpo uma doença própria para si. Se numa casa o pai adoecesse com caxumba, a mãe adoecia com outra coisa, como lepra, e o filho com outra, como gangrena.

Era assim que a vida se dava por ali. E não havia reza, mandinga, Cristo ou Diabo que mudassem as coisas.

Além de tudo isso. Eles tinham uma necessidade constante de trepar. Fornicar. E eram belos nessa arte. Ele a tomava, enlaçava-a em seus braços. Apertava-a contra a parede. Subia sua saia. Arfava em seu pescoço. Ela sussurrava gemidos. Arranhava as costas dele. E acariciava seu pau.

E a coisas toda ia prosseguindo. Caíam na cama. No chão. No banhado. Onde estivessem. E como numa luta coreografada disputavam o prazer.

Ela subia nele. Cavalgava feito uma amazona. Fechava os olhos e gemia, Ele então a derrubava. Virava-a de costas e metia fundo seu falo na delicada vagina dela. Ela gemia mais alto. Gritos agudos. Ele arfava em cima dela. E seus suores se misturavam.

Ela se desvencilhava. Virava de frente. Fugia do pênis dele. Ele a puxava de volta. Enfiava os dedos em sua buceta. E lambia sua vagina como se fosse a última coisa que iria fazer na vida. E pressionava seu clitóris com a mão, com a boca, com os dentes, com a língua. Ela então pedia por seu pênis.

Ele metia mais um pouco. E depois subia. Roçava em seus peitos. Ela o abocanhava com sua boca carnuda. E sugava tudo que podia. Ele gosava sobre ela. Sobre seu corpo. E sucumbia. Apertando-a. Sufucando-a. E ficavam ali. Grudados. Unidos pelo sexo e pela certeza de que nada mais podiam fazer. Ali consagravam a única coisa pura, boa e prazerosa que lhes era permitido.


Depois vinha a tragédia. Ela ficaria grávida. O filho nasceria aparentemente sadio. Então teria ataques de convulsão. Febres terríveis. E vomitaria sangue. E para não vê-lo penar, ele o mataria. E seria mais uma cova. Mais energia jogada na terra para sustentar as plantas verde-escuras que por sua vez sustentavam eles e a sua desgraça.

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