MORCEGONA


Sou só uma adolescente estúpida. O duro dessa droga é saber que sou estúpida. Conservo todas as fantasias universais das menininhas “rockers”: idolatro os ídolos do Rock; acho cabeludos drogados o máximo; visto-me como uma mamífera voadora e penso ser imune ao Tempo. Na verdade já passei dos quarenta e tento de todas as maneiras voltar aos velhos tempos...

Hoje resolvi me enfiar num antro de jovens, uma festinha de Rock entupida com bandas com vocalistas que não sabem nem a própria língua e se aventuram em cantar noutro idioma. Bem... Eu sempre acabo me conformando com esses detalhes, afinal, o meu objetivo é um mancebo cabeludo. Seja como for, a bebida sempre acaba por esconder os defeitos, por isso busco sempre os que têm um copo na mão.

Um me chama a atenção: conversa com um amigo; uma mão segura o copo de cerveja, a outra está largada ao lado da cintura, o polegar introduzido na calça jeans-azul-esfarrapada obriga o braço a dobrar-se, fazendo o bíceps tencionar-se; a camiseta, como a da maioria, é preta e colada ao corpo; um colete com adornos estilo Rocker ajuda a destacar os braços malhados; a calça... ah! A calça! Acompanha o corpo de perto, pode-se ver o contorno do pênis...

Não sei, sinto-me envergonhada às vezes, não passa dum moleque querendo mostrar ser o que não é. Exibindo-se como em um leilão de gado... Deixando a pélvis levemente a frente do resto do corpo como um aviso às garotas: “Hei! Vejam o meu pênis! Ele é o maior da festa”... Uma atitude animalesca repetida por todos os garotões da boate, por todos esses lindos e jovens machos afoitos por sexo.

- Oi.

Olhos. Bebida. Escuridão. Barulho. Prazer.

- Que apartamento bonito o seu.

Ele começa a me agarrar. Em meio à fricção dos nossos corpos replica o meu comentário, já nem sei o que disse, nem o que ouvi. Só o que percebo é que estou de quatro, as mãos dele (qual era o nome mesmo?) agarram com firmeza a minha cintura. Os homens sempre me colocam nessa posição, será que sou feia? Será que não gostam do meu rosto? Minhas dúvidas vão surgindo e sumindo solidárias aos avanços do meu homem da noite, e algumas lembranças também...

Lembro de quando era virgem, faz tempo, mas lembro. De como NÃO tive medo e nem senti nada na primeira vez. O primeiro toque do primeiro pênis causou-se tanto prazer como o sentido por uma pessoa sem tato. O meu problema persistiu por muitos anos. Sempre transava, mas nada sentia, transava por convenção social. Da mesma forma que me relaciono com os outros por convenção, que visito os meus pais por convenção, que mantenho um perfil no site da moda por convenção. Minha vida sempre foi isso: um mero teatro medíocre, tão medíocre quanto o praticado dia-a-dia pelo resto da população mundial.

"- O que foi? Quer parar.

Ele me agarrou pelos cabelos, o rosto suado esfregou-se ao meu.

- Claro que não! Continua!"

Mas havia uma diferença entre mim e o resto da população mundial: eu não estava conformada com todos os problemas, um deles me incomodava muito e eu estava disposta a solucioná-lo, eu estava disposta a sentir prazer sexual. Minha primeira e única tentativa deu-se no Google, isso mesmo! Nesse site: “http://www.canalkids.com.br/cultura/historia/vocesabia/cult_canibalismo.htm”. Como esses aborígines ensinavam, bastava ingerir a parte certa do corpo do inimigo para dele absorver sua essência, sua força. A potência dos homens vem do seu órgão sexual, então se eu o assimilasse a mim, se eu o devorasse, de certo adquiria sua sensibilidade ao prazer. Foi o que fiz.

Minha primeira vítima foi meu irmão. Molestador nojento. Eu sempre resisti às investidas dele, um dia, contudo, aceitei as carícias. Combinei num lugar isolado e, claro, ele estava lá na hora marcada. Peguei-o de surpresa: saltei de trás de uma moita e espirrei o cérebro dele para fora do crânio com uma pedra que eu mal conseguia erguer.
"- Ah! Nossa! Vai, continua... Aahh!!!

- Vira!

Virei."

Aquele cérebro espalhado ali. Até gostei da cena. Era um estuprador de merda a menos no mundo. Havia se safado de uma condenação por causa de papai. Dessa vez a juíza não tinha como ser corrompida com um pouco de dinheiro. Arranquei o pênis do desgraçado com uma faca comprada na semana anterior numa cidade vizinha. Não queria levantar suspeitas por aqui. No fim o plano saiu melhor que o esperado: atribuíram a morte a um ex-namorado de uma das vítimas sexuais do meu irmãzinho.

Preparei o falo. Comi como um salsichão de churrasco, apesar de passar bem longe da necessidade do emprego do aumentativo. Vai ver que por causa dessa frustração tornou-se o lixo que era. Após o repasto liguei para um tipinho que me cantava desde o primário. 

Deu certo. Senti prazer. Adorei a sensação. Passei a transar com todo mundo. Não demorou em a fama de vaca espalhar-se pela região. Para o meu o pai o ápice foi a minha tentativa em transar com ele. Expulsou-me de casa. Não me importei, segui o meu caminho fazendo e ganhando dinheiro com o meu novo vício. Mas a intensidade das transas foi-se diluindo, a sensação boa do pênis roçando as paredes e o clitóris da minha vagina minguou até a apatia total. Tornei-me seca, mas sabia como curar minha sede!

Usei do conhecimento dos Tupis mais uma vez, então o prazer cessou após um tempo, então tive que recorrer à fórmula novamente, novamente e novamente. Quando mais precisava, mais rapidamente o efeito cessava. Tornei-me uma viciada. Já nem sei quantos pênis comi, quantas vezes abri as pernas para alguém ou alguma coisa me penetrar. Só sei que estou nessa vida há trinta anos. Que os calos da minha buceta sirvam de prova!
"- Vai! Vai!! Mais forte! Aahhha!!!

- Tu gosto disso? Não gosta, safada! Tenho uma surpresinha pra ti depois!

- Não!! Ah! Eu e que tenho uma pra ti, gostoso! Vai!! Não para!!!"

Mal sabia ela que o garanhão da noite padecia da mesma patologia e que a cura havia lhe sido apontado por certo site que a Morcegona conhecia muito bem.    

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