Trabalhe, transe e morra! Só não se esqueça de se masturbar pelo
caminho, da bruma ensangue no olho coroado, dos gozos postergados de quarta-feira,
e nem da fantasia acalentada. Sem o vácuo do passado, sem o fogo do presente,
sem a luz que se projeta no horizonte, a noite desce e irriga os sexos, que
afloram de verdades submersas paridas das frustrações do fim, tão somente para
afundar na superfície da vida simulada.
MAIS MASTURBAÇÃO E PENSAMENTOS IMPERFEITOS
Nas divagações melancólicas e vazias, e ai ressalvamos que mesmo que a melancolia implicasse em alguma coisa, nesse caso, era nada, era leve e se dissolvia no ar, e por vezes era sólida e pesava sem pesar.
E o ser, oriundo das incertezas do nada, permanecia estático
ceifando-se a própria vida, numa torpe embriaguez não alcoólica, apenas
contemplativa.
E havia uma coisa que fazia pulsar sangue em suas entranhas
secas: sexo. Mas não pagava por sexo, nem se aventurava
mais em corridas e competições atrás de tal prazer mundano, saciava-se
frequentemente consigo mesmo. A melindrosa, satisfatória, egocêntrica, simples
e magnífica Masturbação.
Ditos e não ditos, era só isso que fazia sua existência, por gosto, na
terra, outras feitas eram só de praxe e necessidade. Fosse como fosse, nada o
incomodava, desde que existisse um friccional movimento de vai e vem de sua
mão, e um intervalo desejado por si mesmo entre o movimento e o gozo. Demorado,
rápido, violento, pacífico, bom ou ruim.
TRIÂNGULO DE 90º
O primeiro tapa saltou-se com a mão direita, de
luvas, aberto e fechado, n’outra mão eu segurava com firmeza uma garrafa de
vinho, não queria largar aquilo, realmente não queria, eu sabia que no momento
em que ela saísse do anelo dos meus dedos, aquela esquerda ciumenta iria pular
enraivecida, em frenesi completo, no rosto macio dela, dali para frente seria
somente selvageria, aquela coisa qualquer que mantemos presa por uma corrente
de racionalidade, que alimentamos de frustração, problemas familiares, passado
oculto, restos de fast food e
ex-namoradas.
Eu sabia que era assim, havia
passado por isso com um trio escurecido numa noite caucasiana. Daquela vez não
era vinho, e sim conhaque, meia garrafa de Dreyer, na época em que essa bebida podia
ser comprada. Os mosqueteiros da coabe cercaram-me, exigiram meu sangue, não
quis dá-lo, não larguei aquela maldita garrafa, quase que senti minha mão sendo
partido pelo vidro apertado com animosidade, eu sabia que não podia largar a
garrafa, ou tudo iria virar selvageria, mais alimento pra’quele ser cercado de
comida.
O AMANTE E A PUTA
Que seios deliciosos!” – repito freneticamente em meus pensamentos. É como se eu pudesse vê-los...
Desço as escadas e caminho até a frente do prédio, ascendo mais um cigarro. Lá em cima já está tudo pronto, coloquei o colchão no chão, preparei uma música adequada... Um velho abajur, coberto por um pano verde, compõe a iluminação do quarto.
Olho novamente para o celular, são 17 horas. A chance de encontrá-la vai das 17 às 18h. É o período em que ela pode escapar do marido sem levantar suspeitas. Deslizo meu lábios pelos seus seios, chupo seus mamilos como se deles emanasse o néctar da vida eterna, desço deslizando meus lábios até sua cintura com pequenas mordidas e vislumbro o éden depilado... E o cigarro acaba de queimar meus dedos, eu estava perdido em mais um devaneio. Aperto meu pau sobre a calça.
17h20min. Ascendo mais um cigarro, reparo que estou tenso. Ela não é a única garota com a qual transo, na verdade não posso reclamar de minha vida sexual, mas com ela é diferente, com ela é ardente. Ela é casada, gosta do marido e nós mal temos contato, apenas às vezes, nas quartas, das 17 às 18, ela me liga avisando
que virá e eu sei como devo recebê-la.
EXCERTOS DE UM DIÁRIO – MINH’ALMA JOVEM E VELHA
Não fosse essa vontade ferrenha de chupar um grelinho, minh'alma estaria mais morta do que já está.
Salva-me? É isso que eu pedia a todas as mulheres que
fizeram sexo comigo, nem todas, eu exagero, algumas eram estritamente sexo. Mas
é o que eu peço sempre que faço sexo. Quando me masturbo é o que eu peço a
minha imaginação: salva-me.
A fumaça do palheiro arde em meus olhos. Os gatos me
olham e não dizem nada. E eu digo salvem-me! Mas os gatos não dizem nada. Mas me
salvam parados com a sua beleza contemplativa. E a fumaça salva. E, no dia da
ressaca, o café salva. E alguém me dá um copo de vinho. Um copo, apenas um, não
me salvará.
Rabisco desenhos na parede. Isso me salva. E penso em masturbar-me.
Mas não encontro um vídeo que sirva às minhas vontades sexuais. E deixo a
masturbação para outro dia. Talvez amanhã.
No tilintar da aurora, vai-se indo o sol. E eu penso:
Hasta sol! E ele sorri desavergonhadamente e ofende-me com uma palavra
qualquer. E fico na esperança de que chegue logo o outro dia e que acabe logo,
tão rápido quanto chegue.
FANTASIA DA SINGULARIDADE
As pessoas aproximam-se pala similaridade, aquela
conversa que alguns e algumas gostam de vomitar, aquela coisa sobre “gostar de
pessoas estranhas ou peculiares ou excêntricas”, isso é outra fantasia, ou
melhor, outro reboco de hipocrisia morta e apodrecida; todos fogem do que não é
igual, daquilo que transpira diferença, se assim não fosse, todos andariam
abraçados com aqueles tipos estranhos que vêm pedir cigarros na rua, ou
beijariam as velhas sujas que mergulham nos contêineres de lixo das cidades urinadas.
Afinal, do que serve querer o que não é diferente? Absolutamente nada,
do que serve alguém que é igual a mim? O estranhamento é o prazer máximo, o
estranhamento ativa os “locis
transcendentais da alma”, sem o estranhamento, acabamos por transar com nós
mesmos. Todavia, a similaridade, a fantasia enlatada em seres programados para
a imitação, grita e estoura os ouvidos com sua voz esganiçada, e nós ouvimo-la
sempre e nós repetimos sempre: “sou diferente”; “sou estranho”. Porque a
singularidade também reina.
BRASILEIREI
Gozei. Virei. Dormi.
Acordei. Levantei. Tomei.
Distraí. Atrasei. Corri.
Cheguei. Trabalhei. Trabalhei.
Comi. Trabalhei. Obedeci.
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